Desde que “Homem-Aranha: Sem Volta para Casa” se tornou um mega sucesso, o pretexto da trama dos “multiversos” virou moda no cinema. O que a cinefilia desconhece é que este conceito foi formulado pela primeira vez em 1895 (por

coincidência o ano da invenção do cinema) por William James (psicólogo e um dos pais o pragmatismo na filosofia) e tem sido utilizado na astrofísica com variações como “universos paralelos”, “universos quânticos”, “dimensões alternativas” ou “linhas de tempo alternativas”.

Curiosamente, o conceito se difundiu no mundo das HQ de super-heróis, que a partir de 1961 passam a falar de dois mundos paralelos. Os irmãos Joe Anthony Russo, diretores de dois filmes do Capitão América e dois da saga Vingadores

para a Marvel, estão por trás (como produtores) de “Tudo em Todo Lugar ao Mesmo Tempo”, obra psicodélica e delirante em lançamento na cidade e que pode ser pensada como versão alternativa para “Matrix” ou “Dr. Estranho no Multiverso da Loucura”.

Aqui, os diretores Dan Kwan e Daniel Scheinert, conhecidos como "os Daniels"; e autores de um primeiro filme amalucado chamado “Swiss Army Man”, nos apresentam a história de Evelyn Kwan (Michelle Yeoh), esposa e mãe de origem chinesa, que dirige uma lavanderia nos Estados Unidos com seu dócil marido Waymond (Ke Huy Quan, mais conhecido como Short Round, o jovem assistente de Indiana Jones em “O Templo da Perdição”). Evelyn e Waymond têm uma filha adolescente chamada Joy (Stephanie Hsu), que não se sente amada por sua mãe. Evelyn não quer que seu pai Gong Gong (o veteraníssmo James Hong), um tradicionalista idoso, descubra que sua neta é gay. Até aqui, tudo normal.

A atriz Michelle Yeoh,no papel de Evelyn Kwan, é uma das presenças marcantes do filme
A atriz Michelle Yeoh,no papel de Evelyn Kwan, é uma das presenças marcantes do filme | Foto: Divulgação

Os cônjuges são convocados por uma fiscal do governo (Jamie Lee Curtis) para estudar o futuro comercial da lavanderia. Lá, Evelyn vai enfrentar um marido diferente, alguém que veio de um lugar diferente, o tal universo alternativo. O que se segue não pode ser revelado, mas é conveniente que se diga que essa alegoria sobre famílias disfuncionais e o choque entre tradição e novos valores é dominada por uma enxurrada avassaladora de imagens e referências, incluindo, entre outros, o clássico “Ratatouille” da Pixar, os cults de Wong-Kar Wai (“Amor à Flor da Pele”) e Chen Kaige (“Adeus, Minha Concubina”), e “Scott Pilgrim Contra o Mundo”, de Edgar Wright.

Ensandecido, estranho, admirável (raramente), emocional, espirituoso, confuso, medianamente engraçado, acelerado, exaustivo. Tudo isso e alguns qualificativos podem se encaixar neste filme de fértil e abundante fantasia que abriga ficção científica, comédia fantástica, musical, artes marciais e quantos gêneros queiram acrescentar. O que não o transforma na obra prima que alguns críticos de ponta e influencers de redes sociais querem vender como genialidade pura. Um filme presunçoso, com uma certa engenhosidade que se confunde com inteligência, com ambições e pretensões em que

alguns acreditam ver gênio.

A verdade é que “Everything Everywhere All at Once” é um filme hiperativo que obriga o espectador a redobrar a atenção durante 139 minutos). Pretende ser original, inteligente e inovador, mas no fundo carece de substância. De qualquer modo, no entanto, vale a pena pela notável contribuição da legendária Michelle Yeoh.

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