Primeira mulher a assinar um samba-enredo e a fazer parte da ala de compositores de uma escola de samba, a Império Serrano, Yvonne Lara da Costa - mais conhecida como Dona Ivone Lara - completaria 99 anos de idade no dia 13 de abril se não tivesse falecido em 2018. O aniversário de vida da artista que rompeu o machismo que dominava o universo do samba carioca está sendo celebrado com o lançamento de quatro canções inéditas compostas por ela. Intitulado “O Baú de Dona Ivone”, o álbum reúne interpretações de Maria Rita, Xande de Pilares, Pretinho da Serrinha, Dudu Nobre e Fundo de Quintal.

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. | Foto: Divulgação

Editado pela gravadora Radar Records e já disponibilizado nas plataformas digitais, o EP “Baú de Dona Ivone” traz canções que foram deixadas inacabadas pela artista e concluídas após sua morte por parceiros dela. É o caso de “Dois Corações Abrindo a Manhã” (Dona Ivone, Bruno Castro e Rildo Hora), que nasceu de um dos famosos contracantos (os “laralaiás”) que a cantora improvisava com extrema naturalidade. “Estávamos num show em Curitiba, no Sesc da Esquina, em 2005 e na música “Tendência” ela deixou o canto com o público e veio fazendo um desenho de improviso bem peculiar. Separei esse improviso e mostrei a melodia pro Rildo Hora. Ele perguntou se podia fazer uma segunda parte e me mandou pra fazer a letra”, conta o compositor sobre a música que ganhou a voz de Maria Rita.

“O Espaço pra Sonhar” (Dona Ivone e Bruno Castro) nasceu numa fase, nos últimos anos de vida, em que Dona Ivone ficava muito em casa, criando melodias, sentada em seu quintal em Oswaldo Cruz. Numa dessas melodias, Bruno construiu a letra de exaltação ao samba: “É uma letra bem política, no sentido de afirmação do samba” explica o letrista que convidou o grupo Fundo de Quintal para gravar a música.

Interpretada por Xande de Pilares, a música “Já é Hora” tem uma origem inusitada. Amante de doces (que nem sempre podia comer por questões de saúde), Dona Ivone improvisou um samba em louvor ao pudim de Dona Fátima, sogra do compositor Bruno Castro. Seu parceiro registrou a melodia e, tempos depois, conta que acordou com a segunda parte da música inteira na cabeça. A outra inédita dessa leva, “15 Anos após o Centenário”, foi feita por Bruno e Zé Luiz do Império, a partir de melodia de Dona Ivone e seus relatos sobre Vó Tereza, personagem fundamental pro jongo, para Serrinha e para toda a comunidade de Madureira. Tia de Dona Ivone, ela é celebrada num samba em forma de crônica gravado por Dudu Nobre e Pretinho do Serrinha.

O EP também traz o registro de “Nas Escritas da Vida”, música lançada em 2010 que agora volta em uma versão inédita, com Dona Ivone dividindo os vocais com Gilberto Gil. Completando a homenagem, Dandara Mariana canta “Silêncio da Passarada”, feita por Bruno Castro e Ciraninho, em tributo à autora de “Sonho Meu” e tantos outros sambas magistrais.

O projeto é uma extensão do álbum “Baú da Dona Ivone”, lançado em 2012 com gravações inéditas da compositora e participações de grandes nomes da MPB, entre eles Caetano Veloso e Maria Bethânia. O repertório do disco que naquela época saiu com tiragem dirigida somente a formadores de opinião, escolas e bibliotecas da cidade do Rio de Janeiro (RJ) foi dividido em três EPs disponibilizados nas plataformas digitais pela gravadora Radar Records. Os próximos dois volumes serão lançados futuramente em datas que ainda não foram divulgadas.

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