No ano letivo de 2022, 619 alunos da rede municipal de educação foram diagnosticados com TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade. Em 2021, eram 794 e em 2020, 945 estudantes. De acordo com a Gerente de Educação Especial da Secretaria Municipal de Educação, Cristiane Sola, chegar a um diagnóstico é um trabalho feito em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde.

A sala de aula é o ponto de partida. "Quando o professor percebe que a criança apresenta um nível de desatenção na atividades ou uma agitação para aquela faixa etária, a escola entra em contato com o setor de Educação Especial do Município para que seja feita uma avaliação pedagógica", explica.

Durante três meses, é realizada uma intervenção, na qual o professor regente observa as características do estudante: sinais de agitação, desatenção, impulsividade. Ao mesmo tempo em que em casa, a família traz informações do contexto familiar e a intensidade dos comportamentos.

Sola considera que esse primeiro momento é muito importante para se chegar a um diagnóstico que tem como objeto o desenvolvimento escolar e social do aluno. "A família é uma grande parceira nesse processo", afirma. Após três meses desse fluxo de informações, há o encaminhamento médico, que pode ser via Unidade Básica de Saúde, ou via plano de saúde da família.

A gerente de Educação Especial esclarece que pular, brincar e correr são hábitos normais de crianças. "As característica de TDHA são filtradas e é encaminhado para cuidados o aluno que realmente tem o transtorno e que não demonstra que está no desenvolvimento esperado de sua faixa etária. Terapia ou terapia combinada com medicação são alternativas para que o aluno melhore a concentração, a atenção e diminua a impulsividade", explica.

Com o objetivo de evitar prejuízos na vida escolar e social, um trabalho multiprofissional - pedagogo, psicopedagogo, médicos - é desenvolvido. "Todos os alunos com TDHA recebem atendimento na nossa rede em horário inverso ao escolar, é um direito deles e passam a ter um um plano de ensino individualizado e adaptado. Por exemplo, se é um aluno que se desespera com um número grande de atividades, então ela será fracionada para que ele seja contemplado dentro de suas necessidades", explica Sola.

Ao todo, 84 escolas - urbanas e rurais, do P 4 ao 5º ano do Ensino Fundamental contam com o atendimento preparado para avaliação, intervenção, atenção à família e os devidos encaminhamentos. Os 37 CMEIs - Centro Municipal de Educação Infantil e as unidades filantrópicas também são acolhidos.

ESCOLA E PAIS JUNTOS

A professora Elaine Eiko Torigoe Brandioli é mãe de Alan, aluno do 4º ano do Ensino Fundamental e matriculado na rede municipal. "Alan é inteligente, mas apresenta falta de atenção, dificuldade em manter o foco, impulsividade e, sem perceber, começa a brincar com o lápis, a tesoura". Esse é parte de um dos relatórios sobre o comportamento do aluno em sala. Do ponto de vista de Elaine, o filho precisa de ajuda, sim.

Interessada no desenvolvimento escolar de Alan, Brandioli expõe que se uniu a escola. "O município tem me ajudado muito e eu entendo que esse cuidado e atenção de agora também irão se refletir no futuro deles e na vida adulta. Por isso, diante do diagnóstico de TDHA, eu fui atrás de neurologista, recebi orientações e sigo com o apoio da escola na sala de recursos, coloquei no futebol e incluí a psicopedagogia", enumera.

Disposta e interessada, a mãe de Alan considera que os pais devam ter uma postura de proteção, enfrentamento e confiança, frente ao diagnóstico. "Alan está com 88 em Matemática no boletim", alegra-se. "Nossa conquista é maior porque caminhamos juntos com a escola". No momento, Brandioli está lendo o livro "Mentes Inquietas - TDAH: desatenção, hiperatividade e impulsividade", de Ana Beatriz Barbosa Silva, e esse é um de seus cuidados em sinal de atenção ao filho.

Psicóloga fala dos tipos e manifestação do transtorno

O TDAH - Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno de neurodesenvolvimento, que leva a impactos nas mais diversas áreas do desenvolvimento infantil. São caracterizados por sintomas predominantes de déficit de atenção, hiperatividade e impulsividade. Também podem aparecer sintomas como baixa tolerância à frustração, além de desorganização motora e espacial.

Relaciona-se ao sistema de recompensa dopaminérgico, levando o indivíduo a um baixo engajamento para tarefas sem recompensa imediata. A criança demonstra desinteresse e desmotivação, problemas de atenção executiva, não consegue finalizar as tarefas e apresentam déficit na memória operacional.

Thayana Garcia de Novaes Real é psicóloga da Secretaria de Educação de Londrina. Especializada em Saúde Mental, psicopatologia e Atenção Psicossocial e em Filosofia Moderna e Contemporânea, a profissional explica o tema, os tipos mais comuns e as formas de manifestação.

Quais são os tipos mais comuns?

De acordo com o DSM-V - Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, o transtorno é dividido em três tipos:

- Tipo Hiperativo-impulsivo, com características predominantes da hiperatividade, agitação e impulsividade.

- Tipo Desatento, onde há o predomínio da distração e desatenção. Podem também estar presentes características como introspecção e timidez.

- Tipo misto/combinado - demonstram características de ambos.

O transtorno pode se manifestar a partir de que idade?

Como todos os outros Transtornos do Neurodesenvolvimento, o TDAH manifesta-se na primeira infância, sendo que os sintomas poderão apresentar-se até os 12 anos de idade aproximadamente, na maioria dos casos. É importante que os pais fiquem atentos aos sinais e sintomas que muitas vezes já se manifestam de forma precoce. Mas precisamos lembrar que dependendo da idade da criança ela ainda está desenvolvendo a maturação neurológica para o controle inibitório, atenção e coordenação motora. O principal sinal de alerta para os pais é quando tais comportamentos trazem prejuízos funcionais à criança, como problemas no sono, nos relacionamentos interpessoais, baixo desempenho acadêmico, dentre outros. Surgindo a dúvida, a família deve procurar avaliação médica e psicológica.

Por que os professores e as escolas possuem um papel tão importante nesse processo? É na escola, diante das atividades em sala e grupo que esses comportamentos se tornam mais perceptíveis?

O TDAH é uma condição que exige maior atenção e manejo no ambiente escolar, pois pode levar ao fracasso acadêmico, aumentando o risco de reprovação, evasão e dificuldades no engajamento escolar. O papel da escola é fundamental tanto no reconhecimento de sinais, quanto no estabelecimento de estratégias didático-pedagógicas para facilitar o processo de aprendizagem.

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