Escolas municipais formam plateias para a contação de histórias
12º Encontro de Contadores de Histórias (ECOH) mostra a importância de difundir a arte nas escolas públicas num exercício de literatura oral
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 28 de agosto de 2023
12º Encontro de Contadores de Histórias (ECOH) mostra a importância de difundir a arte nas escolas públicas num exercício de literatura oral
Walkiria Vieira
Despertar o interesse dos alunos e ampliar suas expectativas é parte do processo de formação de um cidadão. Há 12 anos, o Encontro de Contadores de Histórias (ECOH) realiza uma parceria com escolas públicas e ações que integram professores e alunos. Além das oficinas de formação para os educadores, a arte chega encantando a todos por meio de contações de histórias e apresentações de artistas de diferentes partes do País.
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As narrações contribuem para o aprendizado e o convívio entre as crianças. Os professores também aproveitam para aprender técnicas de narrativa oral nas oficinas para usar como recurso pedagógico. A gestora cultural e bibliotecária Leticia Baptista Pires atua na Biblioteca Eugênia Monfranati sabe da importância da formação e considera que a contação de história é uma ferramenta potente também para a formação dos alunos - pois por meio dela, de forma lúdica, a criança se aproxima da literatura, melhora seu vocabulário e escrita.
"E ainda trata questões internas, pois muitas vezes a criança não consegue lidar com outras situações emocionais e afetivas", cita. "Também possibilita o diálogo com a escola, colegas e familiares, já que a criança interessada em histórias gosta de compartilhar com as pessoas próximas, melhorando seu repertório e aprendizagem", acrescenta.
Em relação às visitas das crianças a bibliotecas, Baptista lembra que para muitos esse é um momento lúdico e de aprendizagem diferenciado. "Pois de maneira brincante a criança se apropria de histórias e da leitura, fazendo com que esse momento seja algo prazeroso. A biblioteca também cumpre seu papel de incentivo a leitura, ao livro e à literatura, quando a comunidade ocupa seus espaços culturais, exigindo melhorias e manutenção desses equipamentos, que são tão importantes para a população", sustenta.
MEDIAÇÃO CONTAGIANTE
Aliny Perrota, educadora responsável pelo apoio pedagógico de Língua Portuguesa da Secretaria Municipal de Educação, fala da importância da parceria com o festival. “Desde o 1º ECOH, temos a felicidade de poder contar com esse evento dentro das nossas escolas. O ECOH sempre proporciona apresentações para os nossos alunos, seja dentro das próprias escolas ou em locais em que levamos nossas turmas."
Perrota destaca que as as oficinas voltadas para os professores são bastante valorizadas por todos. "Nelas, eles se reabastecem com histórias, técnicas e muitas reflexões acerca da leitura, oralidade e narrativas". Para a educadora isso tem um impacto positivo na sua prática escolar. "A formação do mediador de leitura é imprescindível para que possamos levar o melhor da literatura para os 40 mil alunos da rede. O ECOH com certeza é um divisor de águas, sempre trazendo grandes profissionais que contribuem muito para a nossa formação", afirma.
A pedagoga Sonia Maria Pedroso trabalha na escola Municipal Prof. Geni Ferreira e confirma a importância do preparo de mediaores. Formada em Contação de Histórias pela FATUM, atua como mediadora de Leitura e auxiliar. Como mediadora de leitura, recebe formações da Secretária de educação por meio do Projeto Palavras Andantes.
De seu ponto de vista, as formações representam um investimento precioso em sua carreira e para todas que atuam com a mesma função. "Essa pegada de incorporar a formação com o calendário do ECOH oportuniza um crescimento no que diz respeito a novos conhecimentos para que possamos levar até nossos alunos", pensa.
Pedroso observa que os convidados contribuem para o avanço individual de cada profissional ao trazer ideias para o dia a dia. "Mediar a leitura, contar histórias exige muito cuidado, pesquisas e planejamento e sair de uma boa oficina é sair renovada, com novas ideias e encantamentos, aprendemos a controlar o tom de voz, o aproveitamento do espaço, a utilização de figurinos, de objetos, a utilizar uma técnica que até então não conhecíamos, enfim, é uma oportunidade de fomento à leitura, ao ouvir, e que tanto nossos alunos precisam para tornarem-se leitores pelo prazer de ler", valoriza.
CONTATO AFETIVO COM O TEXTO
É preciso preparo para assumir o título de contador. Diante da responsabilidade de prender a atenção e encantar, o reconhecimento dessa necessidade. O narrador e palestrante Giuliano Tierno já participou do Encontro de Contadores de Histórias de Londrina e nesta edição do evento, integra a comissão organizadora como curador, auxiliando na avaliação dos projetos inscritos no edital de seleção.
Seu currículo resumido causa respeito: é Doutor e Mestre em Artes pelo Programa de Pós-Graduação do Instituto de Artes da Unesp com Licenciatura plena em Educação Artística . Possui habilitação em Artes Cênicas pelo Instituto de Artes da Unesp. É sócio fundador d’ A Casa Tombada – Lugar de Arte, Cultura, Educação, sediada inicialmente na cidade de São Paulo, hoje instalada em Bragança Paulista. Também atua como coordenador geral dos cursos de pós-graduação d’A Casa Tombada.
Acerca do que a contação que representa na formação do estudante, Tierno reflete: "A gente costuma brincar que é o primeiro leite filosófico, o conto, que é quando a criança vai conhecer alguns elementos da oralidade, que não se limita ao texto, mas ele tem uma outra coisa que é o contato afetivo com o texto, com a palavra", avalia.
De seu entendimento, quem está narrando, também está compartilhando esse lugar dos afetos. "Tanto os afetos que acometeram aquele contador de história, que tem a ver com a relação que ele teve com aquela história, a experiência que ele teve. E também com a experiência que ele está tendo ali naquele exato momento presente com quem ouve".
E conclui: "Portanto, tem essa dimensão de uma formação afetiva, com memória afetiva, que apesar de parecer que valorizamos pouco, ela tem uma grande influência na nossa experiência depois com as palavras e a ideia de tranmissibilidade que vamos ter ao longo da vida".
No que diz respeito aos atributos que fazem um bom contador de histórias, o expert explica que o principal é se atentar a um tripé. "A narração de história ou uma sessão de histórias baseia-se num tripé: quem conta, quem ouve, que é a audiência, e o conto. Cabe então ao contador estudar esses três elementos, ou seja, a forma de contar história, ter um compromisso com o seu repertório e citar fontes e tudo isso ter um estudo dessa relação da interação com a audiência", pontua.
A psicopedagoga e professora de Educação Física Elis Blumer acredita que a criança aprende a partir de experiências e essas experiências são passadas por meio das histórias. "Acompanho o ECOH desde 2015e costumo falar para meus alunos que histórias que são ouvidas e não são recontadas ficam esquecidas e que as histórias que a gente reconta vivem nas almas e corações de quem ouve", avalia.
Blumer sabe também que as contações de histórias fazem com que as crianças possam embarcar num mundo de fantasias que se contrasta muitas vezes com a realidade delas. "Isso auxilia tanto no processo de alfabetização, como também em toda a formação para habilidades sociais. Sem contar que a arte de contar histórias faz parte da nossa cultura e essa valorização cultural precisa estar presente no ambiente escolar", reflete.
SERVIÇO
12º Encontro de Contadores de Histórias de Londrina
Até dia 31 de agosto de 2023
Patrocínio: Promic - Programa de Incentivo à Cultura e Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de Londrina
Programação:Site da Ecoh