Celso Mattos
De Londrina
Quando ‘‘Hilary e Jackie’’ estreou em Londres, em fevereiro de 1999, provocou uma grande polêmica no círculo da música clássica européia. Muitos músicos que conheceram a violoncelista Jacqueline Du Pré não concordaram com a imagem que o filme faz da solista. Considerada uma das maiores violoncelistas deste século, Du Pré morreu em 1987, aos 42 anos, de esclerose múltipla. A doença a tirou dos palcos aos 26 anos, no auge da carreira. A agonia durou 14 anos. O filme é baseado no livro ‘‘Um Gênio na Família’’, escrito pelos irmãos Hilary e Piers.
Com um ótimo roteiro e interpretações marcantes de Emily Watson (Jackie) e Rachel Griffiths (Hilary) – ambas indicadas ao Oscar 99 – ‘‘Hilary e Jackie’’, dirigido pelo cineasta inglês Anand Tucker, não chega a ser uma obra-prima, mas é um filme sensível que discute sem pieguismo a trágica vida de um gênio. Desde criança, as duas irmãs vivem num ambiente artístico. Com a ajuda da mãe, aprendem música e dança. Enquanto Hilary se mostra uma flautista precoce, Jackie tem dificuldades com o violoncelo. Cansada de ser considerada apenas a irmã de uma pequena celebridade, Jackie resolve levar o instrumento a sério estudando sem parar. O tempo passa e a situação se inverte.
De uma hora para a outra, a vida de Jackie vira pelo aveso. Isolada com as dezenas de viagens que faz pelo mundo, ela praticamente enlouquece. Enquanto isso, sua irmã abandona a carreira de flautista e se casa, construindo uma sólida família. O longa é narrado do ponto de vista das duas irmãs, num trabalho vertiginoso e inventivo de edição pouco comum no caso de cinebiografias musicais. ‘‘Hilary e Jackie’’ mostra como a brilhante carreira de Jacqueline ofuscou os anseios da também musicista Hilary, num intricado jogo de amor fraternal, competições e dependência, chegando ao ponto das duas irmãs dividirem o mesmo homem.
Tanto o livro quanto o filme foram condenados pela sisuda crítica erudita e por antigos amigos de Jackie que não aceitaram a exposição de detalhes pouco edificantes da sua vida, incluindo a sua obsessão sexual e o triângulo amoroso com a irmã. Discordâncias à parte, ‘‘Hilary e Jackie’’ é um filme emocionante e muito bem realizado. A atuação de Emily Watson é realmente impressionante. A atriz foi elogiada até por músicos experientes que tocaram com a verdadeira Jackie. Lançamento da Buena Vista. Duração: 130 minutos.