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CINEMA 5m de leitura

Um final digno para o James Bond de Daniel Craig

“Sem Tempo para Morrer” fecha a era de Craig com ambição e equilíbrio; de alguma forma, consegue capturar algo de todos os filmes da saga 007

ATUALIZAÇÃO
06 de outubro de 2021

Carlos Eduardo Lourenço Jorge
AUTOR

         Seus olhos não estão enganando você, que está de volta àquela conhecida sala de cinema para encerrar a longa espera. Não quero aborrecê-lo com detalhes sobre os vários adiamentos, de resto todos conhecidos (pandemia, demissão do diretor Dany Boyle, contratação de Cary “True Detective” Fukunaga, entre outros percalços menores), mas as mudanças tornaram o filme um dos mais ansiosamente aguardados da série.

Então, para ser breve de modo que deixaria Bond orgulhoso: valeu muito a pena esperar por “No Time to Die”. E o que é mais impressionante: apesar do atraso de quase dois anos e dos inúmeros trailers, o filme desembarcou há uma semana nos seis continentes envolto em segredos. O que se sabia antes do 30 de setembro era um prólogo pré-titulo, espécie de continuação de “007 Contra Spectre” (2015). E logo depois da longa introdução estamos ao lado de Bond gozando de sua aposentadoria na Jamaica (onde surgiu o personagem em “O Satânico Dr. No”, 1962).    

      Cinco anos se passaram desde que ele deixou o serviço ativo. Mas agora muda de ideia a pedido do velho amigo Felix Leiter – um agente da CIA também surgido em “Dr. No”. Há pouco mais de meio século, a conveniência era ser branco para trabalhar na Agência; em 2020, correção política feita, Felix é negro. A missão, mais perigosa que o esperado: resgatar um cientista sequestrado, e logo enfrentar vilão misterioso que manipula nova tecnologia mortal que pode acabar com o mundo. Até aqui nada novo. Esta fórmula alimentou filmes com tramas que se sucederam por seis décadas. Enquanto esta descrição parece enredo de mais uma missão da série “Bond salva o mundo”, por outro lado “Sem Tempo Para Morrer” está intimamente ligado às outras estreias da era de Craig como 007. Felizmente ele está livre e sem o compromisso de explicar fatos que pesavam sobre Spectre, e é possível entendê-lo sem conhecimento dos outros filmes.

Daniel Craig como 007: nenhuma outra “era Bond” (Connery, Moore, Lazenby, Dalton e Brosnan) teve permissão para revelar o destino final dos respectivos 007. Mas “No Time to Die” cumpre a promessa de ligar todas as pontas soltas
 

Será uma experiência mais rica se você assistiu a eles, mas o processo não é inacessível para potenciais espectadores recém-chegados.   O longo (mas jamais pesado) tempo de duração (163’) poderia causar sobrecarga de exposição para Daniel Craig. Mas isto está longe de ser verdade. O roteiro é densamente traçado, mas o filme tem ritmo rápido, o que significa que raramente há um respiro entre as grandes sequências de ação e uma ou outra revelação. Para entrar em mais detalhes há sério risco de spoilers, mas com certeza a legião de fãs do agente do MI6 terão muito material para discutir após a exibição.

Nenhuma outra “era Bond” (Connery, Moore, Lazenby, Dalton e Brosnan) teve permissão para revelar o destino final dos respectivos 007. Mas “No Time to Die” cumpre a promessa de ligar todas as pontas soltas. Parece novidade (e é) como resultado, e não apenas mais uma missão 007, mas o diretor Cary Joji Fukunaga ainda esmiúça e vai atrás das marcas registradas de Bond ao longo de sua história (dele, Bond), incluindo o covil do vilão da hora incrivelmente projetado, como outros ao longo das aventuras dos anos mais distanres, os 60, 70, 80 e 90.      

Por falar em vilão. Ou por último (quase...), mas não menos importante. Rami Malek, elevado à condição de ator de primeira grandeza (?!) graças à sua imitação de Freddie Mercury, procura ser uma presença ameaçadora como o malvado Safin, um assassino vingativo. Ele é um compêndio de clichês dos vilões enfrentados por Bond por mais de meio século. O desempenho de Malek não ajuda em nada. Pelo contrário. Poucos atores poderiam resgatar um papel tão básico, e Malek não é um deles, desprovido de carisma e energia. Sua especialidade é sussurrar em tom ameaçador e monocórdio. E só não compromete mais porque ocupa pouco espaço físico na história. Não aprendeu aquela história de que menos é mais.    Um retorno a este momento elegíaco de Bond com certeza merece uma revisita, tão emotiva quanto esta a despedida dele. Ainda há muito o que escrever.   

Confira o trailler de Sem Tempo Para Morrer

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