Começar de novo...
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 29 de março de 2012
Paula Barbosa Ocanha <br> <br> Reportagem Local
Começa com uma leve inquietação e muitos questionamentos. Logo o assunto vira ideia fixa na sua cabeça, mas ainda assim você se pergunta: será que vou dar conta? São várias as razões que levam uma mulher - após anos de trabalho em uma profissão, ou mesmo não trabalhando, filhos crescidos e vida familiar estável - a voltar para a sala de aula. As opções incluem a busca por um sonho, realização profissional ou a necessidade de capacitação e atualização acadêmica.
Segundo o Censo da Educação Superior de 2010, divulgado em outubro do ano passado pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), 25% dos alunos matriculados em cursos de graduação brasileiros possuem mais de 29 anos. No ensino a distância a média de idade é ainda maior - cerca de metade dos alunos têm até 32 anos e 25% mais de 40 anos. Segundo a mesma pesquisa, 57% das matrículas de 2010 foram feitas por mulheres.
A psicóloga comportamental Bruna Sanches Aldinucci alerta que a decisão de voltar a estudar deve estar bem amparada para não gerar conflitos ou causar frustrações. É necessário, segundo ela, que se analise o custo-benefício dessa escolha. ''O comportamento da mulher de voltar a estudar depois de casada e com filhos revela, na maior parte das vezes, a busca do que ela julga importante para ela. Essa nova condição, porém, impõe demandas até então inexistentes. Com isso, novas habilidades deverão ser desenvolvidas para lidar com o contexto acadêmico e familiar.''
Em termos gerais, uma mulher mais madura, com família e filhos, que resolve voltar - ou mesmo iniciar - uma vida acadêmica, se vê numa situação em que precisa dar conta de tarefas de contextos diferentes e incompatíveis, o que normalmente gera conflito. ''Por exemplo, o filho adoeceu e precisa levá-lo ao médico, mas o horário da consulta coincide com a apresentação de um seminário na universidade. É como se a mulher, com suas duas mãos, tivesse de empurrar quatro carrinhos de mercado. Nesses casos, há que se resolver cada situação no momento presente, avaliar prioridades e ter consciência de que muitas vezes será necessário abrir mão de uma delas.''
Bruna ressalta que não há um motivo apenas que leve uma mulher a tomar essa decisão, mas se ela for feita dentro de um campo do que é possível, e não só do que é ideal, há mais chances de dar certo. ''Vamos supor que seja um sonho cursar gastronomia, e que o curso ideal seja francês. Você tem condições de abandonar sua família para estudar na França? Você tem condições financeiras? Obviamente o custo dessa escolha, não só financeiro mas emocional, passa a ser muito alto. Então se esse é seu sonho, busque uma opção dentro do campo do possível que atinja seus desejos e objetivos. Assim é mais fácil acertar.''
Porém, se todas as variáveis forem devidamente analisadas e houver desejo de mudança, a escolha pode trazer benefícios. ''Ter consciência das suas razões traz segurança e legitimidade às atividades escolares e assim as críticas passam a não ter efeito sobre a mulher, porque ela sabe o que está fazendo. Lutando pelos seus interesses e valores de maneira ética, esta mulher representará um bom exemplo para os seus filhos sobre a importância de ir à busca dos seus valores, apesar das dificuldades'', conclui a psicóloga.