Há duas semanas, os alunos da Rede Municipal de Educação de Londrina voltaram às aulas, após as tradicionais férias de julho. Neste período, o descanso e a diversão tendem a ganhar mais espaço na agenda das crianças.

No entanto, agora, com o retorno das tarefas obrigatórias, reaparece também uma preocupação crescente entre especialistas e pais: como garantir que as crianças ainda tenham tempo e espaço para brincar livremente? Numa era na qual as atividades superestimulantes e compromissos diários dominam a rotina infantil, a importância das brincadeiras espontâneas, em contato com outras crianças, nunca foi tão evidente.

Mais do que entretenimento, brincar é um direito. No Brasil, existem diretrizes e regulamentações que sublinham a importância das brincadeiras no desenvolvimento saudável dos pequenos. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), por exemplo, estabelece o brincar e o divertir-se como aspectos fundamentais do direito à liberdade; enquanto o RCNEI (Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil), em vigor

desde 1998, garante “o direito das crianças a brincar como forma particular de expressão, pensamento, interação e comunicação infantil”.

A pedagoga Andrea Pimenta considera brincadeiras como uma parte inerente à natureza humana, essenciais para a saúde física, emocional e intelectual das crianças, para ajudá-las a criarem conexões importantes entre seus sentimentos e habilidades.

“Através das brincadeiras, as crianças aprendem sobre si mesmas, sobre o mundo, sobre as relações. Adquirem habilidades que serão parte delas quando adultas, como confiança, autoestima, resiliência e independência. Brincadeiras frequentes e diárias podem ajudar a reduzir a ansiedade, o estresse e a irritabilidade, deixando a criança mais feliz e saudável”, explica.

Andrea Pimenta, pedagoga: “Através das brincadeiras, as crianças adquirem habilidades que serão parte delas quando adultas, como confiança, autoestima, resiliência e independência"
Andrea Pimenta, pedagoga: “Através das brincadeiras, as crianças adquirem habilidades que serão parte delas quando adultas, como confiança, autoestima, resiliência e independência" | Foto: Divulgação

BRINCAR LIVRE

Mas o verdadeiro brincar vai muito além dos 15 minutos oferecidos para o recreio escolar.

Pimenta destaca a relevância de um ambiente propício para as brincadeiras, seja em casa, em espaços públicos ou instituições de ensino, para que a criança possa explorar espontânea e livremente, sem a direção dos adultos.

“Minha preocupação é com os espaços e momentos de brincadeira livre nas escolas, onde não há roteiro nem objetivo previamente estabelecido, mas sim especificamente o brincar por si mesmo. Onde as crianças elaboram e desenvolvem suas brincadeiras de maneira única, se relacionando, enfrentando questões juntas, que surgem ali naquele momento. Isto é muito rico, proporciona uma interpretação de mundo única, aguça a criatividade e a imaginação para além da infância”, aponta.

Para ela, esses espaços também funcionam como rota de fuga para o excesso de compromissos, permitindo que as crianças se desconectem das telas e possam viver a infância plena.

“Um dos objetivos é tornar o brincar um momento cotidiano, pois todo dia é dia de brincar. Acredito que a ocupação com atividades de produção, o uso excessivo de telas e a falta de contato com a natureza dificultam a criança de usar toda sua potencialidade de ser curioso, investigativo que é. Podemos observar isso no alto índice de crianças ansiosas, estressadas e com muitas dificuldades de relacionamentos”, alerta.

Além dos educadores, ela enfatiza a responsabilidade dos pais em proporcionar uma variedade de experiências que não exijam regras complexas, mas priorizem a livre exploração. As atividades ao ar livre são exemplos de uma programação que promove, além do relaxamento, um aprendizado amplo, ativo e sensorial.

“Cabe também a nós, pais, proporcionar momentos diversos aos nossos filhos. Se na escola eles são muito cobrados com produções, registros e conteúdos, nós podemos oferecer mais momentos de lazer, de brincadeiras, de espaços verdes, que são grandes aliados nas descobertas e aguçadores da curiosidade das crianças”, recomenda.

ANDREA PIMENTA

Pimenta atua há 15 anos com oficinas e projetos voltados para crianças e famílias. Também foi responsável por trazer a Semana Mundial do Brincar, que acontece de 25 de maio a 02 de junho, a Londrina em 2013.

Desde então, nesta época do ano, a programação reúne pessoas, coletivos e organizações para despertar o debate e a conscientização sobre a importância do brincar na cidade.

Entre os parceiros que apoiam essa iniciativa estão a Cia Clac, a loja Ciranda, Primavera Jataí, Banda Beca Brinca e Brincar é Bom, Vamos?.