Impedida de embarcar para Portugal - onde atua como professora convidada no curso de Letras da Universidade de Coimbra - Adriana Calcanhotto se impôs um desafio no início da quarentena adotada para conter a pandemia de Covid-19. A artista assumiu o compromisso de compor uma canção todos os dias até a hora do almoço durante o período de isolamento social. O resultado desta disciplina criativa pode ser conferido no álbum “Só”, que reúne nove canções autorais que retratam os sentimentos que o isolamento social provocou na cantora e compositora gaúcha.

Sobre a autodisciplina imposta durante a quarentena, Adriana afirma que é como se tivesse a missão de fazer pão todos os dias. “Mas não sei fazer pães, só sei fazer canções”, ressalta ao informa que em 11 dias, ela já tinha produzidos 30 minutos de música. ‘É um álbum em estado bruto”, afirma sobre o novo disco que foi composto, produzido, gravado e mixado em 43 dias, entre 27 de março e 8 de maio, no Rio de Janeiro, onde a cantora reside.

As nove músicas inéditas compostas pela artista foram distribuídas no álbum em ordem cronológica. O disco é aberto com a faixa “Ninguém na Rua”, que conta com batida funk que Adriana extrai de seu próprio violão. Na sequência vem “Era Só”, baseada em dois vértices - um treinamento de rimas que ela realizava pela Internet que ganhou vida com inserção de piano de Zé Manoel. O beat sintetizado ganhou contornos jazzísticos.

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. | Foto: Leo Aversa/ Divulgação

Na mesma cadência surgem “Eu Vi Você Sambar”, sobre uma certa guitarrada paraense; “O Que Temos”, que viaja pelo trip hop, jazz e um certo afoxé; “Sol Quadrado”, curta como um samba-repente em seu 1m45s; e “Tive Notícias Suas”, a traduzir as trombetas do noticiário em arranjos de metais acompanhados de violão, percussão e voz.

Já a faixa “Lembrando da Estrada” trata da saudade de tudo o que deixamos para trás no isolamento em clima road trip. “Bunda Lê Lê” reverte a face brincalhona de Adriana em parceria com Dennis DJ em seu funk. “Corre o Munda”, é poética e bela como seu nome, que homenageia a denominação original do rio Mondego, que corta Coimbra.

O álbum todo foi gravado sem que Adriana precisasse ir ao estúdio. Após realizar todo o trabalho de pré-produção na casa dela, cantando sobre bases que indicavam a sonoridade que desejava para cada faixa, a cantora dividiu o trabalho de produção com o compositor Arthur Nogueira, que está em passando a quarentena em Belém (PA), sua cidade Natal. De lá, ele moldou a sonoridade junto ao núcleo criativo com os músicos Leo Chaves e Strr – codinome adotado pelo músico Mateus Estrela. Os disco contou ainda com Allen Alencar (guitarra), Zé Manoel (piano), Diogo Gomes (sopros), Bruno di Lullo (violão), Rafael Rocha (percussão), Bem Gil (violão), Thomas Harres (bateria e percussão) e Chibatinha (guitarra).

Junto ao álbum que já está disponível nas plataformas digitais, Adriana lançou no Youtube sob a direção de Murilo Alvesso a versão audiovisual de “Só” em um grande clipe-sequência de todas as músicas registradas no quarto da artista. “Com todo o cuidado na gravação”, faz questão de garantir o fotógrafo e diretor, que também assina a fotografia que ilustra a capa do disco, que conta com arte de Mike Knecht.

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. | Foto: Leo Aversa/ Divulgação