A rede municipal de ensino oferece introdução à tecnologia a seus alunos desde a Educação Infantil e um dos propósitos é democratizar o acesso a ferramentas digitais. Ao todo, 5 mil tablets irão compor o acervo de 141 unidades de educação, contemplando as 88 escolas municipais, os 33 Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs) e 20 Centros de Educação Infantil (CEIs) filantrópicos conveniados com o município. Isso soma-se à digitalização já presente nas escolas.

Todas as regiões da cidade, incluindo a zona rural, estão contempladas no planejamento. O investimento total, com recursos próprios municipais, representa R$ 21.142.800,00 – ou cerca de R$ 7 milhões por ano, durante os 36 meses de execução contratual (R$ 587.300,00 por mês.)

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Em meio ao entusiasmo da rede municipal, dois fatos vieram à tona: um foi o anúncio do governo de São Paulo decidir no final de julho substituir os livros didáticos impressos por versões digitais a partir do próximo ano em alguns níveis das escolas públicas do estado, uma decisão criticada por especialistas em educação e editoras.

O outro, é o relatório publicado pela Unesco em 26 de julho, que traz um alerta sobre o uso da tecnologia em sala de aula e sinaliza acerca de que o de celular em aula pode ter um impacto negativo se for utilizado de maneira inadequada ou excessiva. Dados de 14 países apontam que a proximidade de um smartphone na sala pode distrair os estudantes e impactar negativamente a aprendizagem, porque eles perdem o foco nas atividades escolares.

Isso não significa que o uso de tecnologia não é recomendado e que a Unesco esteja sugerindo o banimento do celular nos ambientes escolares. A discussão é como e para que a tecnologia é utilizada; ela precisa estar alinhada com os processos pedagógicos e seu uso deve ser direcionado pelo professor, reforça o relatório.

A Secretária de Educação, Maria Thereza Pascoal de Moraes considera que o acesso a todos os alunos é de fato um motivo para se comemorar. "O tablet realmente é uma conquista. Quem não se lembra das antigas salas de informática que existiam na escola? E nos dias de hoje, não faz sentido que seja daquela forma, não é mesmo?", pensa.

Moraes compreende a educação digital como uma ferramenta integrada ao ensino clássico. "A informática, a tecnologia não são um fim, mas um meio. Um meio para se aprender, um meio para estudar, para incentivar a leitura e, com certeza, os professores agora poderão dispor de mais uma estratégia e uma estratégia que já reconhecemos que todas as crianças gostam muito", diz.

De acordo com a Gerente de Ensino Fundamental, Adriana Biason, Londrina não está deixando os livros de lado. "Diferentemente do que aconteceu em São Paulo e em outras iniciativas, nós não estamos substituindo nenhum material nosso. Mas sim, trazendo mais uma possibilidade de trabalho e mais uma possibilidade de ensino para nossas crianças".

Para que os equipamentos entrem em ação, existe estudo, planejamento e aprendizado por parte de cada escola para que os planos de educação digital sejam integrados ao ensino tradicional que inclui livros didáticos. "Começamos a formar um professor que a gente chama hoje de mediador de TEDIC, que é um professor comum, mas que recebe uma formação específica voltada toda para uso de ferramentas digitais".

O objetivo da formação é que graças ao treinamento dos mediadores, é possível otimizar o conhecimento e multiplicá-lo. Na prática, o professor regente habilita-se e insere, no cotidiano escolar. "Com todos os componentes curriculares, português, matemática, história e geografia", cita Biason.

ESCOLAS EQUIPADAS

Na Escola Municipal Professor José Gasparini, os 378 alunos já comemoram a novidade. De acordo com diretora Patrícia Ribeiro de Ávila, esse aparato representa um instrumento a mais de aprendizagem. As crianças do José Gasparini já usam celulares, pois na escola há um kit compartilhado.

A diretora relata que o equipamento dá dinamismo às aulas: "São baixados jogos relacionados à alfabetização e é possível explorar os conteúdos de Língua Portuguesa, Ciências, Geografia e História, assim como utilizar jogos relacionados à alfabetização. Um estudo do sistema solar por si só é motivador. Com o uso da tecnologia é possível explorar de modo mais concreto o tema com os óculos de realidade virtual", afirma Ávila.

E.M Machado de Assis: acesso digital desde a alfabetização até o 5º ano
E.M Machado de Assis: acesso digital desde a alfabetização até o 5º ano | Foto: Divulgação

Na Escola Municipal, Machado de Assis, localizada na zona Sul de Londrina, a diretora Débora Zemuner Rossini, conta que os kits de celulares compartilhados são usados em sala de aula pelas turmas. "Além dos aparelhos de televisão, o celular chega como uma mídia que contribui para a formação", avalia a diretora.

A unidade atualmente oferece atendimento para 303 alunos do P5 ao 5º ano, sendo a maioria residente nos bairros Nova Esperança, Usina Três Bocas e Vale Verde. "Os nossos alunos já usam os kits de celular e eles sabem que é um uso orientado, não os usamos todos os dias e trata-se de um uso dirigido, houve treinamento, existe uma adequação a cada turma. Assim, não se trata de um uso aleatório, sem planejamento", observa.

Débora Zemuner Rossini, diretora da E.M Machado de Assis: "O celular chega como uma mídia que contribui para a formação"
Débora Zemuner Rossini, diretora da E.M Machado de Assis: "O celular chega como uma mídia que contribui para a formação" | Foto: Divulgação

A PANDEMIA E O PROCESSO DIGITAL

Desconsiderando os graves problemas trazidos pela pandemia, ela exigiu que as mídias digitais fossem usadas para dar continuidade aos estudos no período em que o distanciamento era uma regra na sociedade. Plataformas, ferramentas, aplicativos e redes sociais entraram no cotidiano de um modo essencial.

Biason compreende todo esse cenário foi um verdadeiro divisor de águas no campo educacional. Se os livros estavam sempre à mão, foi o momento de se apropriar de outros meios para fazer a lição chegar até a casa dos alunos. "Isso fez com que a gente saísse um pouco da nossa zona de conforto e tentasse aprender a usar as ferramentas como uma nova forma de ensinar o mesmo conteúdo, mas em um outro meio", recorda.

Em relação à presença da tecnologia na rotina das famílias, Biason considera que o papel na escola nesse processo é de grande importância. "Sabemos e precisamos enxergar que hoje os nossos alunos estão mergulhados e imersos no mundo digital, são praticamente nativos e precisamos atuar com essa informação e buscamos chegar às crianças de P4 e P5 com os equipamentos", ratifica.

A educadora destaca também que para essas crianças e suas a especificidades da faixa etária, houve o planejamento baseado no cuidado com a exposição das telas. "Não haverá exposição predatória porque as escolas vão usar isso na forma de cronograma e com planejamentos prévios, com tempo marcado, com horário previsto, dentro de um planejamento contextualizado."

Ou seja, a educação digital chega como um recurso a mais. "Por exemplo, realidade virtual é fonte inesgotável de pesquisa e também de sistematização de conhecimentos e, nesse caso, um tablet representa uma ótima configuração", afirma Biason.

O município também investiu em filtros. "Para que as ferramentas se ajustem as necessidades de ensino e aprendizagem a cada tempo escolar".