Acerte no brinquedo
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quinta-feira, 04 de outubro de 2012
Paula Costa Bonini <br> Reportagem Local
Com a aproximação do Dia das Crianças, começa o vaivém dos pais para definir o presente dos filhos. O mercado oferece um turbilhão de ideias, que vão desde brinquedos, livros, jogos até roupas e acessórios infantis. Com tantas opções, os adultos se veem muitas vezes em uma verdadeira ''saia justa''. Como, afinal, acertar na escolha e agradar as crianças?
A pedagoga Cleide Vitor Mussini Batista, pós-doutora em psicologia e coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas do Brincar, Infância e Diferentes Contextos da Universidade Estadual de Londrina (UEL), visitou duas lojas infantis em Londrina com a reportagem da FOLHA: Ciranda e Ri Happy. Circulando pelos corredores, ela explicou que o brincar segue um percurso e que os interesses e as necessidades variam nas diferentes fases da infância, o que reflete diretamente na escolha dos presentes.
Ela destaca que nem sempre o brinquedo deve seguir a idade cronológica da criança. ''A indicação da faixa etária que aparece nas caixas dos brinquedos deve servir como um orientador, mas não precisa ser necessariamente obedecida. É preciso considerar as questões subjetivas de cada criança'', pontua.
Cleide alerta que muitos pais tentam, devido ao ritmo da vida moderna, suprir suas ausências com bens materiais. ''Isso é preocupante. Muitas vezes o que a criança precisa é de atenção'', destaca, acrescentando que é preciso impor limites e não presentear os filhos de forma indiscriminada.
Apesar da importância de considerar a subjetividade da criança, a pós-doutora esclarece que cada faixa etária tem suas especificidades. ''De zero a dois anos, por exemplo, a criança está na fase oral e coloca tudo na boca. Por isso, é importante se preocupar com o material do produto. É interessante também que ela tenha contato com diferentes texturas, cores, odores e sons.''
De acordo com ela, os livros de capa dura e de plástico são os indicados para esta fase. ''É preciso iniciar a contação de histórias desde cedo. O livro deve ser encarado como um brinquedo e fazer parte da vida da criança em todas as fases. É interessante também colocá-la sempre em contato com a música, o que possibilita a ampliação do vocabulário'', salienta.
Criatividade
Aos dois anos de idade - no período do jogo símbólico - começa a aflorar a imaginação e a criatividade. ''Até por volta dos sete anos a criança deve se sujar, criar, dar vida a personagens. Presentear com livros de pintura, tintas, pincéis, argila e fantasias para incorporar os heróis preferidos é bastante indicado'', explica.
Os jogos de regras passam a ser recomendados a partir dos seis anos, uma vez que estimulam o raciocínio, socialização, estratégia e contribuem para que a criança aprenda a lidar com a perda e, de certa forma, elaborar o luto.
Já por volta dos sete, a criança começa a entender as regras sociais e demonstrar mais interesse pelo universo adulto. ''Gosta de objetos em miniatura que representam esse universo. Sente prazer ao fazer de conta que está realizando as mesmas tarefas dos pais e dos adultos que a rodeiam'', destaca Cleide.
''Na evolução da atividade lúdica, o faz de conta e a fantasia aos poucos inserem-se no jogo de construção. A criança passa por transições e adequações à realidade até chegar ao jogo social, inserido na coletividade, nas trocas e na organização de regras necessárias ao convívio'', resume a pós-doutora.
Ela não considera prejudicial presentear, especialmente os meninos, com armas e espadas. ''Não acho que é um estímulo à violência. Eles querem copiar os heróis dos desenhos animados. Tudo depende da forma como o adulto trabalha isto, de como a criança vai usar os objetos'', opina.
É indiscutível que a mídia influencia a garotada. ''A criança quer levar para casa seus personagens preferidos. É normal. Ela vai dar vida a eles da sua forma'', afirma. Em relação aos equipamentos eletrônicos - objeto de desejo cada vez mais cedo na infância -, a pedagoga diz que os pais devem controlar o uso, mas não é necessário proibir a criança de tê-los.