Bandeirinhas ao céu, canções que atravessam gerações, trajes caipiras e comidas típicas como canjica, pipoca, pamonha e quentão são alguns elementos que anunciam: é tempo de festas juninas.

Reconhecidas como manifestação cultural brasileira por meio da Lei 14.555/2023, alterada pela Lei 14.900/2024, a qual declara, em seu artigo Art. 1.º, que tanto as festas juninas como as quadrilhas juninas são reconhecidas como manifestação da cultura nacional. Com muita popularidade e expectativa, o mês de junho ficou até pequeno e muitas festas são realizadas também no mês seguinte. Assim, as festas juninas e julinas são bastante aguardadas.

Em respeito ao entendimento legal, as celebrações artísticas e culturais escolares deste período integram os conteúdos a serem trabalhados tanto na Educação Infantil, como nos anos iniciais do Ensino Fundamental, em conformidade com a Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Assim, todas as atividades são educativas e sem qualquer vínculo religioso ou meramente comemorativo.

De acordo com a responsável pela Gerência de Educação para Relações Étnico-Raciais e Diversidade da Secretaria Municipal de Educação de Londrina (SME), Eliane Candoti, as festas juninas sempre fizeram parte do repertório escolas e das comunidades. "Principalmente por envolverem as nossas memórias afetivas e a nossa relação com o campo. Desde o reconhecimento da Lei, o tema passou a compor parte dos conteúdos obrigatórios dos anos iniciais do Ensino Fundamental e da Educação Infantil e isso serviu para fortalecer e amparar legalmente o trabalho que as unidades escolares da rede municipal de ensino", esclarece.

Nas escolas, as festas juninas são comemoradas  como manifestações da cultura nacional, sem qualquer vínculo religioso
Nas escolas, as festas juninas são comemoradas como manifestações da cultura nacional, sem qualquer vínculo religioso | Foto: Emerson Dias/ NCom

A educadora ratifica que as escolas já realizavam um trabalho educativo, pois todas as práticas em sala, as exposições e apresentações para os pais e as comunidades, que culminavam ou não em festas juninas, sempre eram realizadas por meio de abordagens que exploram a relação entre as populações do campo e da cidade, o histórico das tradições populares, a influência cultural dos movimentos migratórios e dos grupos étnicos que formaram a população brasileira, nossa gastronomia, nossos ritmos e sons, nosso modo de pensar, crer e fazer.

Assim, Candoti menciona que as unidades escolares desenvolvem projetos e atividades envolvendo a origem dos festejos populares e especialmente das festas juninas. "Com o ensino de músicas, danças, ritmos e instrumentos musicais próprios das festas do campo, valorizando as comemorações que festejam o trabalho, a colheita e a união das pessoas", enumera.

Ganham espaço também no aprendizado, as receitas e os principais ingredientes dos doces e salgados presentes nas festas juninas, o vestuário, os brinquedos e brincadeiras relacionados ao modo de vida do campo e que valorizam nossas origens familiares, bem como as mudanças e continuidades no modo de viver e celebrar das populações do campo. A contemporaneidade está presente nas festas juninas e em muitas não podem faltar espetinho de carne, pizza, brigadeiro, pastel, maçã do amor, cachorro quente - de preferência com duas salsichas.

ESTUDO E PESQUISA

As danças, as músicas, as comidas típicas e trajes são objeto de estudo dos estudantes da rede municipal. Candoti explica que o enfoque é diversificado. "Tanto abordam os elementos da festa em suas origens, como nos dias de hoje, com influências contemporâneas".

Pelo fato de se tratar de uma festa temática, a educadora enfatiza que o campo de estudo e pesquisa é capaz de envolver todas as áreas de conhecimento e campos de experiência. "Não se trata de um conhecimento restrito aos livros e aos sites de pesquisa. É preciso experienciar o conhecimento por meio de atividades que envolvam movimento e todos os nossos sentidos, contribuindo para a constituição de memórias afetivas e aprendizagens significativas", pontua.

Nessa perspectiva, disciplinas como Matemática, História, Artes, Língua Portuguesa Ciências e Geografia estão presentes na formação dos alunos de modo contextualizado e peculiar. "É como se as festas tivessem cores, formatos, ritmos e sabores próprios conforme a região", explica.

Assim, com propriedade e levando em consideração um país tão diverso como o nosso, Candoti considera que não há como padronizar os festejos. "Ainda que a origem das festas sejam as mesmas, as características ambientais, climáticas, econômicas e culturais influenciam e moldam os festejos do mês de junho. Os alimentos à base de milho e as danças circulares ao redor da fogueira são contribuições dos povos indígenas, por exemplo, e todos esses elementos culturais são apresentados em sala de aula, situando as festas no tempo, no espaço e na diversidade de povos e culturas", divide.

Os elementos típicos das festas juninas mudam de acordo com a região, mas são comuns referências à vida no campo de acordo com a tradição
Os elementos típicos das festas juninas mudam de acordo com a região, mas são comuns referências à vida no campo de acordo com a tradição | Foto: Divulgação

FAMÍLIAS UNIDAS

Com entusiasmo, alunos anunciam, por meio das redes sociais das unidades escolares, a chegada do momento mais esperado do ano e não são as férias. É assim o vídeo descontraído da Escola Municipal Padre Anchieta - @padre.anchieta - em Londrina. O "Arraiá do Padre", como também é tratada a festa da escola é um momento que une as famílias em prol da unidade escolar. O milho que chega na palha, o bambu que transforma o ambiente são exemplos dos esforços dos pais e professores para valorizar a festa típica.

Considerada e divulgada como a festa mais aguardada por toda a comunidade escolar, a Festa Junina do Panico tem como atributos a organização e capricho. Localizada na região Leste de Londrina, a Escola Municipal Maestro Roberto Panico conserva e reconhece como grande trunfo a contribuição dos familiares aliados para a festividade ser assim reconhecida. Com ânimo, estagiários, além de professores de chapéu e bota, espantam o frio e convidam para a festança sob o comando da diretora da unidade, Thatiane Verni Lopes.

COLHEITA PEDAGÓGICA EM CAMBÉ

Em Cambé, as famílias continuamente unem seus esforços aos dos profissionais da educação - neste período também - para contribuir com a formação dos estudantes. De acordo com a Assessora de Ensino da Secretaria Municipal de Educação e Cultura (SMEC), Viviane Mascarenhas, as famílias estão presentes e parte da formação dos alunos é estimular que a criança busque, em contato com a família, informações que compuseram a infância, as brincadeiras, os festejos e a formação de seus pais, avós e responsáveis - para valorizar as gerações anteriores.

No que diz respeito ao eixo estruturante do conhecimento, os alunos aprendem as diferenças do modo de vida urbano e rural e, neste contexto, exemplo de atividade dos alunos foi reconhecer, em uma espiga de milho, a infinidade de elementos a serem compreendidos desde o plantio do grão, os cuidados, colheita e todos os derivados do cereal.

Em Cambé, uma "colheita pedagógica" ensina aos alunos tudo sobre o milho, produto comum nas festas juninas
Em Cambé, uma "colheita pedagógica" ensina aos alunos tudo sobre o milho, produto comum nas festas juninas | Foto: Divulgação

Aprender sobre as manifestações culturais típicas de sua cultura e de outras integra a formação dos estudantes em Cambé e, no que diz respeito às manifestações culturais como festa junina ou elementos do folclore brasileiro, por exemplo, a prioridade educativa é o aspecto cultural e histórico do tema, por meio de atividades que enalteçam a produção humana e as transformações.

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