No Brasil, o mês de junho é conhecido pelos festejos populares, tradicionalmente chamados de festas juninas. É nesta época, portanto, que muitas escolas organizam seus eventos envolvendo toda comunidade, sobretudo, os alunos. Porém, mais que momento de celebração, as escolas aproveitam o momento para trabalhar conteúdos que façam a contextualização da festa desde sua origem ao seu propósito. Nesta trajetória, é importante motivar os alunos a buscarem as respostas para, então, compreenderem os motivos de toda tradição, já que as festas englobam uma série de atividades tais como danças típicas, roupas, fogueira, além dos quitutes, grande parte à base de milho.

Considerando que na maioria das celebrações populares existe um aspecto cultural e histórico a ser levado em conta, Eliane Candotti, integrante da equipe pedagógica da Secretaria Municipal de Educação de Londrina, explica que a temática do período é inserida nas competências e habilidades na realidade escolar. “O conteúdo é ampliado para além do lado lúdico de um dia de dança e comidas. Assim, anteriormente, tratamos o momento como tema a ser visto pelo contexto histórico, geográfico, abordando as tradições orais, as memórias familiares, modos de vida do campo, além da data como manifestação artística e cultural do povo brasileiro, por meio das disciplinas como Arte, Educação Física, História, Literatura e, até mesmo, Matemática”, explica.

É sabido, contudo, que as festas juninas fazem referência a Santo Antônio (13 junho), São João (24 de junho) e São Pedro (29 de junho), santos da igreja católica. Por isso mesmo, com vistas a abarcar todas as crenças religiosas, a denominação do evento mudou. De uns anos para cá, são chamadas, geralmente, como “Festa do Campo” ou “Festa da Roça”, remetendo aos costumes caipiras. “Temos a preocupação na liberdade e a pluralidade de crenças que devem ser respeitadas. Dessa forma, o que entra em destaque é a conotação cultural da festividade e de que maneira ela reflete as práticas e a formação do caipira e, consequentemente, do homem brasileiro.”

Nesse sentido, segundo Candotti, os estudantes e familiares vão compreender que as festas em questão carregam influências variadas, de povos europeus à tradição indígena (que usava alimentos como o milho e o amendoim em rituais), da figura do vaqueiro aos personagens folclóricos. “É uma forma de valorizar a cultura nacional e, também, trazer conteúdos regionais, muitos deles elementos considerados patrimônios culturais imateriais. Há espaço, então, para analisar como os alimentos interferem na cultura de um povo, o simbolismo das cores e seus significados e assim por diante.” Já o arraial em si, é a culminância de tudo isso, uma confraternização com as famílias dos alunos, fortalecendo vínculos entre pais, filhos e comunidade escolar.

No mês de junho, o Brasil resgata a cultura dos 'arraiás', mas desde suas origens as festas vêm sofrendo mudanças culturais
No mês de junho, o Brasil resgata a cultura dos 'arraiás', mas desde suas origens as festas vêm sofrendo mudanças culturais | Foto: Vergani Fotografia/ Shutterstock.com

Outro motivo para que as escolas da rede trabalhem com as festas populares, ainda que tenham surgido com viés religioso, é que as competências e habilidades propostas pela BNCC (Base Nacional Comum Curricular) devem ser trabalhadas dentro e fora da sala de aula, no ambiente escolar como um todo, seja em eventos ou manifestações culturais. “Sendo assim, as festas de junho são uma oportunidade de implementar algumas dessas orientações”, diz, lembrando que o documento propõe uma série de etapas a serem desenvolvidas ao longo da Educação Básica para que se tornem cidadãos mais críticos e conscientes.

Um acontecimento para toda comunidade

As festas típicas do meio do ano são contagiantes. Se o clima de inverno faz as pessoas terem vontade de ficarem aninhadas, cada qual em suas casas, os convites dessa época, por si, animam. O texto informal diverte e arrebata o convidado, as bandeirinhas coloridas contentam e os quitutes são mais que atrativos. Quermesse, festa caipira, junina, cultural ou mesmo julina são alguns dos nomes para os eventos que reúnem pessoas, costumes e são essencialmente populares.

A Diretora da Escola Municipal Francisco Pereira de Almeida Júnior, Ivete Pimental, explica que a festa típica do Chiquinho, como é conhecida a escola localizada na região leste, é uma tradição não só para os alunos, mas toda comunidade. A unidade conta com 657 educandos - do pré 4 ao 5º ano. “A nossa acaba sendo sempre em julho. Nesse ano, será no dia 6, o primeiro sábado de julho e é resultado de atividades interdisciplinares”, observa.

Nas danças, nos pratos e trajes, estão presentes lições aprendidas nas aulas de Artes, História, Ciências e Filosofia, por exemplo. “Nossa comemoração tem as danças tradicionais, o pau de festas, as barracas, sendo a mais prestigiada a do pastel, assim como a pescaria, o saco surpresa e o quentão sem álcool”, cita. Alunos e ex-alunos marcam presença e levam tios, pais e padrinhos. “Para que não falte nada, fazem cálculos, colocam a matemática na ponta do lápis para saber quanto de bebida, comida e prendas serão necessários para deixar a festa perfeita”, explica a professora Ivete. Mas já adianta: “Canjica, cural, e milho cozido são os primeiros a serem consumidos. Acabam rapidinho de tão gostosos”.

Mesmo com a s mudanças de enfoque, as comidas típicas continuam sendo um dos pontos fortes dos festejos juninos
Mesmo com a s mudanças de enfoque, as comidas típicas continuam sendo um dos pontos fortes dos festejos juninos | Foto: Vergani Fotografia/ Shutterstock.com

O suor do homem do campo e toda a cadeia produtiva que se desenvolve por meio de grãos como o do milho, viram conteúdo de estudo e, nessa época, motivos de festa. O estouro da pipoca simboliza a explosão de alegria. Feito pipoquinhas, as crianças, cheias de saúde, pulam, reproduzem passos e versos de 'arraiás' que enaltecem o nordeste brasileiro. “Ninguém matava, ninguém morria. Nas trincheiras da alegria. O que explodia era o amor. Nas trincheiras da alegria . O que explodia era o amor”, diz a composição de Moraes Moreira e Abel Silva, que une gerações e aparece com força também nestas festas.

Assim como os pares de quadrilha, teoria e prática, coladinhos, mostram como a educação vale a pena. As festas do interior são originais e organizadas. “Há danças que tem origem no campo, outras na corte e os alunos sabem suas diferenças, assim como o fato de que a calça remendada na festa não ser um desleixo do homem do campo, mas um forma de homenagear quem trabalha debaixo de sol, usa chapéu de palha para se proteger e costura a roupa reutilizando-a”, valoriza a professora.