| |

O CINÉFILO FIEL 5m de leitura

Uma comédia dark

“Cavaleiros da Justiça” é uma ótima comédia dinamarquesa, disponível em várias plataformas digitais

ATUALIZAÇÃO
28 de julho de 2021

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
AUTOR

"Cavaleiros da Justiça": uma comédia de ação desafiadoramente dark, envolvendo homens incompatíveis
 

Anders Thomas Jensen, prolífico roteirista (e diretor) dinamarquês ainda desconhecido no Brasil, dirigiu em 2020 “Riders of Justice” (esqueçam o título original, “Retfaerdighedens Ryttere”) e fiquem com este “Cavaleiros da Justiça”, uma comédia de ação desafiadoramente dark e inclassificável, envolvendo homens incompatíveis, com Mads Mikkelsen (agora sóbrio depois do porre em “Druk”) liderando a briga. Não que Mikkelsen esteja reconhecível aqui: o ator parece ter recebido o espírito do Leon de Jean Reno em “O Profissional” para interpretar um veterano do exército de temperamento explosivo, com habilidades várias e incomparáveis, e uma aversão patológica à terapia.

Bem, mas isto está ficando adiante da trama, que aborda temas maiores, como destino, coincidência, lei das probabilidades e o significado da vida. Tudo a partir da explosão fatal de um trem suburbano e suas consequências. Mikkelsen é o militar Markus, cuja mulher morre na tal explosão; ele é procurado por Otto (Nikolaj Lie Kaas), um analista obsessivo por estatísticas e probabilidades que estava no trem ao lado da mulher de Markus, que diz a ele que o acidente não foi acidente, mas pode ter sido um atentado ligado a uma brutal gangue de motociclistas dinamarqueses, os Riders of Justice do título. Markus volta à ativa e se junta a Otto, ao lado de seu excêntrico colega Lennart (Lars Brygmann) e seu amigo ainda mais estranho, Emmenthaler (Nicolas Bro), e o quarteto – e Mathilde, a filha adolescente de Markus – embarca em missão de vingança para encontrar os responsáveis.

Agudo, violento, transgressor, politicamente incorreto, às vezes hilário, “Cavaleiros da Justiça” é uma fabula moderna sobre a busca de sentido para um mundo onde tudo acontece por acaso, mas nada é uma coincidência. O filme é um mix tão deliciosamente inteligente e perfeitamente equilibrado que seria material de estudo em cursos de roteiro nas escolas de cinema. Nas mãos de um diretor menos habilidoso que Anders Thomas Jensen, a inclusão de tantos personagens diversos, sem falar nas direções erráticas que tomam, teria sido arbitrária e sem sentido. No filme eles servem a um propósito.

Jensen se deleita em ultrapassar os limites do que é de bom gosto - provavelmente muito pouco aqui, se fosse totalmente dissecado. No entanto, há uma força cômica em jogo, em particular nas brincadeiras furiosas e profanas entre os hackers Lennart e Emmenthaler, que varre tudo de lado. Isso, e o absurdo arrogante que esses “charlatões excessivamente inteligentes” jogam com uma cara séria, ajudam Jensen a se equilibrar em corda bamba difícil entre a farsa e a tragédia por um tempo mais longo do que o estritamente aconselhável. “Riders Of Justice” pode cair na repetitividade, e as mudanças de tom altamente ambiciosas do cineasta realmente funcionam – nunca está claro aqui o que levar a sério, e isso pode ser complicado quando se trata dos níveis altíssimos de violência.

Mas, além da anáquica ambição filosófico-existencial, em termos de escapismo desordenado e imprevisível “Riders Of Justice” oferece doses generosas. É uma aventura estranha na companhia de pessoas que você pessoalmente evitaria, mas aqui você gostará de passar o tempo. Mikkelsen várias vezes passa o controle do filme a seus extrovertidos colegas de elenco, em particular Nicolas Bro e Lars Byrgmann, que são claros destaques. A novata Andrea Heicke Gadeberg interpreta a filha Mathilde exatamente no tom certo, vulnerável, determinada, o contraponto certo para o bando de malucos de Jensen.

“Cavaleiros da Justiça” está disponível para aluguel ou compra em iTunes, Amazon Prime Video, Google Play ou em Vudu. Ou no camelódromo de sua confiança...

PUBLICAÇÕES RELACIONADAS