Zé do Bode não vive sem a sanfona
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terça-feira, 23 de julho de 2002
<br> Reportagem Local
Sanfoneiro intuitivo, Zé do Bode, 61, se apresenta na Casa de Shows Porteira, em Londrina, todo final de semana e maneja a colher de pedreiro no dia-a-dia. O primeiro e único disco do músico saiu em 1979. Era forró puro. Mas o ''amigo'' que foi fazer os acertos finais do disco em São Paulo não colocou o nome de Zé do Bode na capa, e sim Nivaldo. Na época, outros sanfoneiros afamados também emprestaram de animais seus nomes artísticos. Zé Preá e Zé do Peba (tatu) já existiam. De uma hora para outra José Gomes da Silva se transformou em Zé do Bode. E assim ficou.
Ele chegou ao Paraná com 18 anos para trabalhar na colheita de café. Em 1968 veio para a cidade trabalhar como pedreiro. Zé do Bode conseguiu financiar os estudos em uma escola de música por dois anos. ''Há 25 anos que vivo da música, das noitadas. Criei meus filhos com a sanfona'', diz com orgulho.
Zé do Bode relembra cada detalhe dos primeiros acordes que retirou da sanfona. Aos 16 anos era pandeirista. Olhava a sanfona do companheiro Antônio de Doca. Trabalhou de graça na roça do amigo para ter a chance de tocar sanfona. ''Saudade do Matão foi a primeira música que toquei. Fui experimentando as primeiras notas. Depois nos bailezinhos toca outras músicas'', rememora. Entre idas e vindas de Minas Gerais para Londrina, chegou a vender uma blusa do corpo para chegar na terra roxa. A segunda sanfona também foi paga em troca de serviço. Ele carregava o instrumento de um lado e um galo de briga de outro. Num dos bailes, Zé do Bode conheceu uma garota e resolveu casar. Para dizer sim diante do altar, vendeu a sanfona. Na saga do sanfoneiro, Zé do Bode voltou ao instrumento após vender 12 sacos de café. Porém, essa sanfona serviu como investimento para adquirir uma máquina de costura para a esposa. Uma das sanfonas atuais foi presente de Dona Denga, da dupla Dona Denga e Rosa Maria, comprada nas Lojas Hermes Macedo.
Zé do Bode possui um ''LP'' gravado ainda em fita magnética completando quase duas décadas. O material está quase se deteriorando. Ele até produziu a capa. Pegou um bode, enfiou num fusquinha e se mandou para um ambiente bucólico na área rural. Fez pose com o bode papando milho. Zé do Bode ainda tem esperança de ver esse trabalho num CD. ''O segredo da música é o arranjo. Eu pego uma música ponho um arranjo e fica o dobro de bonito'', diz.(F.F.)