Tsurus de Carlos Kubo voam para o Rio
Artista plástico participa da 19ª Bienal Internacional do Livro com uma instalação de 11 metros de altura
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sábado, 31 de agosto de 2019
Artista plástico participa da 19ª Bienal Internacional do Livro com uma instalação de 11 metros de altura
Walkiria Vieira - Grupo Folha
Radicado em Londrina há seis anos, o artista plástico Carlos Kubo instalou um painel de 11 metros de altura por 30 de largura, mais duas esculturas em aço no Pavilhão das Artes do Rio Centro,no Rio de Janeiro, onde será realizada a 19ª edição da Bienal Internacional do Livro. A instalação levou uma semana para ser feita – um trabalho realizado das 7 às 19 horas e acompanhado o tempo todo pelo artista.
Todos os anos, a Bienal homenageia um país, e em 2019 será o Japão. Kubo, por sua vez, que há 10 anos trabalha a série “1000 Tsurus by Carlos Kubo”, foi convidado pela multinacional francesa GL Events a apresentar seu trabalho e se sentiu honrado diante do espaço que teria para trabalhar, com apenas uma ressalva: “Eu tenho medo de altura, não conseguiria executar a pintura em um andaime. Daí, tive a ideia de fazer o projeto e produzir os painéis em gliclée – impressão digital em jato de tinta. Trata-se de uma impressão em material de tecido de alta qualidade e resistência. A obra foi fatiada, transportada em rolos e toda calculada para que virasse uma única peça e incorporada à parede”, relata.
A nova obra se junta aos painéis de Eduardo Kobra e Linda Valente, Marcelo Ment, Rafa Mon, Acme e Band´s, todos artistas renomados e os primeiros a terem obras inauguradas nesse projeto. Com o evento programado de 30 de agosto a 8 de setembro, no dia 18 de agosto Kubo e equipe fizeram a entrega. “Tenho muito orgulho de todos que investiram tempo e energia nesse trabalho. Todo o material precisou ser despachado por uma transportadora para chegar ao destino e calculamos tudo para que não houvesse falha.
Só as esculturas em aço, de três metros cada, pesam 300 kg cada uma”. A confecção dos tecidos com os desenhos foi feita pela empresa Winn Fashion, de Londrina, dirigida por Rogério Dantas. A empresa Fabreck fez a montagem e pintura das duas esculturas de tsurus em chapa de aço e o profissional Roberson Rodrigues, da Talento Molduras, foi o responsável pela fixação dos painéis na parede. “Todos londrinenses”, ratifica Kubo. As fotos e vídeos são do amigo Luiz Sérgio Carreiro, que é professor da UEL.

O artista Carlos Kubo adiantou que cogita uma obra grandiosa como essa para a cidade de Londrina. "Conversei com o Caio Julio Cesario, secretário de Cultura, e será avaliado um local na cidade. Ainda tenho medo de altura, mas o tamanho da obra já não me amedronta, principalmente porque sei que posso contar com tantos profissionais”. O objetivo da possível obra que contemple Londrina é deixar a cidade mais bonita, segundo Kubo. “E com arte ao ar livre", afirma.
Tema que não se esgota
No painel de Kubo, um bando de tsurus. “Não contei exatamente quantos são, mas desde que conheci, me apaixonei pelo significado da história de Sadako Sasaki e durante os dias em que estive acompanhado a montagem, tive a oportunidade de explicar para as pessoas o que significam os tsurus. Eu gostaria que com essa mensagem as pessoas repensassem o jeito de lidar com o próximo, dedicando um tempinho para o outro e sendo grato. Decidi trilhar esse caminho. Em 2018, levei para Hiroshima 1000 tsurus confeccionados pelos visitantes da Expo Japão. Geralmente, as pessoas querem fazer e levar para casa e quando expliquei que era para colocar num monumento de paz, compraram a ideia e, em três dias, fiz a fieira com os 1000 tsurus e registrei tudo: da confecção à entrega”, alegra-se.
Artista reconhecido mundialmente, com centenas de exposições no currículo e obras que fazem parte de acervos particulares no Brasil e no exterior, Carlos Kubo sente-se realizado. Natural de Lins, interior de São Paulo, estudou Publicidade na Faculdade de Belas Artes de São Paulo. Para se ter uma ideia de sua produtividade, enquanto fazia sua exposição beneficente “Spirit of Zico”, em homenagem ao jogador de futebol Zico, no Japão, em julho, Kubo trabalhava no projeto do tecido dos tsurus para a Bienal Internacional - paralelamente. A Bienal Internacional do Livro do Rio mudou também sua identidade visual. Para a edição de 2019, a Agência Crama, responsável pela criação da primeira marca do evento, resolveu transformar os livros em pipas, convidando a população a “passear” e conhecer cada estande de livros do evento.
Símbolos de longevidade e de felicidade
A lenda dos tsusrus ficou mundialmente conhecida a partir de uma garotinha chamada Sadako Sasaki. Ela nasceu em Hiroshima e tinha dois anos quando os americanos lançaram a bomba atômica sobre a cidade, em 1945. Ela vivia distante do epicentro da bomba e, juntamente com a mãe e o irmão, saiu ilesa do ataque.
Durante a fuga, porém, todos foram atingidos pela chuva negra radioativa que caiu sobre a cidade. Ela tinha apenas dois anos quando se tornou uma vítima da bomba atômica.
Era uma garota aparentemente saudável, até completar doze anos. Em janeiro de 1955, foi diagnosticada com leucemia. Sua internação ocorreu em fevereiro de 1955 e teve o prognóstico de um ano de sobrevida. Em agosto, sua melhor amiga Chizuko Hamamoto foi visitá- la e presenteou-a com um origami (dobradura) de tsuru. Na oportunidade, contou-lhe sobre a lenda, segundo a qual quem faz mil tsurus de origami tem direito a um desejo atendido pelos deuses.
Sadako decidiu fazer os mil tsurus desejando a sua recuperação e, como a sua doença foi causada pela bomba, ela também pediu pela paz da humanidade.

A doença avançava rapidamente e ela se sentia cada vez mais debilitada, mas prosseguia dobrando lentamente os pássaros, sem se mostrar zangada, mas sim resignada. Em dado momento a menina compreendeu que sua doença era fruto de uma guerra, e mais do que desejar apenas a própria cura e a paz para a humanidade, desejava também que nenhuma outra criança sofresse com as guerras. Ela dizia a cada origami de tsuru: “Eu escreverei paz em suas asas e você voará o mundo inteiro”.
Na manhã do dia 25 de outubro de 1955 Sadako montou seu último tsuru e faleceu, amparada por sua família. Ela não conseguiu completar os mil origamis, fazendo 644. Mas, seu exemplo tocou profundamente seus colegas de classe e estes dobraram os 356 tsurus que faltavam. Então, seus amigos ergueram um monumento em sua memória, no Parque Memorial da da Paz (em Hiroshima, onde está escrito: “Este é o nosso grito. Esta é a nossa oração. “Paz na terra.”

