A arte de servir
PUBLICAÇÃO
sexta-feira, 07 de novembro de 1997
Karla Matida
Josoé de CarvalhoO estudante Jeffer Ogera trabalha à noite para pagar a universidade e o aluguel do apartamentoTanto na Europa quanto nos Estados Unidos é comum observar jovens garçons no maior corre-corre entre mesas e bandejas, trabalhando em bares e festas. Em geral, são estudantes à procura de independência financeira ou mesmo atrás de um sonho, como carro próprio ou uma viagem pelo mundo. Mesmo brasileiros, de passagem por esses países, não pensam duas vezes em trabalhar servindo mesas, se isso significar a liberdade no exterior. Quem é que não ouviu histórias assim?
Por aqui, os brasileiros pensam, pensam e não aceitam muito a idéia de não depender mais dos pais quando ainda são estudantes. Para o jovem Jeffer Ogera, 20 anos, a opção de trabalhar surgiu quando ele passou no vestibular, há um ano. Para se sustentar longe da família, que é de Campo Grande (MS), Jeffer precisou ir atrás de trabalho.
A única opção para o estudante é trabalhar à noite, explica Jeffer, que estuda Arquitetura em período integral. Em um ano, Jeffer já passou pelos grandes bufês da Cidade. Mas era muito cansativo e estava atrapalhando os estudos, conta Jeffer. Há sete meses ele trabalha numa casa noturna onde entrou como garçom e agora exerce a função de auxiliar administrativo. Faço de tudo à noite, de garçom a recepcionista.
Nunca tive vergonha, porque isso não é um bico, é um trabalho digno, diz Ogera, que já pensa em uma promoção no emprego. A gente tem que dar o máximo, conta o futuro arquiteto. Aqui tenho noções administrativas que não aprendo na faculdade, afirma Jeffer sobre a relação entre a faculdade de arquitetura e o trabalho à noite.
Paulo WolfgangA vendedora Zenilde Aparecida da Costa trabalha dobrado servindo em festas particulares nos finais de semana
Bandeja Há três anos, em uma conversa rápida com uma conhecida, a vendedora Zenilde Aparecida da Costa, 28 anos, descobriu a possibilidade de um trabalho ocasional. Fiquei interessada quando soube o quanto ela ganhava e fui atrás. Já trabalhei em bufês servindo festas para 400, 800, 1.000 pessoas, hoje trabalho em festas particulares, com menos gente e que costumam terminar mais cedo, conta.
O serviço de garçonete ajuda bastante no orçamento, explica Zenilde, se eu trabalhar todos os finais de semana do mês, consigo um aumento de 20% no orçamento, explica. Tem gente que precisa, mas morre de vergonha, completa Zenilde, que cobra em média R$ 30,00 por trabalho. A média geral em Londrina é de R$ 25,00, e pode chegar a R$ 60,00, dependendo do serviço.
Sobre os inconvenientes do trabalho, Zenilde conta que alguns convidados costumam mexer com as garçonetes, mas se eu percebo alguma coisa, sempre dou um jeito pedindo para um garçom servir aquela mesa. Serviço: