São Paulo, 11 (AE) - Só falta falar. O elenco de tubarões do filme "Do Fundo do Mar" voa para abocanhar a presa no ar, arquiteta plano de fuga e expõe a fragilidade dos humanos com sarcasmo. Pena que a faceta engenhosa das criaturas, aliada à extravagância de efeitos especiais, não contribua com o suspense. Superexpostos, os tubarões não metem tanto medo. A única coisa que mexe levemente com os nervos do público é não saber quem será o próximo humano a virar lanchinho.
O diretor Renny Harlin (de A Ilha da Garganta Cortada) parece mais preocupado em imprimir um ritmo acelerado, semelhante ao dos filmes de ação. Em meio às tradicionais sequências com corpos sendo mutilados, desfilam desastres aéreos
explosões, inundações e maremotos. A ação parece tentar compensar o roteiro capenga, que precisou surpreendentemente de três profissionais para sair (Duncan Kennedy, Wayne Powers e Donna Powers).
No filme, que estréia amanhã (12), a melhor desculpa que eles encontraram para dar vida a supertubarões foi uma pesquisa que emprega a proteína do cérebro do peixe na cura do mal de Alzheimer. Para aumentar as chances de sucesso, a doutora Susan McAlester (Saffron Burrows) resolveu fazer manipulação genética. Ela ampliou o cérebro das criaturas, deixando-as muito mais irritadas e inteligentes.
Mas a conclusão do projeto depende de financiamento da empresa de Russel Franklin (Samuel L. Jackson, um talento desperdiçado). Para liberar mais verba, o milionário tem a infeliz idéia de visitar as instalações onde são realizadas as pesquisas (algo parecido com o cenário de O Segredo do Abismo). Durante o que deveria ser a comprovação da eficácia do projeto, os tubarões atacam os humanos, revelando mais tarde que tudo fazia parte de plano surpreendente. A natureza também não ajuda, provocando um maremoto que deixa homens e mulheres prisioneiros no laboratório. Clichês - O filme abusa dos clichês do gênero. Não faltam pés balançando ingenuamente dentro dágua, partes do corpo humano destroçadas boiando e o previsível jogo de gato e rato. Os efeitos especiais estão mais inventivos - até porque os tubarões nunca foram tão rápidos -, mas o resultado é pouco convincente. Exceto por Jackson, o elenco é tão inexpressivo que compromete a empatia dos personagens.
O espectador tem de fazer esforço para se importar com o triste destino dos humanos. Um lembrete: a fúria dos predadores é tanta que nem um nome de prestígio em Hollywood é garantia de sobrevivência.