Estreando no Festival Internacional de Londrina – FILO/etapa fevereiro 2025, a atriz Vera Holtz, 71 anos, trouxe a Londrina o espetáculo “Ficções”, montagem inspirada no best-seller ‘Sapiens’, de Youval Noah Harari, que fala da capacidade humana de criar e acreditar em ficções para garantir assim a sua sobrevivência.

O espetáculo abriu na sexta-feira (7) as apresentações teatrais do FILO no Teatro Ouro Verde, haverá nova sessão neste sábado (8), às 20h30, mas os ingressos estão esgotados.

Com mais de 50 anos de carreira em teatro, cinema e TV, a atriz contou à FOLHA, com exclusividade, um pouco sobre a preparação para a montagem e as dificuldades de subir aos palcos após os 70 anos. Falou também como o espetáculo foi se delineando e que tipo de reflexões desperta no público.

A adaptação de "Sapiens" para os palcos ficou sob a responsabilidade de Rodrigo Portella. Foram seis meses de produção do roteiro e 40 dias de ensaio para estreia.

“É um diálogo entre o violoncelo - executado pelo músico Federico Puppi - e a palavra. O preparo foi grande, principalmente o preparo físico. Você descobre limitações físicas do seu corpo que está com 70 e poucos anos. Sua voz precisa de um aquecimento maior, assim como o corpo. Estreamos muito rápido, mas com a equipe protegendo a gente nestas questões físicas do ator”, contou Vera.

Decorar o texto foi tranquilo, garantiu. “A memória, por ter gravado muito tempo novela, está treinada.”

A montagem está em cartaz há três anos e na sua segunda turnê pelo interior do Brasil. Passou pelos Festival de Curitiba, Festival de Teatro da Amazônia, em Manaus, e, agora, pelo FILO.

PÚBLICO

A receptividade do público tem sido uma surpresa, pois o espetáculo conduz o espectador à uma reflexão sobre a condição humana. “O teatro é um lugar de verdade. Não há fake news, você está vivendo uma experiência real [referindo-se ao público], de pensar um pouco sobre quem está ao seu lado. Levantamos perguntas no espetáculo. Essa experiência é muito legal em qualquer lugar do Brasil”, afirmou Vera.

Ela enfatizou que o espetáculo foi se delineando por meio da participação do público. “O espetáculo foi completado com o comentário de alguém, na troca com as pessoas. O espetáculo foi ganhando forma. Começamos em teatros pequenos e depois da experiência em festivais, fomos para teatros maiores.”

Sozinha no palco, que tem poucos elementos cênicos, o espetáculo prende a atenção usando som, luz e o talento de Vera Holtz. “A pessoa não decifra o que é de início. A peça apresenta dúvidas o tempo todo, você leva o público a raciocinar sobre a condição humana, isso não é só uma dinâmica própria, mas é uma dinâmica com o público. Ela vai dando respostas, vai se emocionando. Você motiva o tempo todo pela música e o palco nu. É luz, som e o ator”, revela a atriz.

Levar a adaptação de Sapiens para os palcos, segundo Vera, foi um movimento apaixonado. Ela já tinha lido o livro, presenteado amigos com ele. “É um livro cabeçudo, que flui depois de algumas páginas. Adoro o livro. É uma paixão que moveu a todos”, disse. A intenção é levar a peça para os países africanos de língua portuguesa.

Vera Holtz em Ficções: espetáculo terá sua segunda e última apresentação no FILO 2025 neste sábado (8)
Vera Holtz em Ficções: espetáculo terá sua segunda e última apresentação no FILO 2025 neste sábado (8) | Foto: Ale Catan/ Divulgação/ FILO 2025

IMPORTÂNCIA DOS FESTIVAIS

Os festivais, na opinião da Vera, atraem um público específico, que gosta e consome teatro, que correm atrás para garantir os ingressos para as peças. “Em Manaus tinha uma fila gigante. As pessoas se organizam para garantir os ingressos. É um público diferente”, comentou.

Ela defende que os festivais precisam marcar território, principalmente aqueles que abrem espaço para as produções locais, como é o caso do FILO. “A arte tem que marcar território. É tradição e com tradição vem qualidade. As avalanches são gigantes. As disputas de verbas são gigantes. Tem que manter os festivais vivos, ser um lugar com curadoria, dar visibilidade ao teatro nacional, manter vivo os espetáculos locais. É importante ficar raízes e não deixar nada abalar”, afirma Vera.

Ela lembra que há projetos locais, grupos e produtores culturais com conhecimento e bagagem para produzir cultura de alta qualidade. “Hoje tem que ir lá no local, sair dos grandes centros. Vamos aprender com as pessoas locais que estão trazendo novas tecnologias”, disse.

Vera Holtz defende que os festivais têm que marcar território: "É tradição e com tradição vem qualidade"
Vera Holtz defende que os festivais têm que marcar território: "É tradição e com tradição vem qualidade" | Foto: Fábio Alcover/ Divulgação/ FILO 2025

ATRIZ PREMIADA

Vera Holtz tem vasto currículo na TV, teatro e cinema. Ela estreou no teatro no final dos anos 1970, com a peça “Rasga coração”, de Oduvaldo Vianna Filho, e direção de José Renato – a primeira peça liberada pela censura, durante o regime militar.

Foi 28 vezes indicada às premiações. Ganhou como Melhor Atriz o Prêmio Mambembe pela peça infantil “Astrofolia” (1985) e Prêmio Shell por “Um certo Hamlet” (1989). Com “Pérola”, de Mauro Rasi, que ficou cinco anos em cartaz, conquistou os prêmios Mambembe, Shell, Sharp e APETESP também na categoria Melhor Atriz.

Em 2007, ganhou o Mambembe de Melhor Atriz Coadjuvante por sua atuação na novela “Paraíso Tropical”. Estreou como diretora teatral em 2010, com Guilherme Leme, em “O Estrangeiro”, de Albert Camus. Em 2023, estreou o filme “Tia Virgínia”, sua primeira protagonista nos cinemas, e que lhe rendeu cinco prêmios de melhor atriz, incluindo o do Festival de Gramado.

Afastada da TV há cinco anos, o talento de Vera Holtz pode ser visto na reprise da novela "Cabocla", na Faixa Especial da TV Globo. Na novela que foi ao ar em 2004, ela interpretou Generosa, uma mãe de família que sofre com o sumiço de uma das filhas e luta ao lado do marido para manter a casa.

Imagem ilustrativa da imagem Vera Holtz fala sobre o espetáculo magistral que trouxe ao FILO
| Foto: Folha Arte

SRVIÇO

Festival Internacional de Londrina – FILO

Ficções (Rio de Janeiro/RJ)

Quando: segunda sessão neste sábado (08).

Local: Cine Teatro Ouro Verde (Rua Maranhão, 85)

Ingressos: Esgotados

Classificação indicativa |12 anos

Duração | 85 min

Realização: Usina Cultural

Apoio: Casa de Cultura da Universidade Estadual de Londrina, Rádio UEL FM e Folha de Londrina.

Patrocínio: Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic)

Mais informações: www.filo.art.br