Pensar e discutir a perspectiva que envolve a Infância e a Afrocultura na formação do educador é um compromisso para o LAI – Laboratório de Anos Iniciais do Ensino Fundamental da Universidade Estadual de Londrina. Desde setembro, o LAI vem promovendo minicursos sobre infância, cultura africana e a formação do educador.

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Para o mês de novembro, uma feira de livros e atividades abertas para a comunidade são parte da culminância de uma etapa do trabalho de estudo contínuo e pautado na educação. São objetivos do estudo: apresentar e discutir dimensões para se pensar a formação do educador no âmbito da Infância e de suas perspectivas afroculturais, assim como discutir a educação das relações étnico-raciais e a formação inicial de professores.

Outro ponto em destaque é reconhecer a biblioteca como instrumento pedagógico no acesso a materiais que pautam a formação da infância e sua inter-relação com perspectivas afroculturais. O coordenador do LAI, o Prof. Dr. Rovilson José da Silva, aposta no desenvolvimento permanente dos professores. "Se pensarmos que o professor é um ser em construção e está aprendendo o tempo todo, pensar e discutir a perspectiva que envolve a Infância e a Afrocultura na formação do educador é uma necessidade".

A professora Greice F. da Silva considera que a experiência de formação dê aos professores condições de ampliarem a comunicação com as crianças
A professora Greice F. da Silva considera que a experiência de formação dê aos professores condições de ampliarem a comunicação com as crianças | Foto: Divulgação

Durante uma das atividades realizadas no evento realizado na UEL, estudantes de Pedagogia do projeto de "Formação de Leitores em Bibliotecas de Escolas", elaboraram uma contação de história com base no livro "Os Sete Novelos, - um Conto de Kwanzaa", de Angela Shelf Medearis, para alunos do 1º ano do Ensino Fundamental. A vice- coordenadora do LAI, Profª Drª Greice F. da Silva, considera que a experiência de formação dê condições para os professores se aprofundarem e ampliarem a comunicação com as crianças na escola.

Afinal, entre os objetivos do estudo, está o de promover a reflexão acerca de aspectos fundamentais à educação da criança em contato com literatura e demais linguagens artísticas. "Nada melhor do que a Literatura, como arte, para afetar as pessoas de forma sensível para questões como das bonecas Abayomi e sua origem. A palavra abayomi tem origem iorubá, e costuma ser uma boneca negra, significando "aquilo que traz felicidade ou alegria."

Uma das responsáveis pela confecção das bonecas que protagonizaram a contação de história, a Prof . Dra. Andréa Haddad Barbosa, diz que é uma satisfação ver a crianças experimentando, por meio de diferentes sentidos, o brinquedo.. "Uma boneca que tem uma história com um significado e que representa um momento de um povo que foi silenciado. Ao mesmo tempo que é triste pensar que faziam as bonecas com as próprias vestes para distrair as crianças, esse era o elo que permitia que se reencontrassem e se identificassem".

Amanda Crispim Ferreira tratou sobre “O letramento literário de Carolina Maria de Jesus”, e lançou obra sobre a poesia da escritora brasileira
Amanda Crispim Ferreira tratou sobre “O letramento literário de Carolina Maria de Jesus”, e lançou obra sobre a poesia da escritora brasileira | Foto: Divulgação

Na ocasião do evento, a escritora Amanda Crispim Ferreira tratou sobre “O letramento literário de Carolina Maria de Jesus”, e lançou a obra "A Poesia de Carolina Maria de Jesus" (Editora Malê). O livro de Amanda apresenta o processo criativo da escritora negra Carolina Maria de Jesus, que ganhou notoriedade ao escrever "Quarto de Despejo", diário de uma favelada sobre seu cotidiano, publicado em 1960.

Amanda aborda as características de sua poesia, permeada pela “escrevivência” – observação de suas vivências, seus pensamentos e suas experiências. Além de analisar os poemas de Carolina, a autora aponta passagens de seus diários e textos de caráter autobiográfico.

Ferreira considera que eventos como esse são essenciais para a Educação, pois promovem reflexões acerca da literatura infantil negra e indígena. "E também possibilitam a divulgação de obras e escritores que contemplam esse aspecto dentro da nossa literatura brasileira. Isso é fundamental porque possibilita que toda a comunidade escolar tenha acesso à arte, saberes e conhecimentos que estão fora desse eixo eurocêntrico dentro do qual se estabelece o currículo escolar", reflete.

BONECOS DE PANO PARA VENCER OS PRECONCEITOS

A cientista social e artesã Luciane dos Santos com as bonecas de pano: representatividade e combate aos preconceitos
A cientista social e artesã Luciane dos Santos com as bonecas de pano: representatividade e combate aos preconceitos | Foto: Divulgação

A cientista social e artesã Luciane dos Santos decidiu fazer a primeira boneca de pano 30 anos atrás para sua filha e hoje, além de seus bonecos artesanais serem ferramenta educativa, são também um negócio. "A proposta é contribuir na formação educacional com bonecos que tragam representatividade para as crianças", explica.

O boneco com vitiligo, o que não tem um pé e a boneca com cabelo curvatura 4C encontram colo, cuidado e representam pessoas com esse perfil. "Apenas 6% das bonecas fabricadas são negras e essa representatividade é necessária e isso se reflete na autoestima e no combate ao racismo", expõe Santos.

A pluralidade é embasamento para a artesã e a boneca médica negra é também uma referência profissional para quem conhece o seu trabalho que ensina com afeto. "Desde crianças devemos aprender que todos podem ocupar todas as profissões do mercado de trabalho, pois a sociedade é plural e por isso eu trago na proposta a inclusão social e a diversidade".

O feedback de professores, direção e familiares chegam à artesã como resposta de que está no caminho certo. "Há um espaço para ser preenchido e, por meio das bonecas, tenho levado às crianças conhecimento".

Santos explica que quando é convidada para apresentar seus bonecos em uma escola, não há um discurso pronto. "É um diálogo dentro do que as crianças me trazem. Elas olham a boneca, trazem questionamentos e noto que há um sentimento de libertação quando se expressam", conta.

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