"Tudo aquilo que você procura está dentro de seu coração". Mais do que uma dedicatória, a mensagem do médico cardiologista Pedro Aloysio Kreling chega como Apoena, aquele que enxerga longe - e essas palavras vão além do ponto de vista biológico do órgão vital, o coração - tema explorado em sua obra recém-lançada "O Coração - História, Símbolo e Males. "Embora não se possa, em sentido biológico considerar uma hierarquia para os diferentes órgãos, dificilmente se poderá exagerar a importância daquele que, para nos manter vivendo, bombeia e envia para o corpo 260 litros de sangue por hora, o que equivale a três vezes o peso de um homem", apresenta o prefácio.


Natural de Selbach, no Rio Grande do Sul, aos seis anos mudou-se com a família para Rolândia, na década de 40. Graduado em Medicina pela Universidade Federal do Paraná - 1959 a 1964 - especializou-se em Cardiologia pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo ( serviços dos professores Décourt e Zerbini). “Eu era do interior e estava mais preocupado com o meu futuro e com o título de médico, me orgulhava disso. A nossa festa de formatura foi dia 19 de dezembro de 1964. Foi uma festa bonita”, recorda. "A maior parte dos médicos, recém-formados, tinham como destino o interior - eram os clínicos gerais", acrescenta.



Kreling explica que a cardiologia teve uma razão toda especial para ser escolhida. “Meu pai tinha falecido de uma maneira súbita. Eu estava no segundo ano. Houve um erro médico, ele estava com 58 anos, era novo ainda. E aquilo ficou no meu subconsciente. Eu acho que foi por esse motivo que eu escolhi cardiologia, reflete. Especializado, o médico veio para Londrina no ano de 1967. O consultório do Dr. Pedro, decorado por corações, de diversos formatos para produzir diferentes impressões tornou-se referência desde então.

Pedro Aloysio Kreling: “Ao sair da universidade achei que tinha que deixar alguma coisa escrita"
Pedro Aloysio Kreling: “Ao sair da universidade achei que tinha que deixar alguma coisa escrita" | Foto: Walkiria Vieira



A história com a Universidade Estadual de Londrina - UEL - também é longeva. “Em 1969, eu estava no hall da Santa Casa e encontrei o Dr. Ascêncio Garcia Lopes. Ele me convidou para ser docente da recém-fundada Faculdade de Medicina”. E, no mesmo dia, o então doutor assinou contrato para lecionar na UEL. "Foram quase 38 anos como docente da UEL, sendo que a possibilidade de ser professor nunca havia sido cogitada. Todos os médicos formados na UEL, desde a primeira turma, foram seus alunos." Ele obteve o título de Doutor em Medicina, com defesa de tese em 1975. Permaneceu na universidade como professor adjunto até setembro de 2008.


Sobre seu modo de trabalhar, o médico é adepto do tête-à-tête. “Eu faço medicina clínica, que é mais conversar com o paciente, uso muito a entrevista e o raciocínio clínico e adaptei o modo pela minha maneira de ser - mais pacato, mais observador”. Como professor e médico, considera-se realizado, mas expõe suas frustrações: " Falta pesquisa na área da medicina e na maior parte das reuniões de que participávamos eram sempre discutidos problemas de burocracia, política e nunca alguma pesquisa de grande porte, de nível estadual ou nacional”, admite.


Aposentado recentemente, o doutor Kreling não teve muitas alterações no seu cotidiano, mas passou a dedicar-se ao livro que considera uma monografia sobre o coração: “Ao sair da universidade achei que tinha que deixar alguma coisa escrita. Resolvi fazer uma história sobre a minha especialidade: o coração. Levantei muitos dados sobre o coração. O significado filosófico, o simbolismo, o símbolo do profano, religioso, do amor. O coração é um símbolo universal”, dispara.


ALGUMAS CURIOSIDADES

Da pesquisa à elaboração e impressão foram mais de dois anos. Vários anos. Principalmente pelo fato de não ter tempo disponível. Diante da obra, o sentimento de Kreling é o da realização de um sonho. Um sentimento bom, feliz de saber que vai ajudar outros estudantes de medicina e médicos em formação. "Somente com a pandemia, quando precisei fazer o isolamento, consegui me concentrar e colocar no papel ideias de mais de 10 anos.



Em uma contagem por alto, o cardiologista contabiliza que formou mais de três mil médicos. "A primeira turma foi em 1967. Assim, até 2007, numa trajetória de 40 anos dedicados a passar adiante todos os seus conhecimentos. No sacerdócio há 57 anos, doutor Kreling completa 84 anos neste dia 4 de setembro, e o livro é um dos motivos para celebrar a vida e o quanto ela pulsa ao seu redor.



Na obra de 422 páginas, Kreling explora o coração por diferentes ângulos. Lá está o beijo dos cisnes, que encontrados, os pescoços formam um coração. "Simboliza o amor, pois são fiéis aos seus pares e, quando um morre, o outro em pouco espaço de tempo também morre", relata. O coração e os chakras, o coração e as cartas de baralho - o naipe de copas tem formato de coração. " O naipe de copas relaciona-se ao elemento água e aos seus aspectos lunares e femininos que se traduzem no ser humano com intuição, sensibilidade e mediunidade." E complementa: "Falar de copas nos leva imediatamente às questões afetivas e emocionais que no plano pessoal, traduzem-se na forma que vivemos, sentimos e experimentamos tudo ao nosso redor", expõe.



Sobre a relação do coração e a linha das mãos, explica : elas podem vir com falhas ou ser bem corretas, mas pelo menos três delas estarão sempre presentes - linha do coração, linha da cabeça, linha da vida e linha do destino - e nem todos as têm. Ainda sobre os relacionamentos amorosos, lá está a figura do cupido, o coração e a flecha : cupido e Eros - sempre retratado como um garotinho alado, Eros ( amor Humano) de cabelos louros, com aparência de inocente e travesso, como quem jamais cresceu (Fayardo). "Cupido foi o símbolo frequente de muitos pintores renascentistas que o representavam como um menino alado com um arco e flechas e segundo os relatos mitológicos existentes, Cupido não era imune ao desejo e apaixonou-se pela bela Psique. Dado que o nome dessa princesa em grego significa "alma", foram vários os filósofos e artistas que interpretaram o caráter simbólico desse mito que se refere à luta da alma para alcançar o céu e, por meio do amor, ter acesso à imortalidade", explica Kreling.



Na obra, o coração também é inserido nos salmos da Bíblia, segundo o autor a palavra é muito citada no livro sagrado. "Em 60 de um total de 150 salmos, quase todos mostrando em seus versículos o simbolismo da nossa fé, fruto de um coração puro em vários sentidos, ou de variada interpretação" traz a pesquisa. "Quem tem mãos inocentes e coração puro, quem não corre atrás das vaidades", destacado de Salmos 24-4.

O CORAÇÃO E SEUS MALES


Um dos capítulos é todo dedicado à prevenção de alguns males do coração e as recomendações versam sobre cuidados alimentares, diferentes tipos de gorduras, alimentos funcionais e o poder fitoterápico do alho. A dieta do Mediterrâneo também é exaltada pelo estilo de vida saudável que promove, assim como os benefícios dos pratos coloridos e do cacau. Alimentos que devem ser evitados formam uma lista grande e os exercícios físicos chegam ao leitor como uma proposta de qualidade de vida. "O hábito de fazer exercícios físicos faz com que o coração se desenvolva, fique maior e mais forte do que o coração de uma pessoa sedentária", prescreve.

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. | Foto: Reprodução

Serviço:

O Coração - História, Símbolo e Males

Autor: Pedro Aloysio Kreling

Edição independente

O livro não está à venda, foi publicado para ser ofertado como cortesia.