Este ano, o mundo fashion produziu polêmicas envolvendo o universo infantil, gerando discussões sobre a erotização e adultização precoce. Um ensaio publicado na Vogue Paris trouxe mais do que lindas e luxuosas fotos de moda. Ao invés de supermodelos, meninas com menos de dez anos de idade, maquiadas, com salto alto, jóias e poses ousadas. No mês passado, na semana de moda de Nova Yorque, a miss mirim Eden Wood causou polêmica ao desfilar de maneira provocante para uma grife infantil. Já a Disney colocou à venda uma coleção de sutiãs com enchimento para meninas de quatro a seis anos, comercializada em vários países, inclusive no Brasil. Até que ponto isso pode ser considerado apenas uma brincadeira de criança?
"Não são casos banais, são comportamentos incentivados pelo mercado e pela mídia, e absorvidos pela sociedade de forma assustadora", explica Larissa Amaral, psicóloga londrinense especializada na área familiar e infantil. "Esse ‘bombardeio’ midiático é só o reflexo de uma situação real: as meninas adquirindo comportamento de adultos precocemente; hoje elas se vestem, se maquiam, fazem dieta e se preocupam exageradamente com a aparência", acrescenta. O motivo? "Elas trocaram desenhos por novelas e seriados, e seus ídolos já não são personagens de sua idade, e sim adultos" aponta.
Vestir roupas de gente grande sempre foi algo normal na infância, até como diversão, porém Larissa questiona os limites dessa brincadeira. "E quando um fabricante coloca no mercado um sutiã com enchimento para meninas com menos de 6 anos, é preciso questionar e combater esse comportamento adulto precoce", argumenta a psicóloga.
Segundo ela, essa atitude antecipa uma situação desnecessária. "É deslocar a criança da fase que ela deveria viver e jogá-la para um universo adulto, o que é extremamente prejudicial", afirma. "Na fase de latência, dos 7 aos 12 anos, elas precisam brincar, vivenciar os momentos lúdicos da idade. É o momento de aprender e usar a imaginação para o desenvolvimento natural da criança". Quando essas fases não são respeitadas, de acordo com a especialista, as consequências podem ser graves. "Munir uma criança de sexualidade, através de maquiagem ou roupas de mulher, é lhe dar um poder que ela não sabe usar e colocá-la em situações que ela não saberá como se esquivar. E o resultado disso pode trazer marcas psíquicas irreversíveis como sexualidade precoce, atitudes problemáticas no futuro, entre outras."
No momento atual é impossível proibir alguns tipos de comportamento na vida da criança, explica a psicóloga Larissa Amaral, entretanto dialogar é preciso. "Tudo tem um limite, pois o exagero faz mal; por isso converse com a sua filha e, ao invés de um esmalte ou uma roupa provocante, opte por algo que tenha a ver com o universo dela", reflete. "A criança terá condições de entender, o que ela talvez não consiga discernir é o apelo sexual embutido em determinado produto ou comportamento ditado pela publicidade", explica a psicóloga.


O outro lado

Roberta Paes, consultora de moda de São Paulo, especializada no universo infantil, também desaprova, mas equilibra a discussão. "O mundo da moda não pode fugir das tendências que geralmente surgem do universo adulto para o infantil, porém, acredito que tudo pode ser usado com bom senso e traduzido para o guarda-roupa mirim", explica.
Ela aponta um exemplo dentro de uma coleção produzida pela grife paulistana Cris Barros, na qual a filha podia vestir a mesma roupa da mãe, porém, com modelagem infantil. "Nessa coleção, o equilíbrio prevaleceu. A marca tirou os decotes, a silhueta justa e manteve só alguns detalhes, como o mesmo tecido e as estampas, para dar a ideia que elas estavam se vestindo igual", conta. "Roupa infantil também pode seguir tendências, não podemos fugir disso, mas com conforto e adequada à idade.



Vaidade na medida certa

Contrariando a tendência, existe uma turminha que tem um guarda-roupa bastante estiloso, mas sem perder a essência infantil. "Criança tem que se vestir como criança", comenta Dieane Maria Januário, mãe de Giovanna, 8 anos. A pequena é supervaidosa, não dispensa vestidos e saias, mas sabe equilibrar tudo isso com a ajuda da mãe. "Ela gosta de acompanhar as tendências de moda, mas sempre escolhe opções delicadas, quando não, a orientamos, a fim de preservar o seu estilo de menina", revela a mãe.
O mesmo acontece com Maria Clara Francisco, 5 anos. "Ela adora opinar na hora da compra, não sai da frente do espelho e se preocupa se os cabelos estão arrumados na hora de sair", afirma o pai da pequena, o assistente administrativo Michel de Oliveira. "Porém, ela adora roupas coloridas e tudo o que envolve o universo infantil." (M.N)

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