Segundo Alex Gallo, “o projeto vai avaliar os efeitos desse jogo na promoção de comportamentos que sejam preventivos de abuso e exploração sexual de crianças online”
Segundo Alex Gallo, “o projeto vai avaliar os efeitos desse jogo na promoção de comportamentos que sejam preventivos de abuso e exploração sexual de crianças online” | Foto: iStock

As novas gerações permanecem cada vez mais tempo conectadas à internet. O que muitas crianças e adolescentes não imaginam é que durante corriqueiras disputas de games virtuais ou contatos pelas redes sociais podem acabar se tornando vítimas de abuso sexual, crime que tem aumentado durante a pandemia do novo coronavírus. Conforme dados da ong Safernet Brasil, no primeiro semestre de 2020 foram registradas 46.278 denúncias de pedofilia virtual, índice 89% maior que o mesmo período de 2019.

Visando alertar os jovens e ajudar a combater esse e outros crimes praticados pela internet, a Universidade Estadual de Londrina (UEL) está participando da criação de um jogo virtual direcionado a um público na faixa etária de 14 a 18 anos e que será lançado até o final deste ano. A iniciativa conta com apoio da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), que está investindo 750 mil dólares na parceria feita entre a entidade de ensino londrinense e a Universidade de Huddersfield, localizada na Inglaterra.

“Muitas vezes, os pedófilos são homens adultos que se passam por adolescentes na internet e participam de jogos virtuais para se aproximar das vítimas. A partir destes contatos, podem pedir fotos e vídeos íntimos ou até mesmo agendar encontros com o intuito de se aproveitar sexualmente da criança que inocentemente aceitar o seu convite”, explica Alex Gallo, professor do departamento de Psicologia e Análise de Comportamento da UEL que está participando da criação do jogo de vídeo game chamado "Emílio."

Ele explica que o personagem do jogo é um menino brasileiro que passará por diversos desafios que simulam situações que normalmente acontecem em casos de pedofilia. “O game tem o objetivo de ensinar crianças e adolescentes como devem agir caso sejam assediadas. Por exemplo, quando alguém pedir alguma foto e o jogador aceitar, aparecerá a mensagem dizendo que ele agiu de forma errada e que o certo seria não encaminhar a imagem e contar para o pai ou para a mãe que recebeu essa solicitação. Outras situações que podem deixar a vítima em situação vulnerável também serão expostas no jogo”, esclarece.

Gallo informa que o jogo que está em fase de desenvolvimento no Brasil já foi desenvolvido no Caribe, Índia, Jamaica, Uganda e Reino Unido. “Em cada país, o personagem do game tem um nome e passa por situações ligadas à realidade local. Em Uganda, o jogo é focado na violência contra a mulher. No Reino Unido, é focado no combate ao uso de drogas. No Brasil, optamos por um personagem do sexo masculino que dá orientações para tentar evitar que os meninos se tornem pedófilos na fase adulta”, ressalta.

No Brasil, o jogo que está sendo desenvolvido pela None in Three (Ni3), um centro de pesquisa da Universidade de Huddersfield, contará com validação da ONG Promundo, criada em 1997 para promover a equidade de gêneros e o fim da violência. A validação inclui, por exemplo, a adequação da linguagem. “Todo os cenários, figurinos e expressões introduzidas no jogo devem estar de acordo com a realidade brasileira para que os jogadores se sintam representados na tela”, diz o professor.

A equipe da UEL envolvida no projeto será responsável por testar jogo com 320 jovens com idade entre 14 e 18 anos. “O projeto vai avaliar os efeitos desse jogo na promoção de empatia e comportamentos pró-sociais que sejam preventivos de abuso e exploração sexual de crianças online”, comenta Gallo. Também integram o projeto as professoras da UEL Silvia Regina de Souza e Milena Kanashiro.