Alunos da rede municipal trocam cartas poéticas reunidas em livro
Projeto "Do Sonho ao Verso em Cartas" estimula a escrita criativa, o desenvolvimento da leitura e a aprendizagem de alunos de Londrina
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 19 de novembro de 2024
Projeto "Do Sonho ao Verso em Cartas" estimula a escrita criativa, o desenvolvimento da leitura e a aprendizagem de alunos de Londrina
Walkiria Vieira

Os reflexos do investimento em educação na formação de cidadãos são indiscutíveis. De modo incansável, criativo e por meio de diferentes ferramentas, educadores da Secretaria Municipal de Educação fazem jus à profissão - ainda que os desafios sejam parte da rotina. Além das atividades habituais fixadas no calendário letivo, projetos que incentivam a leitura, a produção textual e a aprendizagem contribuem de maneira ímpar nesse processo.
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Exemplo de práticas frutíferas e que merecem ser difundidas é o do projeto Coletânea “Do Sonho ao Verso em Cartas”, da professora Bruna Bolognesi Sabino e que contemplou as seguintes escolas da rede: Escola Municipal David Dequech, Escola Municipal Padre Anchieta, Escola Municipal Juliano Stinghen, Escola Municipal Áurea Alvim Toffoli, Escola Municipal Joaquim Vicente de Castro, Escola Municipal Pedro Vergara Correa.
A coletânea reúne cartas poéticas trocadas entre alunos da rede municipal de Londrina e o resultado foi um livro distribuído nas bibliotecas públicas. A ideia de transformar sonhos em poesia, mergulhar no autoconhecimento e se aproximar de outras crianças pela palavra avançou quando Sabino foi contemplada com o patrocínio do Promic – Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina – Secretaria Municipal de Cultura – Prefeitura de Londrina.
Com essa proposta, o projeto “Do Sonho ao Verso em Cartas” levou oficinas de escrita criativa a escolas municipais de Londrina, incentivando a participação de alunos e alunas do 5º ano do Ensino Fundamental. Graças a este apoio, foi possível levar a atividade a 325 crianças, em seis escolas.

DA REFLEXÃO À CRIAÇÃO
O desenvolvimento do projeto ocorreu em três momentos distintos. Na primeira etapa, os estudantes foram guiados em uma reflexão sobre o ato de sonhar, onde, por meio de dinâmicas e discussões, exploraram seus próprios sonhos, os noturnos e o de vida. Na segunda etapa, foram introduzidos à prática da escrita criativa e poética por meio de leituras e atividades em grupo, que permitiram a experimentação literária. A fase final foi a criação das cartas, nas quais cada aluno expressou suas aspirações e impressões utilizando materiais artísticos fornecidos pelo projeto. As cartas produzidas foram então encaminhadas para outras escolas participantes, formando uma rede de sonhos compartilhados.
De acordo com a proponente, as oficinas do projeto “Do Sonho ao Verso em Cartas” tiveram a função de possibilitar que as crianças londrinenses sonhem acordadas, utilizando o poder da escrita para isso. "A escolha de trabalhar a escrita criativa por meio de cartas poéticas vem da necessidade de proporcionar práticas significativas aos alunos, em momentos de troca e de conexão", explica.
Uma vez que os sonhos escritos foram compartilhados, a professora considera que criou-se uma ligação entre leitor e escritor e uma motivação para novas produções. "A fase de transição em que essas crianças se encontram, se aproximando da adolescência, foi levada em consideração para trabalhar questões como o sonhar e fantasiar, ao mesmo tempo que foi uma forma de apresentar possibilidades de caminhos a se seguirem e formas de fazerem suas vozes serem ouvidas", esclarece.
Por fim, com o lançamento do livro reunindo algumas das cartas escritas nas oficinas, representa uma forma de a cidade conhecer a proposta e desenvolver um novo olhar para as crianças, conhecendo suas fantasias e visões e, dessa forma, as acolhendo melhor. "Versões impressas foram deixadas nas escolas, a fim de valorizar seus trabalhos e motivar a continuidade de atividades envolvendo a escrita criativa", acrescenta. Foram meses dedicados a troca de experiências poéticas por meio de cartas, como forma de diálogo e integração entre diferentes regiões da cidade.

SONHOS UNIVERSAIS
Escritas e leituras marcam as oficinas. A coordenadora do projeto recorda que um aluno falou que a remetente da carta recebida contou que os pais dela eram divorciados e ele se identificou porque também vivenciou algo parecido”. Para a coletânea foram selecionadas 22 cartas com um repertório variado de sonhos.
Desde o desejo de ver o mar, à vontade de seguir uma carreira profissional e o puro prazer de acordar alegre depois de um sonho bom com pessoas queridas da família estão registrados. “Trabalhamos os sonhos tanto no sentido onírico quanto no sentido de “desejos”, “objetivos” de vida. Acredito que é importante pensar sobre nossos sonhos para nos conhecermos melhor. Muitas vezes não refletimos sobre o tema, que pode ser um direcionamento para nossas decisões e caminhos”, avalia.
Relata a professora que ao ler as poesias notou que essa foi realmente uma oportunidade de reflexão para as crianças. "Alguns elementos se repetem, o que considero uma forma de conexão entre elas. Ao mesmo tempo, as cartas revelam a singularidade de cada uma.”
As 17 turmas participantes do projeto receberão um exemplar impresso da coletânea “Do Sonho ao Verso em Cartas” como a materialização da experiência coletiva. O livro também estará disponível nas bibliotecas municipais tanto no acervo físico, quanto no virtual. A versão digital pode ser acessada aqui por qualquer pessoa interessada
A idealizadora do projeto revela que o que mais chamou a atenção nas cartas foi o fato de a maioria, além de conter os sonhos do aluno que a escreveu, também apresentava mensagens incentivando a pessoa que fosse ler a seguir os seus próprios sonhos. "Achei muito marcante ver o carinho na forma como eles se dirigiam a quem fosse ler, mesmo sem saber para quem a carta seria entregue", diz.
Apesar de muitas cartas falarem sobre sonhos e trazerem temas que muitas vezes se repetiam, Sabino afirma que também chamou sua atenção a diversidade existente entre elas. "Lendo os textos podemos perceber como cada um que escreveu era único, assim como seus sonhos".
Os alunos conseguiram surpreender a professora: "Eu me surpreendi muito, de diversas maneiras diferentes. Primeiro com a recepção deles no momento das oficinas mesmo. Eu sempre saía muito alegre e leve dos encontros, porque era recebida com muito carinho. Durante o processo de escrita, ia acompanhando e auxiliando quando necessário, mas mesmo assim me surpreendia quando parava para ler as cartas com calma depois. Eles são muito criativos e demonstraram um cuidado muito bonito com suas palavras", encanta-se.

