Dom Quixote cheio de graça

Clássico da literatura mundial, o romance "Dom Quixote de La Mancha", escrito pelo espanhol Miguel de Cervantes (1547-1616) ganhou um adaptação circense inusitada que tem arrancado gargalhadas do público pelo Brasil afora. Adaptado pelo paulistano Alexandre Roit e encenado por ele em parceria com o ator Rodrigo Matheus, o espetáculo "Quixote" é um dos destaques da programação de abertura da 14ª edição do Festival de Circo de Londrina. A montagem será apresentada nesta quarta-feira (12), às 18 horas, na Concha Acústica. O festival prossegue até o próximo domingo (16) promovendo diversas atrações gratuitas em espaços públicos da cidade.

A partir de algumas citações do "Quixote", de Cervantes, Alexandre Roit idealizou uma versão para rua, reduzindo a complexa estrutura original para apenas dois personagens: um gari e um morador de rua. Longe de buscar soluções para problemas sociais, são apontadas possibilidades dramáticas e de conflitos entre o espírito livre de um Quixote representado por um 'cidadão em situação de risco' e um Sancho enquadrado nas rígidas normas de conduta social, aqui encarnado pelo gari. Esse compacto vale-se de alguns expedientes oriundos do mundo dos clowns e da arte circense. Entre os objetos de cena destaca-se um tambor de lixo que, fazendo as vezes dos baús de bugigangas, reúne os demais apetrechos manipulados ao longo da montagem.

"Quixote" busca, através da exploração de técnicas circenses como malabares, acrobacia e palhaço, estabelecer uma comunicação energética com o público estabelecendo uma comunicação clara e franca. Na montagem os textos originais de Cervantes são atualizados para um contexto urbano e teatral. "O Alexandre Roit, que assina o texto e a direção do espetáculo teve uma sacada fantástica. É incrível ver um gari citando trechos literais escritos por Cervantes e perceber que a obra é facilmente assimilada até mesmo pelas crianças da plateia", destaca Rodrigo Matheus, integrante do grupo paulista Circo Mínimo, que divide a cena com autor da peça.

Desde que estreou, em 2005, "Quixote" já foi apresentado em várias cidades brasileiras e também na Argentina. "Modéstia à parte, em todos os lugares onde passamos, esse espetáculo tem feito o maior sucesso, arrancando gargalhadas das plateias formadas por pessoas de várias idades", afirma Matheus. Ele credita a empatia estabelecida com o público às diversas técnicas circenses que envolvem a montagem. "Essa é uma das características básicas do circo, que é criar uma linguagem direta e franca com a plateia misturando técnicas cênicas diversas", argumenta.

Embora ressalte que o sentido do circo continua sendo levar diversão às pessoas, Matheus avalia que houve uma diversificação na produção circense no Brasil a partir da constituição das primeiras escolas de circo no país. "Na minha infância, me lembro de ver espetáculos muito parecidos nos diversos circos que frequentei. Isso começou a mudar com chegada das primeiras escolas de circo da cidade de São Paulo, a Academia Piolim de Artes Circenses, criada em 1978, e o Circo-Escola Picadeiro, em 1984. A partir delas outras escolas foram sendo montadas pelo país formando um novo perfil de artistas circenses e uma diversificação no processo de montagem dos espetáculos, que até então eram produzidos apenas por pessoas que já nasciam em famílias que viviam do circo", afirma o ator que investigou o tema para a produção de sua tese de mestrado defendida em 2016.

SERVIÇO:
'Quixote', com Alexandre Roit e Rodrigo Matheus (SP)
Quando - Quarta-feira (12), às 18 horas
Onde - Concha Acústica
Gratuito

Programação do 14º Festival de Circo de Londrina
Quarta-feira (12)

11h
"La risa remedio infalible", com o Palhaço Chispa (Uruguai)
Onde - Calçadão
Gratuito

20h30
'No rolê da capoeira', com Circo da Alegria (Toledo-PR)
Onde - Escola de Circo de Londrina (Av. Saul Elkind, 790)
Gratuito

Programação completa disponível www.facebook.com.br/Festival-de-Circo-de-Londrina