Edilea  França com os filhos Clara, 9, Igor, 7, e Ana, 5, nas aulas remotas em 2020: experiência tem sido difícil, segundo a mãe,  porque a professora ensina de uma forma e os pais, na execução das atividades, ensinam de outra
Edilea  França com os filhos Clara, 9, Igor, 7, e Ana, 5, nas aulas remotas em 2020: experiência tem sido difícil, segundo a mãe, porque a professora ensina de uma forma e os pais, na execução das atividades, ensinam de outra | Foto: Arquivo pessoal

O ano letivo de 2021 nas escolas municipais de Londrina começou no dia 04 de fevereiro de forma remota, até que uma nova decisão seja anunciada pela Prefeitura Municipal a respeito das aulas presenciais, suspensas até o dia 04 de abril pelo decreto nº 286/2021. Nas instituições particulares, submetidas ao decreto nº 7020 do Governo do Estado, o retorno dos alunos às salas de aulas aconteceu na quarta-feira (10). Nas escolas estaduais, o retorno previsto para segunda-feira (15) foi suspenso e uma nova data deverá ser anunciada em breve.

O retorno das atividades escolares presenciais é uma grande expectativa, mas vem carregada de muitos pontos de interrogação: a volta presencial contará com a estrutura básica de prevenção? No modelo híbrido, como ter qualidade nas atividades remotas? Os professores estão prontos para retornar às salas de aula?

De um lado, há uma preocupação com o aprendizado e desenvolvimento social dos estudantes, além da necessidade das famílias que não contam com uma rede de apoio para dividir os cuidados com os filhos, por outro há a questão da saúde pública. E nessa ‘balança’ que pode ter pesos diferentes para cada um dos lados, a discussão vai se avolumando.

Na casa de Edilea e Gedson França, a experiência com as aulas remotas ao longo de 2020 com os filhos Clara, 9, Igor, 7, e Ana, 5, “foi trágica”, segundo o casal. “Estamos vivendo um estresse porque a professora ensina de uma forma e os pais, na execução das atividades, ensinam de outra maneira. A maior dificuldade tem sido com o Igor, que deveria estar sendo alfabetizado e isso não está acontecendo. Ele não tem interesse nem de fazer a tarefa”, diz Edilea, que se divide no período da tarde para acompanhar as atividades dos três filhos, utilizando o WhastApp.

A família anseia pelo retorno presencial, assim como espera que o poder público se empenhe para tal. “A gente espera por investimentos nas escolas no sentido de facilitar as aulas presenciais. Temos a ideia de voltar 50% presencial desde que seja evitado o recreio coletivo, seja respeitado o distanciamento, o uso de máscaras e que haja um rigor com os pais para que façam sua parte”, acrescenta o pai.

 A mãe de Maria Eduarda, Patrícia Helena Bortotti Magro, acha que o mais importante é preservar a vida e que o governo deveria ter ao menos um plano para vacinar professores para haver mais segurança
A mãe de Maria Eduarda, Patrícia Helena Bortotti Magro, acha que o mais importante é preservar a vida e que o governo deveria ter ao menos um plano para vacinar professores para haver mais segurança | Foto: Arquivo pessoal

A designer de costura criativa, Patrícia Helena Bortotti Magro, mãe do João Guilherme, 16, e Maria Eduarda, 8, ambos estudantes da rede pública em Londrina, questiona se as escolas terão condições de atender a todos os protocolos de segurança, pois ao mesmo tempo em que se diz insatisfeita com os resultados das aulas remotas, sabe que a questão maior é preservar a vida.

O governo tinha que ter, ao menos, um plano para vacinar os professores e assim, dar uma segurança a mais para o retorno no modelo híbrido. Sei que o vírus está no mundo inteiro e que se trata da vida de todos, mas estamos tendo um ensino de péssima qualidade e meus filhos estão sofrendo de verdade”, desabafa.

Ela conta que as atividades aplicadas à filha, que estuda em escola municipal, são repetidas em relação ao ano letivo anterior, baseadas apenas em desenhos e atividades lúdicas. “Minha filha está aprendendo a letra cursiva e a fazer soma porque eu comprei livros e estou ensinando. Não veio atividade nesse sentido, apesar da direção da escola nos orientar a não ensinarmos as crianças por conta própria. É um descaso com a educação”, complementa.

Desde que as aulas presenciais foram suspensas em março de 2020, mais de 45 mil alunos foram obrigados a estudar em casa, acompanhando as aulas e atividades de forma virtual ou impressas. O mesmo desafio foi imposto aos 4,6 mil professores que integram a rede composta por 87 escolas, 31 CMEIs (Centros Municipais de Educação Infantil) e 57 CEIs (Centros de Educação Infantil) filantrópicas.

O único atendimento presencial permitido é o individualizado, destinado a alunos que apresentam dificuldades (em escolas públicas, privadas e conveniadas com a prefeitura).

INSUMOS E PLANO DE BIOSSEGURANÇA

Conforme divulgado pela SME (Secretaria Municipal de Educação) foram investidos mais de R$ 8,2 milhões na compra de insumos para a manutenção da higiene e saúde que serão distribuídos na rede de ensino quando as atividades presenciais forem retomadas.

São itens como álcool em gel, álcool líquido 70%, máscaras para alunos e professores, face shield, avental para professores que atuam com crianças de 0 a 3 anos, termômetros digitais para medição de temperatura, tapete sanitizante, totem, dispenser de parede para álcool em gel, borrifadores, lixeiras com pedal, água sanitária, suporte para rolo de papel higiênico e papel toalha, além de embalagens de marmitex em alumínio e saco plástico para talheres com o intuito de atender as recomendações sanitárias durante o servimento da merenda escolar.

A SME também promoveu o curso “Brigada da Pandemia: ações estratégicas para reabertura segura das unidades escolares” para os profissionais da educação de todo o País, no formato on-line, através do AVA (Ambiente Virtual de Aprendizado) da Escola de Governo.

Ao todo foram 300 vagas e 30 horas de aulas e atividades (desde o dia 25 de janeiro até 05 de março) para tratar sobre o Plano de Biossegurança elaborado em parceria com a secretaria municipal de Saúde. O conteúdo se refere à organização dos tempos e espaços, protocolos de higiene e prevenção às doenças, reorganização pedagógica e apoio e acolhimento às pessoas.

"DIFÍCIL FALAR EM MODELO IDEAL", DIZ PROFESSORA

Com cerca de 80 alunos, a professora Bruna Ester Gomes Yamashita, do ensino fundamental I (do 1° ao 5° ano) narra a difícil tarefa que a pandemia tem imposto à muitas famílias e profissionais da educação.

“Compreendemos que o maior prejuízo dessa pandemia para todos, sem sombra de dúvidas, são as perdas de nossos entes queridos, mas é óbvio que sabemos das consequências em relação a educação escolar. Para nós, educação é prioridade, mas isso deveria ser um posicionamento da nação, e assim estaríamos vendo esforços desmedidos para vacinar professores, afinal o que é prioridade? Difícil falar em modelo ideal quando buscamos isso muito antes da pandemia. No momento o que queremos é vacina como todos os brasileiros”, relata.

Ela é mãe de três crianças de 6, 10 e 12 anos e afirma estar experimentando um dos maiores desafios em relação à escolarização dos filhos, além da preocupação de mantê-los seguros. “Há os que dizem que os professores se acham melhores em desejar estar na ‘ala dos vacinados’ e falam isso com a justificativa de que estão trabalhando fora de casa há muito tempo e sem vacina. Muitas dessas pessoas trabalham e convivem com adultos, no entanto observo que quando se trata de crianças o comportamento e controle dos passos, dos abraços, dos toques e tudo mais, é imprevisível, por mais que haja determinações e regras”, ressalta.

Yamashita faz questão de dizer que o desejo de voltar para a escola existe desde o primeiro dia, “mas quero vacina. Isso seria um reconhecimento da importância da educação, posta em muitos discursos bonitos e papeis elaborados. Passaremos por isso com muitas perdas, mas nos lembraremos dos esforços que temos tido e das lições para prosseguir. As prioridades de hoje são frutos de uma educação de ontem”, pontua.

LIBERDADE DE ESCOLHA

A professora Gesely Calijuri diz que prefere “o retorno às aulas reduzido e não obrigatório”
A professora Gesely Calijuri diz que prefere “o retorno às aulas reduzido e não obrigatório” | Foto: Arquivo pessoal

A professora do fundamental I, Gesely Calijuri, diz que é a favor do retorno presencial, reduzido e não obrigatório. “Prezo pela liberdade de escolha porque eu realmente acho que aqueles que irão para a escola serão os que realmente precisam. Acho que o município está muito bem abastecido de recursos para prevenção. Participei do curso da Brigada como mãe porque sou do Conselho Escolar da escola do meu filho. Cada unidade fez o seu plano porque cada um tem uma realidade. A insegurança existe, assim como ela existe para todas as atividades diárias que sou obrigada a fazer. Mas se pesar o risco e o benefício, o benefício será muito maior”, salienta.

Calijuri tem três filhos em idade escolar e acrescenta que a situação atual demanda também uma visão social. “Como mãe, as aulas remotas estão tranquilas porque tenho uma rede de apoio. Como professora, minha principal angústia é com relação às crianças que não têm essa rede. Entramos aí em uma outra questão e que não deve ser ignorada. A gente sabe que aumentou o número de violência e de abusos contra as crianças e que muitas senhoras nas periferias estão com a casa cheia de crianças para que os pais possam trabalhar”, aponta.