Com a reabertura de espaços públicos, Mariella e Fabíola promoveram  encontro das filhas Alícia e Clara
Com a reabertura de espaços públicos, Mariella e Fabíola promoveram encontro das filhas Alícia e Clara | Foto: Divulgação/arquivo pessoal

Pura e marcante, a amizade dos primeiros anos escolares fica na memória. Em 2020, logo no início do ano letivo, as aulas foram suspensas em razão da pandemia. As aulas online foram a alternativa e, sem o contato presencial, um sentimento tomou conta do coração de todos: a saudade. Do recreio, de compartilhar o lanche, daquele colega que sabia um pouquinho mais e ajudava a desfazer o nó na cabeça, da borracha emprestada , as idas à biblioteca e todas as atividades coletivas que são realizadas na escola.

Atual, o tema se transformou em um livro de alunos de 7 anos e segue presente no cotidiano de todas as escolas. No e-book, os alunos do 1º ano do Ensino Fundamental do Colégio Marista de Londrina, explicam o que é amizade, quais são seus benefícios e como um bom amigo se comporta. O texto e as ilustrações foram todos feitos pelas crianças, que ressaltam a importância do respeito, da empatia e da gentileza. O guia está disponível na internet neste endereço. O projeto foi iniciativa dos estudantes por meio do Projeto de Intervenção Social (PIS) realizado anualmente,

Da Educação Infantil aos anos seguintes , a interação teve que ser adaptada. Lançar mão da tecnologia deu certo e permitiu que bilhetes e mensagens durante reuniões ao vivo chegassem aos amigos da escola apartados pela pandemia.

De acordo com o coordenador do CMEI- Centro Municipal de Educação Infantil Valéria Veronesi, Valdir de Oliveira, o estudo à distância fortaleceu o vínculo entre a escola, professores e os pais. "A mediação dos pais foi essencial, acabamos entrando nas casas das famílias e como um dos eixos de nosso trabalho é a interação, a tecnologia ofereceu recursos e ferramentas dentro desse contexto e pudemos enxergar o potencial que temos à disposição, mesmo nesse nível de ensino em que as telas e monitores não ficam em primeiro plano", explica. "Eles conseguiram expressar seus sentimentos". acrescenta.

Encontro virou festa à fantasia: Os irmãos Heloísa e Felipe e os anfitriões Mateus e Elis: casa espaçosa para rever os amigos.
Encontro virou festa à fantasia: Os irmãos Heloísa e Felipe e os anfitriões Mateus e Elis: casa espaçosa para rever os amigos. | Foto: Divulgação/arquivo pessoal

A orçamentista Fabíola Papali, mãe da estudante Alícia, de 9 anos, considera que a ruptura do presencial teve efeito negativo. "Alícia é uma criança ativa, com a rotina organizada e os quatros primeiros meses foram de total isolamento, ela ficou sem contato com qualquer criança". Aluna da Escola Municipal Joaquim Pereira Mendes, Papali relata que com o passar do tempo, Alícia passou a dar sinais de ansiedade, comer mais e relutar em fazer as tarefas. "Vi que era necessário flexibilizar e chamei uma amiga que sabia que também estava em isolamento para vir em casa brincar com ela. Só depois de seis meses comecei a levar onde era permitido e recentemente chegamos a fazer uma piquenique ao ar ao livre quando as praças e parques foram liberados", explica.

Papali sabe que a filha sente falta da rotina, das amizades e observa que as novas brincadeiras como os jogos os online suprem de certa forma a carência estabelecida. "Sei que não é o ideal, mas esse contato pelas ferramentas digitais a deixa feliz e dentro dessa nova normalidade sinto que está mais equilibrada", expõe.

Arthur, 5 anos, em atividade realizada em casa: Os amigos fazem falta, mas interage com os irmãos em casa
Arthur, 5 anos, em atividade realizada em casa: Os amigos fazem falta, mas interage com os irmãos em casa | Foto: Divulgação/arquivo pessoal

A doula Tamires Somera é mãe de Rafael, de 10 anos, Heloísa, 7, estudantes da Escola Municipal Norma Prochet e de Felipe, de 4 anos, que estuda em uma escola particular. De seu ponto de vista, a pandemia os fez sentir falta das amizades da escola e também do local onde vivem, onde conviviam com muitos amigos. "Ficaram 120 dias trancados dentro de casa, depois passei a levar para darem uma volta de carro para ver a rua, mas sem descer e só o mais velho tem celular e manteve o contato com os amigos da escola e com os do condomínio. Para a Heloísa foi e está sendo mais difícil porque ela teve apenas 40 dias de aula, não conseguiu formar laços e mesmo com três amigas da escola que moram no nosso condomínio, não podiam se ver por esse período. A escola do Felipe fez videochamadas em grupo com três ,quatro amigos numa tentativa de suprir essa carência e não deixar que percam todo o ´vinculo, diz. Embora reconheça os pontos positivos das ferramentas digitais, com a liberação das praças Somera passou a se reunir com algumas mães. "Fomos também à casa da Karen, que é mãe do Mateus, onde tem um espaço amplo e seguro para se encontrarem", informa.

De certa forma, os irmãos gêmeos Arthur e Isaac, 5 anos, estudantes do CMEI Valéria Veronesi, e Davi, 7, estudante da Escola Arthur Thomas, ficaram na vantagem por serem três meninos com idades próximas. O trio é motivador. Empreendedora do ramo alimentício, a mãe Fernanda Ferreira da Silva, revela que sentiram falta da escola, mas o que mais mexeu com eles foi a suspensão das atividades extras como o futebol e jiu-jitsu. "Mesmo um tendo a companhia do outros, fez falta a rotina, mas com o tempo foram se acostumando e dei graças a Deus de ter os três porque entre eles as brincadeiras fluem. Arthur participou de uma atividade na escola e demonstrou que sente saudade da turma e da escola. Ele recebeu um recadinho de volta e ficou muito feliz", recorda. "Eles interagem muito nas aulas e acham o máximo ver os professores na tela do computador", fala.

Os irmãos  gêmeos Arthur e Isaac, 5 anos e Davi, 7: com três meninos em casa, brincadeira não falta
Os irmãos gêmeos Arthur e Isaac, 5 anos e Davi, 7: com três meninos em casa, brincadeira não falta | Foto: Walkiria Vieira