A história contada pelos hinos: cânticos partilham fatos e contribuem para formação sociocultural
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terça-feira, 25 de maio de 2021
Walkiria Vieira - Grupo Folha
Na contracapa do caderno brochura, o Hino Nacional. Mais que uma impressão, a letra que valoriza o patriotismo, o reconhecimento à terra natal, suas belezas e conquistas passa, de geração em geração - com um conteúdo histórico e relevante que não cessa com o tempo. Hinos são definidos como cântico, poema de invocação ou adoração, dotados de composição musical acompanhada de versos em louvor de uma personagem ou acontecimento.
Os versos aprendidos nos primeiros anos escolares são parte de atividades cívicas na escola e também em diferentes solenidades ao longo da vida adulta. Aprender o hino e não decorar é o objetivo de educadores e, nas diferentes faixas etárias, atividades criadas para esse fim são promovidas junto aos alunos. Os versos do Hino Nacional: "Nossos bosques têm mais vida, nossas vidas mais amores" são positivos, carregados de otimismo e outros trechos promovem o sentimento de satisfação e orgulho.
De acordo com a coordenadora pedagógica da Escola Municipal Pedro Vergara Correa, Hélvia Machado, durante toda a vida escolar os alunos passam por essa vivência. Localizada no Conjunto Mister Thomas, zona leste de Londrina, a unidade atende 350 educandos, do P4 ao EJA (Educação Jovens e Adultos).
"Antes de a pandemia nos impor distanciamento e até a suspensão das aulas, a prática era executar o Hino Nacional todas as segundas-feiras." O respeito, a postura e recomendações como não aplaudir eram observados. A coordenadora destaca ainda que a Lei Federal 12.031 de 2009 segue em vigor: "Nos estabelecimentos públicos e privados de ensino fundamental, é obrigatória a execução do Hino Nacional uma vez por semana", reza o ordenamento. "Agora que você trouxe esse assunto, vamos ter que ver de que modo será feita a execução do hino durante as aulas presenciais e respeitando os protocolos de segurança", reflete.
Hélvia Machado considera que, mais do que obrigatoriedade, apresentar os hinos é uma prática muito assertiva e representa um elo com a Pátria. "É interdisciplinar e desenvolve o respeito, traz conhecimento da história, de sua formação e o sentimento de pertencimento, assim como o de esperança e proteção". A educadora lembra também que durante o desenvolvimento do projeto "Palavras Andantes", os hinos eram trabalhados na biblioteca. "Em atividades artísticas, de História e respeitando o universo de cada turma, conforme a idade." Machado aponta: "Já na primeira estrofe, há uma palavra que pode causar estranhamento de acordo com o vocabulário. É a palavra 'fúlgidos'. Então, dentro do contexto, explicamos que são raios de sol que brilham com bastante intensidade e eles visualizam essa representação e passam a falar com entendimento. Nos anos seguintes, é trabalhada a interpretação de texto. "Não só do Hino Nacional, mas os hinos da Bandeira, da República, da Independência, do Paraná e de Londrina."
Sobre as dificuldades presentes na letra, é possível encarar o cântico como uma fonte de conhecimento e, ao passar por palavras estranhas ao vocabulário do cotidiano, buscar seus significados, ampliar o léxico e dividir o saber. Uma das falhas mais comuns ouvidas durante a execução é a falar "fortes" no lugar de "forte". "Se o penhor dessa igualdade / Conseguimos conquistar com braço forte/ Em teu seio, ó liberdade/ Desafia o nosso peito a própria morte!" Da vontade de enfatizar a conquista, escapa um "s", mas com esclarecimento, fica fácil assimilar e cantar sempre forte - no singular.
Em 2019, a Escola Municipal Pedro Vergara Correa celebrou 30 anos, embora não tenha um hino, alunos, egressos, professores e convidados entoaram o hino do município. "Criamos a mascote a bandeira da escola e reforçamos, junto à disciplina de História e em atividades pontuais que, além do Hino Nacional, os outros símbolos da República devem ser respeitados e valorizados são a Bandeira Nacional, as Armas Nacionais e o Selo Nacional.
Letras e músicas que colaboram
Para a construção da cidadania
Do ponto de vista do historiador Leandro Henrique Magalhães, os hinos carregam consigo valores. "Os hinos são elementos fundamentais para a construção de identidade de pertencimento a uma localidade - pode ser uma nação, uma cidade." E dá um exemplo popular: "Existem os hinos de futebol que dão esse sentimento de que eu pertenço a um grupo, a uma nação, a uma cidade e esse sentimento de pertencimento tem a ver com identidade, quando eu me identifico com o outro, quando eu me reconheço com quem está próximo a mim, que compartilha de valores, sentimentos e elementos que são fundamentais para construirmos uma vivência coletiva, uma vivência em grupo".
Por isso, para Magalhães, é importante trabalhar com os hinos na escola. "Porque ali você vai começar a construir um sentimento de pertencimento e identidade a uma nação e a uma cidade. Compreender a composição do hino e entender o seu significado é compreender também os valores que estão vinculados àquele hino, quais são os elementos que estão naquele hino e que ajudam a entender quais são os valores que estão marcando essa concepção de nação", explica.
Guimarães salienta ainda que o marco fundador é condição crucial. "Quando trato de hino nacional, ou do município, parto do princípio de que ele está vinculado ao marco fundador. Ou seja, há um momento histórico que tem que ser considerado. O nosso Hino Nacional, por exemplo, é o marco fundador da República brasileira, então quando a escola vai trabalhar esse hino deve ser explicado e entendido o que significa o hino naquele contexto. Ao mesmo tempo que ele tem o elemento de identidade que nos ajuda a compreender o que significa pertencer a algo, também temos que entender o seu contexto naquele momento histórico e como foi sendo transformado e apropriado no decorrer do tempo, no decorrer da história", detalha.
Por patriotismo, família canta hino unida
A autônoma Tatiana Guimarães, mãe da estudante Ana Catarina Guimarães Anizelli, 8 anos, sente satisfação ao afirmar que sua filha, aluna da Escola Municipal Arthur Thomas, no centro de Londrina, sabe cantar o Hino Nacional mesmo antes de ele ser apresentado pela escola. Tatiana reconhece que esse foi um costume transmitido por seus pais e ela dá sequência a essa geração.
"Em casa, aprendemos e ensinamos a força que tem um hino para uma nação. Meus pais sempre nos ensinaram a sermos patriotas em casa", recorda Guimarães. Além disso, revela: "Todos em casa somos amantes do futebol brasileiro e cantar o hino antes das partidas é uma regra", cita.
Tatiana Guimarães recorda com nostalgia a época em que na escola mostrava que sabia de cor os hinos e os cantava corretamente. "Primeiro porque era obrigatório na nossa idade aprender e decorar todos os hinos , inclusive o do município". E emenda: "E valiam nota. Como era gostoso estar com os colegas nas filas, ficar em forma e ver a bandeira ser hasteada. Eu sempre me emocionei e respeitava essa hora", destaca.
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