Espetáculo apresentado no Sesc Cadeião Cultural contou com símbolos da Revolução Francesa e músicas dos Beatles
Espetáculo apresentado no Sesc Cadeião Cultural contou com símbolos da Revolução Francesa e músicas dos Beatles | Foto: André Azevedo da Fonseca/ Divulgação

A Revolução dos Bichos, de George Orwell, é uma das obras de ficção mais influentes do século XX. Publicado em 1945, o livro conta a história de um grupo de animais confinados que organiza uma rebelião para se livrar da exploração humana. Contudo, ao tomar o poder na fazenda, algumas espécies instauram uma ditadura, de modo que as antigas rotinas de violência acabam sendo reproduzidas no novo governo. “Todos os animais são iguais, mas alguns são mais iguais que outros", pregava o novo mandamento do animalismo, uma espécie de Constituição criada para garantir os privilégios dos poderosos. Com essa fábula, Orwell firmou uma crítica importante a todas as formas de autoritarismo.

Mas a história poderia ter sido diferente? Este foi o exercício realizado por um grupo de alunos de Interpretação Teatral do SESC Cadeião, dirigidos pela atriz e professora de artes cênicas, Michelle Florêncio. Na adaptação dos adolescentes, no lugar do despotismo, os animais aprenderam sobre a importância da união, da solidariedade e da participação democrática nas decisões do grupo. Em vez de se dividirem em facções antagônicas em busca de regalias, as mais diferentes espécies reconheceram as semelhanças e lutaram juntas para transformar a realidade em benefício de todo o grupo. E assim, combinando a narrativa de Orwell a inúmeras referências da história – dos símbolos da Revolução Francesa à música dos Beatles – os animais se livraram da tirania e transformam a fazenda em uma sociedade igualitária.

Um elemento particularmente importante é que, assim como na ficção, a própria realização da peça foi marcada por uma série de desafios e tensões. Devido ao contexto da pandemia, os jovens atores tiveram que ensaiar utilizando máscaras. Por isso, precisaram recriar as formas tradicionais de expressão teatral – modulando a entonação, explorando novos gestos, estilizando as ações e sincronizando os movimentos com a trilha sonora. Devemos nos lembrar que, até há pouco tempo, os estudantes estavam confinados em casa, realizando atividades remotas. Mas com a abertura gradual, todos puderam participar das mais diversas etapas da criação: da adaptação do roteiro à montagem do cenário e dos figurinos. Até mesmo a decisão sobre o nome da peça: “A Fazenda dos Animais”, foi fruto da reflexão dos alunos, que preferiram adotar o título original do livro (Animal Farm) em vez de utilizar a tradução clássica em português.

E deste modo, não por coincidência, o próprio espetáculo, realizado na última terça-feira (7), no Teatro do Sesc Cadeião, foi concebido no mesmo espírito democrático e participativo dos animais da fazenda da adaptação do livro. E ao fim, as famílias que assistiram à peça perceberam que, apesar das limitações do contexto da pandemia, mas graças à coragem da professora e de toda a equipe, os adolescentes experimentaram um exercício inédito de criatividade. Uma ação que, a propósito, cumpre com os objetivos do SESC, que incluem a promoção de ações educativas e de bem-estar social que contribuem para uma sociedade justa e democrática.

Viva a nova revolução dos bichos!

Serviço:

A Fazenda dos Animais

Direção: Michelle Florêncio

Elenco: Ana Paula de Andrade, Anna Julia Nunes da Silva, Beatriz Catarino Vianna, Caio Ito Moura, Cecília Reis e Silva, Haru Azevedo Moura, Isadora Galhano Silva, Mateus Vitoriano Pereira, Thaina Lopes.

Realização: Sesc Cadeião Cultural

(*) André Azevedo da Fonseca é jornalista e professor na Universidade Estadual de Londrina (UEL)

Imagem ilustrativa da imagem Uma nova revolução do bichos