2021: um ano marcado por grandes desafios para os professores
Experiências e conquistas marcam ano letivo da rede municipal de ensino que chega ao fim; a tecnologia ajudou a manter as escolas durante a pandemia e os professores a humanizaram
PUBLICAÇÃO
terça-feira, 14 de dezembro de 2021
Experiências e conquistas marcam ano letivo da rede municipal de ensino que chega ao fim; a tecnologia ajudou a manter as escolas durante a pandemia e os professores a humanizaram
Walkiria Vieira - Grupo Folha
A deflagração e os reflexos da pandemia foram sentidos em todas as áreas profissionais e pessoais. No caso da Educação não foi diferente e os anos letivos de 2020 e 2021 foram marcados por uma reviravolta no modo de ensinar e aprender. Foi preciso somar esforços, dividir tarefas, multiplicar a esperança e diminuir as diferenças em prol da formação de cada indivíduo. Das operações matemáticas à alfabetização, não faltam exemplos de como os professores se desdobraram para cumprir a missão de transmitir o conhecimento e transformar dúvida em certeza, informação em bagagem cultural.
Localizada no Jardim Castelo, região oeste de Londrina, a Escola Municipal Carlos Kraemer dedica-se a 762 alunos e, como se não bastassem todas as dificuldades já enfrentadas em 2020, bem como as manobras para manter as atividades, em fevereiro de 2021, a diretora da escola, Suelan Rodrigues Petrini foi contagiada pelo Covid-19 e seu afastamento perdura até os dias atuais para que sua recuperação seja plena.
A doença da diretora e a necessidade de afastamento trazem a todas as empresas de diferentes segmentos ao menos duas lições: a visão do todo e a importância de saber delegar. Com o planejamento em dia e um ano inteiro pela frente, Petrini precisou se desligar abruptamente de suas atividades e graças ao fato de trabalhar integrada à sua parceira, a diretora auxiliar Juliana Biato, alunos, professores e todo o corpo escolar tiveram rumo e destino certos - Biato segue interinamente na direção da unidade.
Para se ter uma ideia do gerenciamento feito para atender os alunos, em 2021 a acolhida teve diferentes modelos: consulta pedagógica com um aluno por vez; depois com três; em seguida com seis - de acordo com o controle da pandemia e a autorização para esses atendimentos pessoais com toda a segurança e protocolos de saúde. O modo presencial foi alternado com o estudo remoto, sendo que uma parte da sala ficava uma semana em casa e a outra metade estudava pelo sistema online. "Lembrando que a escola precisou se mobilizar para atender todas as crianças, ainda que tivéssemos com professores que não podiam voltar para o presencial, como as gestantes e aqueles portadores de comorbidades", explica a diretora interina Juliana Biato.
UMA MISSÂO E UMA LIÇÃO A CADA DIA
Planejamento, organização e um esforço contínuo, até os dias atuais, formam um plano para manter o equilíbrio entre ensinar os alunos, dar suporte aos pais e compreender que cada indivíduo é único e, por detrás dos 762 alunos, é sabido que há 762 famílias que confiam na escola e também se dispõem a fortalecer o processo de educação. "A grande maioria dos pais aderiu - davam devolutivas, traziam as tarefas e viam as correções", relata Biato.
A diretora interina considera que a pandemia, de alguma forma, serviu para valorizar os professores e mostrar a sua capacidade. "Se pensarmos que um professor é capaz de dar atenção a trinta estudantes em uma sala - ao passo que os pais, com um ou com três filhos em casa sentiram na pele os obstáculos para dar apoio numa tarefa, por exemplo - fica clara a importância de tudo o que um professor faz", destaca Biato. "Podemos considerar que essa também é uma parceria que deve vir para ficar. A família entende que as atividades dadas não são para a escola, mas para seus filhos e esse jeito de trabalhar diferente garante uma aprendizagem significativa", sustenta.
EMPATIA E COMPAIXÃO, LADO A LADO
Do dia para a noite, professores viraram youtubers, editores de vídeo e precisaram trocar de celular ou comprar um notebook. Por meio de telas, a escola foi para dentro de casa e as famílias sabiam que podiam contar com a escola e o suporte de atendimento. Sem tempo hábil e nem curso preparatório, o enfrentamento à pandemia foi automático e, dia após dia, com o uso de ferramentas digitais como aplicativos e acima de tudo sensibilidade, a integração tornou-se uma realidade.
O comprometimento com a aprendizagem balizou o trabalho de professores, coordenadores e uma gestão que conhece sua comunidade escolar e suas particularidades. O desemprego atingiu famílias e, por iniciativa própria, os professores montaram 58 cestas básicas para atender os que mais precisavam naquele momento de hipossuficiência. "Os professores tiveram sua sensibilidade testada e provaram também o quato é aguçada é sua habilidade de percepção. Mais do que ter empatia, a compaixão exige entender o outro e estabelecer estratégias para ajudar na resolução de problemas", pensa Biato.
TECNOLOGIA PARA ATENDER MAIS PESSOAS
A coordenadora pedagógica Juliane Alves de Sousa reconhece esse papel do professor, os considera verdadeiros agentes de conhecimento e enaltece o trabalho do professor e pesquisador canadense Maurice Tardif, o qual afirma que o saber do professor deve ser entendido a partir da relação que mantém com o trabalho escolar e o ambiente da sala de aula.
De seu ponto de vista, a partir das relações mediadas pelo trabalho, o professor constrói seus princípios norteadores para o enfrentamento das situações cotidianas da atividade docente. "O professor precisa estar preparado tecnicamente, assim como ter habilidades para lidar com as situações diversas nas relações humanas, pois vivemos uma escola onde há um movimento dialético em que os alunos se colocam no processo de aprendizagem, não são folhas em branco, mas agentes do processo de conhecimento e o professor, por sua vez, um mediador", esmiúça.
À frente da coordenação da Escola Municipal Carlos Kraemer, Sousa é responsável por 63 professores e 29 turmas. Em relação ao uso da tecnologia no processo de aprendizagem, Sousa acredita que houve uma desmistificação. "A tecnologia se mostrou como uma ferramenta e o professor a humanizou - embora pudesse haver uma resistência, empecilho ou receio, notamos uma adesão. Um exemplo de sucesso pode ser citado, pois além das aulas, tivemos a presença de 120 pais em uma reunião da Associação de Pais e Mestres, algo que daqui para frente podemos colocar até como opção, devido às vantagens de participação à distância, sem deixar de oferecer a opção presencial para aqueles que assim preferem", menciona.
APÓS COVID, DIRETORA RATIFICA SUA VOCAÇÃO
Do ponto de vista da diretora Suelan Rodrigues Petrini, o comprometimento, a responsabilidade, o equilíbrio e os conhecimentos a serviço da escola foram as qualidades que permitiram que a diretora interina Juliana Biato seguisse na função de diretora o ano inteiro com sucesso. "Em uma escola, todo mundo é importante. Quando um falta, faz muita falta", expõe Petrini.
Com 30 anos de dedicação à Educação, Petrini saiu de cena em fevereiro, quando foi diagnosticada com Covid-19. Ela ainda segue em recuperação, tem dificuldade de ficar de pé, falta-lhe equilíbrio, mas fez questão de visitar a escola agora que voltou a caminhar. Ainda que as sequelas sejam perceptíveis e mostrem a sua fragilidade, Petrini fala com altivez e faz da volta à ativa uma oportunidade de ser grata, seguir com seus princípios éticos e ser uma pessoa ainda mais humana, sensível e solidária.
Durante breve momento com os professores, contou: "As orações me sustentaram e as pessoas me mandavam mensagens diariamente mesmo que eu não pudesse ler, numa demonstração de fé de que minha recuperação viria. Fiquei entubada por 56 dias - praticamente a "Bela Adormecida", não tão bela', conta com bom humor.
E acrescenta: "Tive parada cardíaca, embolia pulmonar, precisei de traqueostomia, diálise, hemodiálise, tive hemorragia, infecção bacteriana, estou com anemia, fibrose no pulmão, perdi 23 quilos. Quando saí do hospital era possível encaixar as duas mãos em minhas escaras. Fiquei na cama, depois passei a usar a cadeiras de rodas, o andador e agora é só a bengala. Quando cheguei em casa, usava fraldas e só conseguia comer papinha. Alguns dizem que eu deveria me aposentar, parar de trabalhar, ser feliz e curtir a vida. Mas a minha vida na escola é feliz, quero continuar aqui porque a educação é meu propósito".
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