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O CINÉFILO FIEL 5m de leitura

Viola Davis, a força da mãe África em 'A Mulher Rei'

Filme em cartaz em Londrina é testemunho robusto de como uma forma tradicional pode ser renovada nas telas

ATUALIZAÇÃO
28 de setembro de 2022

Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Viola Davis, a força da mãe África em 'A Mulher Rei'

Um dos pontos mais interessantes de “A Mulher Rei”, em exibição no sistema Multiplex em Londrina,  é o quanto o filme conhece as dimensões do seu alcance como obra artística. Com orgulho explícito,  ele utiliza uma construção antiquada – este é com certeza um épico de espada e sandália no velho estilo daquela Hollywood aventureira – mas sempre combinado com o revigorante frescor de sua perspectiva.  

Drama (às vezes sem qualquer demérito ao se assumir melodrama) originário da história com H, “The Woman King” é testemunho robusto de como uma forma séria pode se sentir renovada quando é estendida para abranger diferentes narrativas.

Dirigido por Gina Prince-Bythewood (53, negra, 22 anos de carreira), “A Mulher Rei” se passa na década de 1820,  no reino de Dahomey, atual Benin, ex-colônia francesa na África Ocidental. No trono está o rei Ghezo (John Boyega), em guerra contra inimigos de reinos próximos que tem nos negros comprados pelos colonizadores europeus a sua fonte de renda. Ele é absorvido por um círculo de esposas, deixando coisas complicadas como as guerras para o Agojie, lendária legião de mulheres guerreiras, renomadas por suas proezas militares.

Dahomey enriqueceu por causa do tráfico de escravos, o que o coloca em um contexto moral desconfortável. “A Mulher Rei”, ciente e consciente dessa história tempestuosa, toma seus cuidados ao abordá-la. O que poderia ser um somente um filme contundente e arrasador sobre batalhas recebe uma textura mais reflexiva de Prince-Bythewood, da roteirista Dana Stevens e de um forte ensemble de atores.

Ostensivamente na liderança está Viola Davis, no momento um titã da indústria do entretenimento e que, no entanto, teve poucas oportunidades preciosas para encabeçar um filme de grande estúdio como este. Como Nanisca, a general do Agojie, Davis está em seu elemento de fortaleza, severo mas acessível.    

"A Mulher rei" se passa em 1820, no reino de Dahomey, atual Benin, na África Ocidental
 

Talvez o verdadeiro protagonista do filme, porém, seja Nawi (Thuso Mbedu), uma adolescente voluntariosa entregue pelo pai ao Agojie. O treinamento-iniciação da garota, que “A Mulher Rei” retrata em cenas afetivamente familiares aos fãs de todos os tipos de filmes, de “Spartacus” a “Top Gun”. A atriz,de fato uma revelação, ilustra bem  a independência impetuosa de Nawi e seu crescente senso de dever para com suas irmãs guerreiras.      

A luta é registrada com muito mais força porque o espectador passa um bom tempo de inatividade com essas mulheres guerreiras. Ainda assim, a personagem de Viola Davis poderia ser mais desenvolvida, mesmo que em cena o velho melodrama resgatado dos anos 1950/60, com o trauma do passado da heroína afetando seu presente.

O roteiro  não faz o suficiente para aprimorar e aprofundar essa história. Nanisca permanece indecifrável, apesar da presença magnética de Davis. E um romance superficial – ou algo próximo a isso – é encaixado no filme, mas poderia ter sido descartado inteiramente. Às vezes parece que “The Woman King” gostaria de ter ampliado e reforçado sua ambição. E todas essas nuances acabam não cabendo satisfatoriamente  em duas horas 11 minutos.

*Confira a programação de cinema no site da FOLHA.

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