Nas escolas, HQs contribuem para a formação de leitores
Linguagem dos quadrinhos é aliada do desenvolvimento de habilidades na Secretaria Municipal de Educação e Cultura em Cambé
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 11 de março de 2025
Linguagem dos quadrinhos é aliada do desenvolvimento de habilidades na Secretaria Municipal de Educação e Cultura em Cambé
Walkiria Vieira

As histórias em quadrinhos desempenham um papel fundamental na formação de leitores, especialmente no desenvolvimento de habilidades de leitura, interpretação e pensamento crítico. O entendimento é do Doutor em Estudos Literários pela Universidade Federal do Paraná - UFPR, Valter do Carmo Moreira - https://www.valtermoreira.com.br
Mestre em Literatura Comparada, especialista em Literatura Brasileira e artista plástico, Moreira esclarece que HQs não apenas trabalham com o texto, mas também com a linguagem visual. "A leitura de quadrinhos exige que o leitor interprete não apenas as palavras, mas também as expressões faciais, os gestos, os cenários, movimentos e a disposição dos quadros. Isso desenvolve a alfabetização visual, uma habilidade essencial em um mundo cada vez mais dominado por imagens e mídias visuais. Os quadrinhos são uma linguagem que exige do leitor a capacidade de decodificar signos visuais e textuais de forma integrada".
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Professor, pesquisador e autor de história em quadrinhos, ele esclarece que as HQs são uma linguagem e apresentam uma ampla diversidade de gêneros e temas que promove a inclusão e a representatividade. "Tornam-se uma mídia poderosa para engajar leitores de todas as idades e níveis de leitura e, portanto, as HQs não apenas formam leitores, mas também os capacitam a explorar outros mundos, como os da literatura, do cinema, do teatro, etc, de forma mais ampla e profunda", pontua.

QUADRINHOS E EDUCAÇÃO
O estudioso considera também que os quadrinhos, dada a popularidade e facilidade de acesso, podem contribuir de modo relevante para a educação. "Por ser uma linguagem acessível e envolvente com opções de leitura para todas as faixas etárias, a História em Quadrinhos pode ser um primeiro passo para a formação de leitores assíduos".
De seu ponto de vista, o prazer de ler quadrinhos pode levar ao interesse por outros tipos de leituras, como romances, contos e poesia, e até a outros suportes artísticos como o cinema e a música. Ao mesmo tempo que a linguagem é uma ferramenta poderosa para promover e ou renovar o interesse pela leitura. "Especialmente entre jovens que podem se sentir intimidados por textos longos e densos".
Moreira defende ainda que quadrinhos são uma excelente maneira de abordar temas importantes, como diversidade, empatia e representatividade. "Ao escolher HQs que retratam personagens e histórias diversas, os pais podem promover discussões sobre questões sociais e culturais, ajudando as crianças a desenvolverem uma visão mais ampla e inclusiva do mundo", pensa.
QUADRINISTAS NACIONAIS
Entre nomes nacionais que contribuíram nesse sentido, destaca Laerte Coutinho, Marcelo D'Salete e Ana Luiza Koehler. Moreira reconhece que o mercado de histórias em quadrinhos no Brasil e no mundo tem passado por transformações significativas nas últimas décadas. "Muitos autores independentes dependem de eventos como a Bienal de Quadrinhos de Curitiba, a Bienal do Livro e outras feiras de quadrinhos menores espalhadas pelo país para vender suas obras e se conectar com o público", expõe. Ao mesmo tempo, reconhece que há o que consumir no on-line e sugere: Pablito Aguiar, Caetano Cury Rafael Fritzen, Cora Ottoni, Lark.
Sobre personagens cita ainda aqueles marcantes para os leitores na faixa de 40, 50 anos e que também merecerem serem ofertados por quem está iniciando ou se desenvolvendo no mundo da leitura "Asterix, uma famosa série de histórias em quadrinhos criada pelo roteirista René Goscinny e pelo ilustrador Albert Uderzo, Charlie Brown e Snoopy Criado por Charles M. Schulz. Tem também a Turma do Pererê, uma das obras mais icônicas e importantes dos quadrinhos brasileiros, criada pelo lendário cartunista Ziraldo", apresenta.
QUADRINHOS EM SALA DE AULA
Na Rede Municipal Ensino de Cambé, região metropolitana de Londrina, os gibis se constituem como ferramentas para os processos de ensino e aprendizagem de acordo com as assessoras pedagógicas da Secretaria Municipal de Educação e Cultura - SMEC - Tatiana Ap. Baptilani Zirondi e Aline Guasti de Souza "As Histórias em Quadrinhos trazem textos cujas especificidades textuais e literárias atraem os leitores, principalmente do universo infantil", pontuam.
As educadoras explicam que sua constituição verbal e visual desempenham grande expressão e significação atrativas e facilitadoras para o desenvolvimento profícuo dos leitores. "Além ser ferramenta de acesso à língua", explicam.

O material integra o acervo da escola, sendo assim são avaliados e escolhidos pelo corpo docente. As tirinhas e HQs são contempladas na progressão do ensino e compõem o currículo de Língua Portuguesa. Nas unidades escolares, os gibis são ofertados em diferentes momentos desde a leitura deleite. "Incorporada como um dos momentos dos projetos de leitura e uso no âmbito das bibliotecas escolares, às propostas de ensino dos conteúdos escolares em foco", detalham.
Neste momento, os alunos da Escola Municipal Pedro Tkotz estudam o conteúdo HQs e realizam atividades de produção textual. As ações têm permitido, por exemplo, que compreendem como são utilizados os recursos de imagens, balões de fala e onomatopeias.
UM "GUARDIÃO" DAS HQs EM LONDRINA
Muito respeitado, o quadrinista Eloyr Pacheco coordenou no último sábado (8), a primeira edição de 2025 do SábadoHQuê, evento que reuniu quadrinistas, desenhistas, ilustradores e fãs da cultura das Histórias em Quadrinhos (HQs) em Lobdrina.
Atualmente, ministra um curso de extensão no Núcleo de Estudos da Cultura Japonesa, participa da exposição "Escorpião de Prata, na Réplica da Capela." O artista, historiador e pedagogo pós-graduado em Arte e Educação, relata que o seu encontro com os quadrinhos foi definitivo. Lá pelos anos 60, seu tio conservava uma coleção de revistas da Editora Brasil-América Limitada (EBAL). "Eu folheava os HQs de modo fascinado e admirava todo o talento de meu tio, que também desenhava e tudo isso me encantou e despertou", recorda.

Em sua trajetória de 25 anos, trabalhou como editor no Brasil das majors Marvel, DC Comics/Vertigo, Dark Horse e Image. Também publicou Will Eisner´s Spirit Magazine, do mestre Will Eisner. Publicou, entre outros, Senninha (Instituto Ayrton Senna), Zé do Caixão (José Mojica Marins) e Banda das Velhas Virgens – Sr. Sucesso. "Debutei lá nos anos 1970 na Folhinha da Folha de Londrina",orgulha-se;
Criador do "Escorpião de Prata", que já foi publicado na Argentina e exposto em Angoulême (França), Pacheco é também reconhecido pela Academia Brasileira de Histórias em Quadrinhos, sediada no Rio de Janeiro, e recebeu uma homenagem no Salão de Humor de Caratinga (MG).
Ensinar para ele é também uma realização. "O lugar em que eu me sinto mais à vontade é na sala de aula, compartilhando conhecimento e informações, debatendo com os alunos, discutindo teorias e técnicas, especialmente sobre as HQs. É ensinando que me sinto mais completo como pessoa e artista", alegra-se.

