Carlos Eduardo Lourenço Jorge
De Londrina
Especial para a Folha2
É um esforço consideravelmente ambicioso, construir um épico letárgico de 180 minutos de duração sobre um dia na vida de diversas pessoas. Robert Altman já fez isso - de maneira definitiva - em ‘‘Nashville’’ e em ‘‘Cenas de Vida’’. Paul Thomas Anderson, um intelectualmente bem dotado mas ainda ingênuo jovem diretor de 29 anos, tenta pegar carona no caleidoscópio do diretor de ‘‘MASH’’, sua mais notória influência, mas não obtém um décimo da eficácia do modelo. ‘‘Magnólia’’ (veja a programação de cinema na página 5) é por demais apegado afetivamente a seus personagens para que o retrato da angústia americana atinja o nível de excelência, por exemplo, de ‘‘Beleza Americana’’.
Neste olhar episódico sobre 9 problemáticos seres californianos, coincidentemente conectados, o de Tom Cruise é o melhor construído - o ator extrai absolutamente tudo de seu personagem. Ele é Frank Mackey, um guru de auto-ajuda, machista, sexy, furioso e vulnerável que prega o evangelho da supremacia do falo - ‘‘seduzir e destruir’’ - e ensina seu modo de vida mecânico a preços astronômicos durante seminários pornográficos. Mas há outras oito histórias interessantes para contar, e mesmo com três horas à disposição, o roteiro acaba por espremê-las. Algumas são melhor temperadas que outras, e todas afinal contam com um fator positivo para embarcar na empatia do público: o diretor Anderson não é cínico e passeia sua câmera sempre com o coração aberto. Um filme para ver com o entusiasmo de quarentena.