Uma história universal
‘‘Pluft, o Fantasminha’’ estreou em 1955 e percorreu o mundo nas versões ‘‘Pluft, the Little Ghost’’; ‘‘Plouft, le Petit Fantôme’’, ‘‘Pluft, el Fantasmita’’, ‘‘ Pluft, das Geistenhein’’, e mais uma infinidade de sotaques. Um fantasminha medroso, juntamente com outros familiares fantasmagóricos, ajudam uma garota (Maribel) a livrar-se do marinheiro Perna-de-Pau, o malvado fanfarrão.
‘‘Mamãe, gente existe?’, questionamento emblemático do clássico, resume a tocante fábula sobre o medo de crescer. O inestimável tesouro do texto sobre piratas e fantasmas emerge, segundo os estudiosos da obra, porque a autora escreveu a peça da perspectiva da criança, mostrando situações vividas no processo de superação da insegurança infantil. O universo híbrido da fantasia interliga personagens sobrenaturais com crianças ‘‘de carne e osso’’. Mesmo com o tom farsesco de muitas cenas, a peça abraça outro tema universal, como se relacionar com o ser diferente.
Maria Clara Machado conseguiu solidificar seu nome num terreno de não muita literatura dramática. Além de Pluft, figuram entre seus maiores sucessos ‘‘A Bruxinha que era Boa’’, ‘‘O Cavalinho Azul’’ e ‘‘A Menina e o Vento’’.
A escritora Cláudia de Arruda Campos, dentro da série Artistas Brasileiros, lançou pela Edusp, o livro ‘‘Maria Clara Machado’’. Nele, a autora traça um panorama do teatro infantil no Brasil, o surgimento do clássico ‘‘Pluft...’, a repercussão da obra no cenário teatral brasileiro, numa visão crítica e esclarecedora. Além disso, ressalta a importância do teatro O Tablado, um misto de espaço cênico e escola de atores que mantém a mesma simplicidade há mais de 40 anos, preservando a pureza cultural característica.
O livro não esquece de ressaltar a evolução de Maria Clara Machado como dramaturga. ‘‘O Tablado continua cumprindo sua vocação de formiga carregadeira transportando folhas para abastecer um celeiro que nem é seu’’, declaração de Carlos Drummond de Andrade, em 1971, que pode ser reproduzida novamente nos dias de hoje com a mesma força.
O ateliê dramatúrgico onde nossa maior autora de teatro infantil esculpe seus tesouros sempre foi O Tablado. O timming de sua linguagem, o domínio de construção dramática, o ritmo das peças e a composição de personagens complexos na obra de Maria Clara Machado são resultado de um trabalho árduo de vivência diária no Tablado. (F.F.)
Para saber mais sobre a obra de Maria Clara Machado leia o livro ‘‘Pluft, o Avesso Poético de um Fantasma’’, de Denise Moreira de Souza, editado pelo Minc-Inacen, 1986.