A violência pode se fazer presente desde os primeiros anos de vida. Uma infeliz realidade para a qual não se pode fechar os olhos. Na esfera federal, estadual e municipal, uma rede de profissionais atentos realiza o trabalho de prevenção, enfrentamento e defesa de crianças e adolescentes. Do ponto de vista da Gerente de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação de Londrina Cristiane Sola Rogerio, o tema é de extrema relevância sempre, pois crianças e adolescentes além de serem sujeitos de direito, são pessoas em condição peculiar de desenvolvimento e precisam de proteção. "Infelizmente, os casos de violência continuam acontecendo em todo Brasil e precisamos sempre abordar esse tema, com o objetivo de conscientizar todas as pessoas", afirma.

Pedagoga especialista em Supervisão Escolar, Psicopedagogia e Educação Especial, Cristiane Sola Rogerio explica que o tema pode ser abordado de diferentes formas com as crianças e adolescentes, considerando sua faixa etária e seu desenvolvimento. "Na Educação Infantil e primeiras séries do Ensino Fundamental o assunto pode ser trabalhado por meio de contação de histórias com livros de literatura infantil, músicas infantis e minivídeos de desenho animado que abordam a temática, bem como atividades que orientam o cuidados com o corpo. Com adolescentes, o tema pode ser tratado por meio de aulas, vídeos e matérias informativas que orientem quanto aos cuidados e formas de proteção", esclarece.

Cecília Landarin Heleno, pedagoga: "A atenção, o sigilo e a integração da rede de proteção são fundamentais para romper padrões e ciclos de violência"
Cecília Landarin Heleno, pedagoga: "A atenção, o sigilo e a integração da rede de proteção são fundamentais para romper padrões e ciclos de violência" | Foto: Divulgação

Cristiane explica que em Londrina os serviços da Rede de Proteção são realizados de modo articulado com o Comitê de Gestão Colegiada da Rede de Cuidados e de Proteção Social das Crianças e Adolescentes Vítimas ou Testemunhas de Violência - e seguem o Fluxo de Proteção organizado na Rede pelo Comitê. "A Rede Municipal de Educação de Londrina, por meio da Gerência de Educação Especial e a Coordenadoria de Mediação e Ação Intersetorial - COMAI, integra uma Rede de Serviços. "E atuamos nos territórios com o Programa Professor Mediador e Facilitador Escolar e Comunitário - PMFEC, que auxilia as unidades educacionais da Rede nas ações de proteção a crianças e adolescentes, através de visitas às famílias, escuta especializada de crianças e adolescentes vítimas ou testemunhas de violência e a articulação com os demais serviços da Rede de Proteção", detalha. As unidades educacionais estão orientadas a sempre que identificarem uma suspeita ou caso de violência contra as crianças e adolescentes, devem enviar email à COMAI, através do endereço: [email protected].

Violência é caso de polícia

Para Marcio Antunes, do NUCRIA, a sociedade brasileira sempre foi muito conivente com a violência contra crianças e adolescentes
Para Marcio Antunes, do NUCRIA, a sociedade brasileira sempre foi muito conivente com a violência contra crianças e adolescentes | Foto: Divulgação

Para o Especialista em Gestão Pública e Mestre em Serviço Social Marcio Antunes, a sociedade brasileira sempre foi muito conivente com a violência contra crianças e adolescentes - haja vista a normalização da utilização de agressão física com fins educativos. "As palmadas", sinaliza. Com 24 anos de atuação profissional, Antunes trabalha na Delegacia Especializada da Polícia Civil NUCRIA Londrina (Núcleo de Proteção à Criança e ao Adolescente Vítimas de Crimes) e expõe: "No entanto, com o advento do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, há 31 anos, zelar pelos direitos de crianças e adolescentes passa a ser papel de todos, inclusive o de denunciar a violência", adverte. "Com o cenário mundial da pandemia, recrudesceu em todos os cantos a violência contra crianças e adolescentes, agravado pelo isolamento social", afirma. E de seu ponto de vista, os educadores possuem papel fundamental dentro de todo esse contexto. "Na superação da cultura da violência, difundindo a cultura da paz e formas não agressivas de educar crianças e adolescentes", pensa.

Jogo interativo, preventivo e gratuito

O jogo "Cartas à Comunidade Educativa”, orienta profissionais das escolas e dos espaços de educação não-formal sobre a revelação espontânea de violência contra crianças
O jogo "Cartas à Comunidade Educativa”, orienta profissionais das escolas e dos espaços de educação não-formal sobre a revelação espontânea de violência contra crianças | Foto: Divulgação/

Criado em 2010 pelo Grupo Marista, o Centro Marista de Defesa da Infância (CMDI) promove iniciativas de proteção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes. Entre os diversos projetos do CMDI, o destaque é a campanha “Defenda-se” - ( https://defenda-se.com/ ). que, por meio de uma série de vídeos educativos com linguagem acessível e amigável, debate o tema da violência contra crianças e adolescentes.

Neste ano, as ações ganharam um reforço estratégico: o lançamento da versão gratuita de um jogo interativo, chamado “Cartas à Comunidade Educativa”, que orienta profissionais das escolas e dos espaços de educação não-formal sobre a revelação espontânea de violência contra crianças. De acordo com a pedagoga do Centro Marista de Defesa da Infância e responsável pela campanha, Cecília Landarin Heleno, o material "Cartas à Comunidade Educativa" contribui para que os adultos identifiquem sinais de violência, compreendam a relevância de sua participação e conheçam os procedimentos necessários para a proteção. Além disso, estão disponíveis 13 vídeos com orientações fundamentais para a prevenção de atos de agressão sexual que podem ser vistos pelas crianças sem acompanhamento, utilizados em atividades na escola ou vistos por todos os membros da família - até em casa.

Heleno considera que ao terem acesso a informações cientificamente corretas, acessíveis e adequadas a cada idade, meninas e meninos serão capazes de identificar situações de risco e relações abusivas em seus cotidianos e, a partir disso, denunciarem as violações para os canais conhecidos, mas principalmente aos adultos de confiança. Ainda que intimidados, Heleno considera que é preciso investir na confiança das crianças e dos adolescentes. "Quando uma criança conta para um adulto, confia a ele uma história de sua intimidade e que neste tema está repleta de marcas, uma confusão de sentimentos e tem o direito de ser escutado e seus sentimentos acolhidos". E complementa: "Crianças e adolescentes são sujeitos de direitos, estão em desenvolvimento e devem ser protegidos contra qualquer forma de violência, bem como expressar seus sentimentos e terem suas opiniões consideradas", enfatiza.

Sobre a relevância do assunto, Heleno considera fundamental que toda a sociedade contribua para a oferta de serviços em ambientes livres de violência ao promover ações preventivas e, ao identificar uma suspeita ou revelação acolher, encaminhar para os órgãos competentes, garantir o acompanhamento e apoio para superação. "Somos responsáveis pela prevenção e pela proteção, e quando identificamos uma violação de direitos contra uma criança ou adolescente, temos o dever de auxiliá-lo na superação e na reparação." Mais informações: http://www.centrodedefesa.org.br

A campanha “Defenda-se” aumenta  as chances das crianças identificarem situações de violência sexual no contexto familiar, escolar e em outros espaços de convivência
A campanha “Defenda-se” aumenta as chances das crianças identificarem situações de violência sexual no contexto familiar, escolar e em outros espaços de convivência | Foto: Divulgação