Ansiedade e tristeza também afetam cães

É comum que os filhotes chorem um pouco e destruam alguns objetos em casa, principalmente, quando os donos estão fora. Mas, quando este comportamento se torna excessivo e perdura mesmo na idade adulta, é importante que o animal passe pela avaliação de um médico veterinário. Ele pode estar sofrendo da Síndrome da Ansiedade da Separação.
De acordo com a professora do departamento de Clínicas Veterinárias da Universidade Estadual de Londrina, Patrícia Mendes Pereira, a síndrome é um distúrbio comportamental que, geralmente, aparece em cães que são hipervinculados com os guardiões. ''Estes animais sofrem quando o dono sai de casa. Não importa se eles ficaram longe do guardião por cinco minutos ou por alguns dias, o sofrimento é o mesmo'', explica.
O comportamento destes animais pode incluir vários sintomas, entre eles latidos e uivos, destruição dos objetos que o animal encontra, lambeduras em excesso, depressão e até automutilação. ''Para que a síndrome seja diagnosticada não basta que o animal tenha apenas um comportamento obsessivo, ele geralmente tem uma série de alterações para se enquadrar neste caso'', afirma.
A veterinária acrescenta que a síndrome geralmente aparece em animais com cerca de seis meses de idade que apresentam um vínculo grande com seus guardiões, mas também pode ser detectada em animais idosos, que se tornam mais dependentes dos donos na velhice.
O desenvolvimento da Síndrome da Ansiedade da Separação é mais comum em animais de pequeno porte. A veterinária afirma que a maioria dos distúrbios comportamentais apresentados pelo bicho tem origem no comportamento do guardião. ''Os cães vivem em matilha e são muito carentes. Quanto mais dependente do dono o animal for, maiores as chances dele apresentar este tipo de problema. Aquele dono que leva o filhote consigo todas as vezes que sai de casa vai fazer com que o animal sofra quando for preciso ficar em casa sozinho'', orienta. Patrícia alerta que nestes casos a vida do bicho passa a ser limitada à espera pelo guardião.
Em alguns casos, o animal é mais apegado a uma pessoa da família e os sintomas da síndrome aparecem mesmo quando há outras pessoas em casa. Por este motivo, a veterinária diz que é importante que as pessoas dividam os cuidados com o animal, para que ele tenha vínculo com todos. ''Para evitar este tipo de situação, o animal deve ter um canto onde ele se sinta seguro, de preferência que tenha brinquedos e é importante que o filhote seja socializado e que não tenha medo de trovão, passeios e outros fatores'', afirma.
Apesar das dicas, Patrícia acrescenta que a melhor maneira de prevenir a ansiedade da separação é tendo dois animais no mesmo ambiente. ''Se a pessoa tiver espaço e condições, recomendo que sejam comprados ou adotados dois animais de uma vez, de preferência com idades semelhantes'', destaca.
Para ela, outra saída pode ser deixar brinquedos espalhados pela casa para que o cachorro possa se distrair enquanto o dono está fora. ''É ideal que o animal seja acostumado desde filhote a ficar sozinho de vez em quando. Manter uma rotina também é importante, eles se adaptam bem aos horários'', afirma.
A veterinária ressalta que diante de qualquer um dos sintomas da síndrome é importante buscar orientação de um médico veterinário. ''Há várias doenças que levam à automutilação. Por isso, é importante fazer uma avaliação clínica antes de diagnosticar um distúrbio comportamental''. Segundo ela, existem medicamentos que auxiliam no controle da ansiedade exagerada. ''O primeiro passo do tratamento é mudar o comportamento e os hábitos tanto do animal quanto do guardião. Se a alteração não apresentar um bom resultado, nós indicamos medicamentos fitoterápicos. Em alguns casos é preciso usar medicamentos controlados'', explica. Patrícia destaca que é responsabilidade do guardião buscar tratamento para os animais que apresentam este quadro, até porque, em algumas situações, o excesso de latidos interfere diretamente na vida dos vizinhos.

Entre os sintomas estão latidos e uivos, destruição de objetos e até automutilação

Leia a reportagem completa em conteúdo exclusivo para assinantes da FOLHA.

- 'Eles ficavam esperando na porta do banheiro'