Wilmar Klein
PUBLICAÇÃO
sábado, 26 de fevereiro de 2000
O que (não) ouviremos em 2000 (II)
ReproduçãoIntegrantes do Sonic Youth têm participação no RRRecordes 500, que tem nada menos do que 500 microfaixasNo domingo passado, registrei neste espaço uma série de lançamentos fonográficos estrangeiros previstos para este ano. Em sua maioria, discos de artistas e grupos que desenvolvem trabalhos realmente criativos, de pouco apelo comercial, e, por isso mesmo, praticamente desconhecidos no Brasil, onde a banalidade musical é mercadoria bem-sucedida. Como a lista era relativamente longa, preferi dividi-la em duas partes. Antes, porém, de oferecer a segunda parte, julgo oportuno registrar alguns lançamentos importantes que chegaram às lojas de discos da Europa e dos EUA neste mês de fevereiro:
- Molasses: Youll Never Be Well No More. - Molasses é um grupo de folk noir formado em Montreal, Canadá, por membros do Shalbi Effect e do Godspeed You Black Emperor, que, juntamente com o delicado Labradford, é uma das melhores bandas do selo de post-rock Kranky, de Chicago (EUA). Youll Never ... - que saiu pelo selo Fancy - é um álbum acústico, de faixas melancólicas, porém de grande beleza e elaborada construção. Não recomendo a pessoas que estejam atravessando uma fase depressiva, mas, se esse não for o seu caso, eis aí um disco que vale a pena importar.
- Philip Glass/Robert Wilson: The Civil Wars. - Com atraso inexplicável, somente agora aparece o CD com o quinto movimento (denominado Rome) da ópera The Civil Wars, de Wilson, composto por Glass, pioneiro e o mais famoso representante da música minimalista nos EUA. Um disco que merece a atenção, inclusive daqueles ouvintes pouco afeitos a esse tipo de música, por considerá-la demasiado repetitiva e monótona ou muito próxima da soporífera música new age. A contribuição de Glass para a ópera de Wilson - uma contribuição rica, que beneficia-se do emprego da voz e da variedade de nuances musicais - parece-me perfeita para acabar com esses preconceitos. (Falei em atraso inexplicável e justifico a afirmação é que The Civil Wars é uma ópera datada de meados dos anos 80. Por que nunca mereceu um registro fonográfico completo e somente agora uma parte dela aparece no mercado são duas coisas que me intrigam. Fosse em nosso país, eu entenderia.)
- RRRecordes 500. - Um LP curiosíssimo, com nada menos que 500 faixas (250 de cada lado) interpretadas por 500 artistas diferentes. Obviamente, uma compilação assim só poderia ser composta por microfaixas, ou melhor, fragmentos ultrabreves. O resultado do conjunto é tão desnorteante quanto criativo... e divertido. Quanto aos artistas e bandas que comparecem nesta incrível colcha de retalhos sonora, são todos de peso: os improvisadores Lee Ranaldo e Thurston Moore - ambos do Sonic Youth - o minimalista Terry Riley (um veterano, com pelo menos 40 anos de carreira), o noisemaker Aube, as bandas vanguardistas zoviet france, The Haters, Project Dark, Masonna, People Like Us ... etc, etc.
Próximos lançamentos
Saindo da prensa:
- Pan American: 360 Business/360 Bypass (Kranky, EUA - em CD e LP duplo). - Pan American é um projeto de Mark Nelson (do duo Labradford) iniciado em 98. Nelson, em 360 Bussiness ..., conta com o reforço de integrantes das bandas Tortoise, Low, Isotope 217, entre outras. O resultado, tomando por base os trabalhos anteriores do Pan American, é na linha da eletrônica com sofisticação e leveza. Agradável como brisa marinha ao cair da tarde.
- Air: trilha sonora composta pelo grupo francês para o filme The Virgin Suicides, inédito por aqui.
Já no final de março, sai pelo selo One Little Indian, da Inglaterra, Singles Box, coleção de 17 CDs singles da cantora Bjork, com direito a remixes, B-sides exclusivos e material anteriormente editado apenas em promodiscos. Bjork é uma artista relativamente acessível, com um certo público no Brasil, porém como o single é um formato que não funciona em nosso país, é bastante improvável que surja alguma gravadora nacional interessada em lançar a caixa.
Previsto para maio, BloodChild, CD duplo com raridades, novas faixas e material multimídia do :wumpscut:, banda norte-americana interessantíssima, com um pé na eletrônica, outro no som industrial. Samples, percussão pesada, passagens orquestrais e vocais soturnos compõem o cardápio de :wumpscut:. O disco sairá ela gravadora Metropolis, dos EUA.
Sem data definida
Dependendo do agendamento das gravadoras, mas prometidos para este ano:
- Coil: Astral Disaster (World Serpent, Grã-Bretanha) e Time Machine II (Eskaton/World Serpent, GB). Dois exemplos do som experimental da veterana banda Coil: o primeiro é uma reedição remixada; o segundo, uma caixa com 5 CDs contendo material antigo e faixas inéditas.
- Cyclobe: CD ainda sem título e Pathfinder, que sairá em EP. Confesso não ter mais informações sobre esta banda, porém pude ouvi-la numa coletânea promocional que a World Serpent Distribution, de Londres, enviou-me há duas semanas e a impressão foi a melhor possível. Eletrônica de ponta, cheia de climas e algumas pitadas de noise e música clássica. A mistura dá supercerto. Uma descoberta.
- Penumbra: Skandinavien (Iris Light, Grã-Bretanha). - Penumbra é um projeto paralelo desenvolvido por membros da banda zoviet france. Faz jus ao nome: o som é experimental imerso em dark ambient.
- ReCONstructions (Plate Lunch, Alemanha. - Três CDs com remixes de composições do vanguardista alemão Conrad Schnitzler assinados por artistas e bandas igualmente vanguardistas: Brume, Esplendor Geometrico, Noto, Felix Kubin, Jake Mandell, Asmus Tietchens e muitos outros.
Será preciso acrescentar que, se você ficou interessado em conhecer alguns dos lançamentos relacionados acima, é bom ir separando seu rico dinheirinho para gastá-lo na importação. Porque aqui, esses discos não saem mesmo.