Desde 2004, jovens artistas plásticos de todo o Brasil têm mais uma aliado para a realização dos seus projetos de arte contemporânea. Com um caráter ousado, o ''Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça para as Artes Plásticas'' traz um novo conceito de premiação. Além do prêmio em dinheiro (R$ 30 mil dividos em 12 parcelas de R$ 2,5 mil), os cinco artistas selecionados (ao todo foram 927 artistas inscritos no ano passado) tiveram a oportunidade de serem acompanhados por renomados especialistas durante o processo de criação de suas obras e e poderão participar de exposições itinerantes por seis capitais brasileiras. A itinerância com os trabalhos dos cinco artistas selecionados na primeira edição do prêmio foi oficialmente aberta em Brasília, no dia 7 de novembro. No dia 12 de dezembro foi a vez de São Paulo receber os trabalhos premiados, no Instituto Tomie Ohtake, que ficam expostos até o dia 22 de janeiro. Na solenidade de abertura, a presença do ministro do Tribunal de Contas da União e recém-empossado presidente da Academia Brasileira de Letras (ABL) , Marcos Vinicios Vilaça, que é pai do galerista Marcantonio Vilaça (1962-2000), que foi homenageado no título do prêmio por ser o grande responsável pela projeção internacional da arte contemporânea brasileira na década de 90. Por também ter um caráter didático, no dia seguinte da abertura da exposição, 160 professores da rede pública e particular de ensino tiveram a oportunidade de participar de um workshop sobre artes plásticas. No evento, também receberam um material especialmente elaborado para servir de fonte de pesquisa aos professores. As próximas edições da itinerância acontecem no Rio de Janeiro (31/01 a 19/03), Porto Alegre (4/04 a 14/05), Belém (30/05 a 02/07) e Recife (18/07 a 30/08). O prêmio tem periodicidade bienal e os interessados em participar da segunda edição, no ano que vem, podem se inscrever de abril a julho de 2006 pelo site www.sesi.org.br. Mais informações pelo e-mail [email protected].
Logo na entrada da exposição em São Paulo, o público é surpreendido por um trabalho de Renata Lucas (Ribeirão Preto/SP): a videoinstalação ''Barulho de Fundo'', em que cenas externas se misturam com cenas do circuito interno de segurança do prédio onde funciona o Instituto Tomie Ohtake. Ao mesmo tempo em que o espectador pode ver a própria imagem reproduzida nos monitores de vídeo, pode se surpreender com aparições inusitadas de imagens de animais da savana africana, como girafas e zebras. Com bom humor, Renata propõe um olhar crítico sobre as estruturas institucionais e sobre os espaços que nos cercam. Em outro trabalho, Renata criou um rádio em um muro do Rio de Janeiro, que surpreendeu os transeuntes com a oportunidade de sintonizarem na sua rádio preferida.
Do Rio de Janeiro, Paula Trope trouxe um trabalho de forte cunho social ao apresentar fotografias das séries ''Os Meninos'' (1993/1994) e ''Os Meninos do Morrinho'' (2004/2005), realizadas em colaboração com crianças e adolescentes carentes. Utilizando a técnica de câmaras sem lente (pinhole), Paulo obtém resultados que mexem com a relação de alteridade. As fotos desfocadas comunicam a própria idéia da exclusão social. ''Fica um ruído de comunicação proposital'', comentou a artista, que também realizou trabalho em vídeo com as crianças. O projeto ''Os Meninos do Morrinho'' é uma invenção de adolescentes do morro Pereirão, em Laranjeiras, no Rio de Janeiro, em que cada menino reinventa em maquetes as favelas cariocas e reencena o cotidiano e a guerra de tráfico entre as favelas.
Thiago Rocha Pitta (Tiradentes/MG) mostra um projeto poético, dirigido para a experimentação com diversas linguagens, uma articulação de conceitos filosóficos, sinalizadas pela discussão do sublime e uma interpretação cultural da natureza. Na exposição, apresentou o vídeo ''Ponte Aérea com Tempo Rodoviário'', em que rediscute a noção do tempo e da contemplação ao exibir imagens feitas de um vôo entre as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo, que normalmente dura menos de 45 minutos, durante quatro horas o tempo que se leva para percorrer o mesmo trajeto de ônibus.
Marilá Dardot (Belo Horizonte/MG) desenvolveu o projeto ''Rayuela'' (''O Jogo de Amarelinha''), que se apropria do livro do escritor argentino Julio Cortazar. São 322 gravuras ('ink jet print') feitas a partir de cada uma das páginas do livro, que foram reproduzidas em seu formato original e tiveram apagado todo o seu texto, deixando apenas aquelas frases e locuções com verbos que indicam movimento e deslocamento.
Lucia Koch (Porto Alegre/RS) realiza uma pesquisa visual fundada na plasticidade da luz, vista como matéria que aciona novos entendimentos do espaço real. Desde 2004, atua no projeto Jardim Mirian Arte Clube (Jamac), em São Paulo, em que junto com a comunidade local realiza intervenções que visam a estimular a percepção física e afetiva de suas moradias. Na exposição, apresentou as instalações ''Casa do Alberto'', ''Casa da Léo'' e ''Casa da Glória'', sobre atuações no Jamac. No evento, ''Glória'', que na verdade se chama ''Maria das Graças'', estava orgulhosa em mostrar o projeto que irá dar mais qualidade de vida a ela e sua família. O que ainda falta é o recurso para a realização do projeto, que poderá vir da venda futura da instalação.
Segundo a gerente de cultura do Sesi, Cláudia Ramalho, há dois anos o setor industrial está priorizando as ações educativas com enfoque cultural em todas as unidades da entidade e do CNI. ''O nosso objetivo é desenvolver cada vez mais o conceito de cultura, mostrando o quanto ela também pode promover o desenvolvimento social e econômico'', destacou.

Serviço:
- Exposição Itinerante do Prêmio CNI SESI Marcantonio Vilaça, em São Paulo. Instituto Tomie Ohtake (Av. Faria Lima, 201), Das 11 às 20 horas (na segunda-feira fecha). Entrada franca. Até 22/01.
* A jornalista viajou a São Paulo a convite dos organizadores do evento.