Wilmar Klein
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 10 de fevereiro de 2000
Wilmar Klein
ReproduçãoCaptain Beefheart: relançamento fundamental.Wire: um compêndio de subversão sonora
Som brutal, minimalista, abstrato e dissonante; imagens soturnas emolduradas por possibilidades musicais (e não-musicais) até então inexploradas. Eis o Wire, grupo cuja primeira floração ocorreu no apogeu da cena punk britânica, dela se diferenciando menos pela atitude do que pela inusitada inventividade. Formado em 1976 por Bruce Gilbert (guitarra), Robert Gotobed (bateria), Graham Lewis (baixo, vocais) e Colin Newman (guitarra, vocais), lançou entre 1977 a 1979, pelo selo Harvest, da EMI, três LPs de estúdio que desnortearam os ouvintes da época. Quando o primeiro deles, Pink Flag, ficou pronto, o guitarrista Newman disse: Francamente... eu não sei o que é isto. E, ao que parece, nenhum dos seus companheiros de banda estava melhor situado. Porém Lewis ponderou que talvez dentro de alguns anos alguém saberia explicar o que era aquilo. Sabiam, no entanto que haviam iniciado uma aventura sonora tão estranha quanto fascinante. E barulhenta.
Do segundo LP, Chairs Missing, de 1978, disse a publicação musical inglesa Sounds: Um álbum para o dia seguinte ao fim do mundo. E, sem perder o pique, Wire realizou no ano subsequente 154, que trazia a incendiária A Touching Display e outras faixas memoráveis como I Should Have Known Better e Map Ref 41N 93W (este último título remetendo à localização, no mapa dos EUA, da cidade de Des Moines, Iowa).
Mas todos conhecemos a regra: bandas muito inovadoras, ainda que respaldadas pela crítica inteligente, vendem pouco. O contrato com a Harvest acabou e não foi renovado. Com isso, no início de 1980, após um histórico (e caótico) show no espaço londrino Electric Ballroom registrado no álbum Document and Eyewitness (gravadora Rough Trade, 1981) , o quarteto se desfez e seus integrantes partiram para projetos individuais.
Embora a dissolução do Wire não tenha sido definitiva e essa é uma história que pretendo contar noutra ocasião , o melhor da banda, sem dúvida, está nos seus primeiros LPs. E agora vem a boa notícia: a compilação (originalmente editada pela Harvest) On Returning (1977-79), que reuniu algumas das mais expressivas faixas de Pink Flag, Chairs Missing e 154, acaba de reaparecer no mercado britânico em CD. O preço: cerca de 10 libras. O que significa que chega ao Brasil (postagem, frete e imposto incluídos) por uns 40 reais. Não é um preço absurdo, e posso afiançar: em se tratando do Wire, vale cada centavo investido.
Outros clássicos relançados
Também na Inglaterra, foram relançados os seguintes títulos, que, por fundamentais, recomendo sem hesitar:
* Blue Jeans and Moonbeams Álbum de Captain Beefheart & The Magic Band lançado originalmente em 1973. Como quase tudo o que o mestre do blues psicodélico Beefheart gravou nos 60 e 70, indispensável. (Relançamento somente em vinil de 180g, limitado a 1.000 cópias. Preço salgado: 17,99 libras.) * Spiral Scratch EP clássico dos Buzzcocks, banda punk da primeira hora e referência obrigatória no gênero. Disco que resiste à passagem do tempo com suas faixas viscerais, das quais se perdeu a receita.
* Africa Must Be Free e Dubbing in Africa Dois LPs do legendário mestre jamaicano do dub Augustus Pablo. Música de raiz para provar como era bom o reggae antes de tornar-se gênero de trânsito internacional e praga no Maranhão.
Em tempo: todos os discos mencionados acima (inclusive On Returning) podem ser adquiridos via Internet, na loja londrina Rough Trade (www.roughtrade.com) que, diga-se de passagem, nada tem a ver com a gravadora homônima.
Exepcionalmente hoje publicamos a coluna de Wilmar Klein nesta página.