Ninguém garante que o curta ‘‘Eco’’ é o melhor do Festival de Cinema e Vídeo que termina hoje em Curitiba. Mas não há como negar que o trabalho seja um dos mais esperados do evento. ‘‘É o nosso orgulho’’, diz a organizadora do FCVC, Cloris Ferreira. Ela tem motivos para se orgulhar. Com duração de 15 minutos, o filme foi roteirizado, produzido e rodado (em 16 milímetros) em menos de duas semanas pelos alunos dos workshops do festival. O resultado pode ser conferido esta noite, no Canal da Música.
No desafio contra o tempo os novos cineastas acabaram vitoriosos. ‘‘Nossa maior frustração seria não terminar o filme’’, diz o diretor Geraldo Moraes. E para que a equipe não acabasse com a sensação de derrota, detalhes técnicos e algumas possibilidades interessantes tiveram que ser deixados para trás. ‘‘As pessoas não estavam esperando fazer a obra de sua vida. O importante foi a prática’’, explica o coordenador geral das oficinas, Luis Mário Stein.
Esse exercício de cinema deu a cerca de 100 pessoas a chance de acompanhar e trabalhar na produção de um curta do começo ao fim. Para muita gente, a experiência foi inédita. E se foi considerada quase insana por toda a equipe, chegou a parecer irreal para aqueles que nunca tinham chegado perto de uma câmera.
‘‘Foi eletrizante’’, define a decoradora Iara de Oliveira Lopes, que participou do evento pela primeira vez, frequentando o workshop de cenografia, ministrado por Luís Rossi. ‘‘Nós não tivemos muita autonomia para criar, por falta de tempo e de experiência. O Rossi dava ordens e nós executávamos’’, completa. Iara gostou da brincadeira e diz que já considera a possibilidade de trabalhar com cenografia.
Ela faz parte do grupo de cerca de 30 pessoas que iniciaram este ano a participação no evento. Outros 70% fizeram pelo menos uma oficina em alguma das três edições anteriores do festival – o que, a princípio, era uma exigência da coordenação. ‘‘O fato de nem todos serem experientes não atrapalhou. As pessoas estavam muito dispostas’’, diz Stein.
A disposição servia também para obedecer ordens. ‘‘Tinha horas que a democracia não iria funcionar. E todos sabiam que se não concordassem com esse sistema, acabariam num canto apenas assistindo a tudo’’, destaca o coordenador das oficinas.
‘‘Nosso professor de roteiro (Antônio Carlos Fontoura) escolheu o argumento que considerou o melhor e não pudemos constestar. Mas isso fez com que as coisas funcionassem’’, diz o aluno Evandro Rhoden. Ele dividiu com muitos colegas a opinião de que o filme deveria ter mais de uma leitura. ‘‘Mas o Fontoura fez questão de deixar o roteiro bem simples’’, lamenta.
‘‘Os jovens adoram coisas densas. Mas tínhamos que trabalhar dentro de muitos limites’’, afirma Stein. Os roteiristas tinham a obrigação de incluir 11 personagens na história para que todos os alunos da oficina de atores participassem da produção. Alguns planos do filme teriam que ser bem abertos para que o trabalho dos cenógrafos pudesse ser valorizado. E todo o curta teria que ser rodado dentro do Canal da Música. Outro ponto importante: o custo do filme não poderia ultrapassar R$ 32 mil.
Com tantas delimitações, Stein não hesitou em escolher o diretor da obra. ‘‘O Geraldo é rápido e tem uma visão de cinema que eu gosto. Além disso, ele sabe trabalhar com briefing – o que é muito necessário nesse caso, já que o filme não poderia ser autoral’’, elogia.
‘‘Não é um filme meu, assim como o roteiro não é do Fontoura e a direção de arte não é do Rossi. Quem assina o trabalho são os alunos. A minha função não era dirigir e sim dar uma direção e uma coerência ao filme para que não se transformasse num retalho de idéias’’, esclarece Geraldo.