Na Semana Nacional do Livro e da Biblioteca (celebrada de 23 a 29 de outubro), a formação de novos leitores e a valorização das publicações são sempre temas a ganhar holofotes, especialmente nos últimos tempos, com o impacto dos meios digitais de comunicação.

Mas aos poucos, os números vêm demonstrando que os livros estão chegando às mãos dos brasileiros. Na pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil” realizada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, os resultados das cinco mil entrevistas com o público de cinco anos e mais, revelou que de 2011 para 2015 houve um crescimento do hábito de leitura.

Em quatro anos, a média de livros lidos passou de 4,0 por habitante para 4,96. Também há o fato interessante de que nesse período, a frequência nas bibliotecas para leitura passou de 12% em 2011 para 19% em 2015.

Em Londrina, a bibliotecária e diretora do Sistema de Bibliotecas da SMC (Secretaria Municipal de Cultura), Leda Maria Araújo, cita que houve um aumento no número de empréstimos de livros em todas as setes bibliotecas públicas municipais.

Ela tem como base os dados de 2017 e 2018. Na biblioteca central, os registros passaram de 11.771 para 12.304 no ano passado. “E neste ano a previsão é fechar com uma média de 14 mil empréstimos”, afirma.

Na Biblioteca Lupércio Luppi, na zona norte, a retirada de livros passou de 991 para 1.050 em 2018. Um aumento bastante significativo foi na Biblioteca Infantil. Em 2017 foram 8.220 livros retirados e em 2018 chegou a 9.625. Mas neste ano, até o mês de setembro, os números já ultrapassaram 10 mil exemplares.

“Quando se trabalha o livro impresso com crianças menores, isto é, quando ele é inserido no cotidiano delas como um brinquedo, a leitura não vai acontecer de forma obrigatória. Vai ser um deleite. Nós acreditamos que a formação do leitor é crucial para as bibliotecas públicas e por isso, nos últimos três anos temos desenvolvido várias ações para atrair a população para estes espaços”, diz.

Leda Maria Araújo: "Quando o livro é inserido no cotidiano das crianças como um brinquedo, a leitura não vai acontecer de forma obrigatória"
Leda Maria Araújo: "Quando o livro é inserido no cotidiano das crianças como um brinquedo, a leitura não vai acontecer de forma obrigatória" | Foto: Gina Mardones

Projetos

Como exemplo, Araújo cita os projetos “Estreia na Biblioteca”, que consiste na disposição semanal de novos livros de literatura para a população; o “Visita Mediada”, que dá a oportunidade de todos conhecerem a biblioteca e o funcionamento dos serviços, e o “Literatura na Biblioteca” voltado para todos que vão prestar vestibular da UEL (Universidade Estadual de Londrina).

“Promovemos palestras e debates de forma profunda a respeito das obras que caem no vestibular. É uma parceria com o programa de pós-graduação da Universidade do curso de Letras”, diz. Esse projeto acontece anualmente, entre os meses de março e outubro (até uma semana antes do vestibular).

Em 2018, o "Literatura na Biblioteca" atendeu 100 vestibulandos e destes, 37 foram aprovados no vestibular. Araújo se orgulha em contar que a iniciativa ainda rendeu o Prêmio Municipal de Boas Práticas da Administração Pública, e destaca que isso só tem sido possível através de parcerias.

No projeto “Toda quinta tem história”, por exemplo, o produtor cultural e artista plástico Paulo Tio percorre semanalmente as bibliotecas dos bairros para contar histórias, inclusive em escolas. “Fora isso, temos várias outras ações. Em âmbito municipal, aproveitamos a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca para formar uma grande rede como todos os espaços de leitura, incluindo instituições privadas. A ideia é que as atividades se espalhem”, conta.

Para realizar toda a programação de palestras, oficinas, rodas de conversa e concertos musicais, excepcionalmente neste ano, a Semana Nacional foi comemorada em Londrina entre os dias 21 e 26 de outubro.

“É importante fazer dos espaços, lugares de promoção cultural que promova não só a leitura de livros. A gente tem que preparar o nosso leitor para fazer uma leitura de mundo e essa leitura perpassa todas as artes. A leitura de uma música, de um texto crítico, por exemplo. É ir além das entrelinhas.”

Para Araújo, a realização desses eventos e o trabalho em rede estão por trás do aumento dos empréstimos de livros na cidade. “A biblioteca pública é o equipamento cultural mais antigo da história da humanidade e as pessoas têm que ter a cultura de ir à biblioteca. Não só para emprestar livros, mas para utilizar nosso espaço, ter acesso às informações. Para isso ela não pode ser inerte. Tem que ser atrativa e ir ao encontro da população, dialogando e trazendo as pessoas para dentro dos espaços”, pontua.

Estímulo

Pensando nas mídias digitais, Araújo diz que elas devem servir como instrumentos dos bibliotecários para inovar em ações. “Quando a biblioteca pública surgiu foi para a guarda, preservação e custódia dos registros do conhecimento. Hoje, é um espaço de mediação, disseminação do conhecimento, da informação e das atividades literárias e culturais. O profissional tem que usar as tecnologias de informação e comunicação a seu favor. Por exemplo, tem alguns locais em que vou contar histórias que eu utilizo recursos audiovisuais para contar e interagir”, comenta.

Por outro lado, Araújo destaca a essência dos livros impressos, especialmente em crianças menores. “Tem uma frase da Maria Dinorah que é uma escritora de literatura infantil que eu gosto muito. Ela diz que ‘livro é aquele brinquedo, por incrível que pareça, que, entre um mistério e um segredo, põe ideias na cabeça.’”, destaca.

Londrina leitora

A diretoria de Bibliotecas em Londrina comenta ainda que a organização em rede ajuda no cumprimento da Lei municipal 11.535 de abril de 2012, que estrutura e prevê todo o funcionamento da SMC.

"A lei é bem clara quanto à atuação do sistema de bibliotecas na formação de leitores. Mas uma coisa é estar na lei e outra é colocá-la em prática. Felizmente, estamos conseguindo fazer isso porque nosso objetivo é formar uma Londrina leitora. Em 2035 a cidade irá completar 100 anos e que Londrina nós queremos? Temos que agir agora”, diz.

Imagem ilustrativa da imagem 'A biblioteca tem que ser atrativa e ir ao encontro da população'