"Precisamos debater mais sobre os excessos dos pais para com os filhos principalmente em redes sociais". O alerta é da psicopedagoga e neurocientista Fernanda Passarelli, que considera que a internet é um grande avanço tecnológico, porém precisa ser dosado, como tudo na vida. "A falta de limites tem sido tão intensa que muitas famílias passaram a correr mais riscos devido a superexposição - assalto, sequestro, pedofilia", reflete.

A psicóloga Fernanda Passarelli diz que "postar ou não postar fotos é uma decisão de cada um, o importante é sempre avaliar se essa exposição será saudável e segura para a família"
A psicóloga Fernanda Passarelli diz que "postar ou não postar fotos é uma decisão de cada um, o importante é sempre avaliar se essa exposição será saudável e segura para a família" | Foto: Christiano Balrini/ iStock

Passareli considera que deva haver bom senso e limites em relação a essa exposição. "Bom senso sempre. Afinal, a internet é uma janela aberta onde qualquer pessoa tem acesso. Considero muito preocupante expor a intimidade da família, seja algo bom ou ruim. Há não muito tempo, quando existia algum problema, costumávamos sentar com alguns amigos, poucos familiares e debater sobre o assunto, atualmente quase ninguém senta mais para dialogar, a situação é exposta na internet e muitas vezes as pessoas se sentem “consoladas” com a quantidade de curtidas e/ou frases rasas de otimismo.

De maneira aparentemente robótica, usuários descarregam imagens de suas intimidades. São aniversários, despedidas, a descoberta do sexo do bebê, o nascimento, o primeiro dia na escola, o rabisco na parede, a hora do sono e tantos outros momentos. "Nessa era digital, postar fotos de momentos com a família ou amigos virou quase uma obrigação. Postar ou não postar fotos é uma decisão de cada um, o importante é sempre avaliar se essa exposição será saudável e segura para a família", expõe Passarelli.

Como pais, educadores e todos os responsáveis pela formação devem perceber que estão no caminho errado? Por meio do diálogo e da observação. "A criança sinaliza quando não quer algo, basta os pais ouvirem e entenderem o motivo de, no caso, não querer exposição."

Outro ponto a ser destacado, de acordo com a especialista, é um erro dos pais comum dos pais e que precisa de corretivo. "A supervalorização do que a criança faz e o excesso de permissão dos pais para com os filhos têm contribuído para a formação de gerações fragilizadas psiquicamente e lidar com a dualidade de críticas e elogios em redes sociais tem sido desorganizador para as crianças, jovens e adultos". E orienta: "A base para o enfrentamento das frustrações começa em casa com os pais, no dia a dia, logo que a criança é bebê e ouve dos pais regras como não pode mexer aí , espera a sua vez", exemplifica.

Você sabe o que seu filho

deseja ser quando crescer?

Nos dias atuais, não é raro ouvir uma criança dizer que quando crescer será YouTuber e no consultório, o discurso se repete. "Tenho recebido pré-adolescentes que sonham em ser Youtubers. Eles sabem o que querem. Pergunto se eles sabem qual é a profissão do pai, da mãe e em 100% dos casos a resposta é negativa. Não é crime nenhum ser YouTuber, mas antes da decisão, vale os pais ficarem atentos com os interesses dos filhos já desde criança.

Os pais devem ampliar o repertório de conhecimento dos filhos mostrando a diversidade de atividades prazerosas que existem, falar sobre a profissão de cada membro da família e o mais importante, fazer o que gosta. Nós estamos expostos sempre! Em qualquer profissão haverá exposição, seja para apresentar um projeto da empresa, reunião com clientes e demais funcionários, etc. Para darmos conta de críticas precisamos ter uma base, essa base é construída na infância com os pais. Sempre pergunto para os pais: que adulto você quer que seu filho seja? Após a resposta eu convido os pais a desligarem o piloto automático e refletirem sobre a educação dos seus filhos. Isso pode ser trabalhoso, porém importante e necessário para formação de uma geração mais resiliente e saudável psiquicamente.