É fato que todos os profissionais, das diversas áreas de atuação, passaram pelas mãos de professores desde a sua base escolar até a formação completa. Não faltam lembranças sobre a dedicação e importância que cada um teve na trajetória educacional. As professoras, sobretudo, destacam-se na linha do tempo graças à presença maciça das mulheres na arte de ensinar. No Dia Internacional da Mulher, comemorado nesta terça-feira (8), é essencial lembrar da importância de todas as professoras.



Dos tempos em que dar aulas era a oportunidade de trabalho para as mulheres ingressarem no mercado de trabalho, à escolha convicta dada à vocação na atualidade, professoras e ensino não podem ser dissociados. Ícones da atividade profissional, o guarda-pó, o quadro negro, o giz e a delicadeza em pegar na mão e ensinar a desenhar as primeiras letras estão guardados na memória de muitos alunos, gratos a todas as suas professoras.



A professora aposentada Marina Alberini Fredegotto, 87 anos, recorda-se do dia em que a diretora da escola foi pessoalmente pedir para seus pais para que ela desse aulas, pois estavam precisando de quem soubesse ensinar. "Fui com a cara e a coragem e só tinha feito o Grupo Escolar", relata. O friozinho na barriga é uma das recordações da professora Marina, assim como o silêncio e a expressão observadora dos alunos. As carteiras eram de madeira. Mesa e cadeira unidas e os sulcos na mesa inclinada, além da ergonomia, permitiam manter o lápis em perfeita posição de descanso.


A professora sente saudades da época, pois sentia-se muito valorizada. "O asseio dos alunos era bonito de ser ver. Nos uniformes, nos cabelos e nos materiais. Formados em fila, cantavam o hino conforme as datas e na sala de aula, éramos como autoridades. Recebíamos dos pais muitos agradecimentos sobre o desenvolvimento dos alunos e no Dia dos Professores, os próprios alunos faziam festa para todos. Guardo presentes até hoje", alegra-se.




Paralelamente à vida profissional, a professora Marina deu conta de formar uma família, ao lado do marido, Ernesto Fredegotto. Tiveram quatro filhos: Maria Cecília, Ida Cristina, Ernesto Júnior e Rita de Cássia. "Minhas três filhas foram professoras do Kumon, sendo que a Maria Cecília foi a primeira professora brasileira a dar aulas no Kumon (método japonês de ensino). Foram 33 anos dedicados a ensinar Matemática nas unidades de São Paulo", conta com satisfação.



A letra caprichada no quadro foi conquistada com esforço. Em meio às transferências do marido, que era bancário, Marina manteve o respeito à profissão, o desejo de retomar às atividades, mesmo afastada da sala de aula. O investimento na formação profissional tem destaque na trajetória da professora que do ano de 1952 a 1956, dedicou-se a estudar em Cornélio Procópio no Curso Normal para completar sua formação. "De manhã dava aulas em Santa Mariana, à tarde estudava. Uma dava atividade força para a outra", lembra. Mais tarde, ela passaria a dar aulas na rede estadual em Londrina.



Lecionar para a professora Marina foi um grande prazer em sua vida. Embora tenha concluído sua missão na secretaria da escola, ela se sente satisfeita. "Foi um período gratificante, penso que quem deseja estar numa sala de aula precisa ter vocação. Vivi muitos desafios e hoje os desafios são outros, mas não menores."


INCLUSÃO MOVE PROFESSORA

Silvana Araújo, 50 anos, professora de Libras: "Engrenei mais para a Educação Especial e no meu mestrado desenvolvi materiais didáticos  de Língua Portuguesa para os surdos por meio de um piloto"
Silvana Araújo, 50 anos, professora de Libras: "Engrenei mais para a Educação Especial e no meu mestrado desenvolvi materiais didáticos de Língua Portuguesa para os surdos por meio de um piloto" | Foto: Divulgação

A professora de Libras Silvana Araújo, 50 anos, ministra aulas para os cursos de Graduação da UEL- Universidade Estadual de Londrina e também no Instituto Londrinense de Educação para Surdos. O seu propósito é encarado como uma missão. "É uma disciplina que envolve mais da metade dos brasileiros que desconhecem as libras e ela vem para auxiliar na inclusão também em todos os cursos de Licenciatura como Geografia e História, por isso a disciplina está na grade", explica.



Após a conclusão do Magistério, Silvana sentiu-se impulsionada a cursar Letras e seguir um caminho definitivamente certo. "Engrenei mais para a Educação Especial e no meu mestrado desenvolvi materiais didáticos de Língua Portuguesa para os surdos por meio de um piloto, uma vez que essa é a segunda língua deles e existe uma carência de materiais didáticos", aponta.



As professoras de Silvana a influenciam até os dias atuais. "Jane Bastos é uma", cita. Ela conhecia o meu trabalho, pois eu levava pessoas surdas para as consultas médicas e entrevistas de trabalho como voluntária e reconheço que ela abriu portas para mim", enaltece.



Realizada por seu trabalho, Silvana expõe seu contentamento. "Ser professor é uma escolha e em nossa atuação contribuímos para formar cidadãos mais críticos e reflexivos. A mulher sobretudo, graças a sua sensibilidade aguçada e capacidade de superação, vai além do ensino e da aprendizagem, pois a mulher observa seus alunos de modo amplo e exerce um papel importante na sociedade e na formação de cada ser pensante", sorri.



ESTUDANTE DE PEDAGOGIA APOSTA NA CRITICIDADE

Maria Eduarda Milbradt, 20 anos, estudante de Pedagogia:  "Pretendo fazer a diferença na formação de meus alunos, o pensamento crítico amplia a visão de mundo"
Maria Eduarda Milbradt, 20 anos, estudante de Pedagogia: "Pretendo fazer a diferença na formação de meus alunos, o pensamento crítico amplia a visão de mundo" | Foto: Divulgação



"Estou efetivando o meu sonho de me formar e poder lecionar". Com esse pensamento e satisfeita com sua escolha, a estudante de Pedagogia da Unopar Maria Eduarda Milbradt, 20 anos se expressa. A jovem recorda-se que o desejo vem de longa data e também das horas que passava na infância brincando de escolinha no quintal de sua casa; "Eu não dei sossego para os meus pais, até que compraram a lousa e o apagador, eu dava aulas para as minhas bonecas, enfileirava as cadeiras e até minha cachorra na época, a Mell, era minha aluna", narra com alegria.



A vocação para ensinar se reforçava na sala de aula, perante os colegas e professores. Maria Eduarda ia além da obrigação e o seu empenho nas pesquisas resultavam em apresentações brilhantes - referência até hoje para os demais. A disciplina de História é a favorita da futura educadora que tem planos para quando concluir a sua graduação. Pretendo me especializar e seguir me aprimorando", reflete.



Em relação ao reconhecimento profissional, Maria Eduarda considera que ainda falta o devido valor à classe nesse quesito. "No Brasil, o reconhecimento é baixo, fica em segundo plano e somos pouco visualizados", pondera. Por outro lado, não perde sua essência e objetivo. "Pretendo fazer a diferença na formação de meus alunos, pois acredito que o pensamento crítico amplia a visão de mundo de todos.


Por meio da disciplina de História, por exemplo, a estudante pensa que é possível planejar e pensar mais. "Podemos rever o passado, situar o presente e pensar no que pode ser evitado. As professoras, sobretudo, a meu ver, estão presentes em muitas gerações de diferentes profissionais e o nosso trabalho é fazer com que cada aluno alcance seus sonhos por meio do conhecimento e dos estudos", afirma.

Marina Alberini Fredegotto, 87 anos, com as lembranças dos tempos em que lecionava: foram anos de magistério
Marina Alberini Fredegotto, 87 anos, com as lembranças dos tempos em que lecionava: foram anos de magistério | Foto: Gustavo Carneiro

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