TRIBUTO EM FAMÍLIA Filho de Thelonius Monk faz homenagem ao pai reunindo em CD amigos como Herbie Hancock, Ron Carter, Clark Terry e Arturo Sandoval ReproduçãoThelonius Monk é um dos nomes mais importantes do jazz modernoReproduçãoO baterista T.S. Monk comandou uma competente homenagem ao paiReprodução Ranulfo Pedreiro De Londrina Thelonius Monk sempre foi apontado como um dos pilares do jazz moderno, um músico que se desenvolveu no bebop para depois seguir caminhos próprios. Não há equívocos nesta interpretação, mas vale ressaltar o fato de Monk se afirmar como compositor reconhecido anos depois, quando já comandava suas próprias formações. Monk desenvolveu uma estrutura que privilegiou, além do improviso melódico, alterações significativas. Em suas interpretações, ‘‘desobedecia’’ os compassos, provocando sensação de desencontro entre melodia e ritmo. Também utilizava pausas com frequência, imprimindo silêncios prolongados, eliminando a linearidade de seu fraseado. Costumava tocar com os dedos retos, quase paralelos ao teclado, contrariando técnicas que exigem maior angulação, enquanto marcava o tempo deslizando tranquilamente o pé direito sobre o piso. Sua personalidade era complexa e introspectiva. Um pianista que talhou o nome e o estilo no rol dos mais importantes da música americana. Monk teve um filho que se tornou baterista e ambos chegaram a tocar juntos. O garoto, T.S. Monk, é um músico respeitável que, anos atrás, comandou uma homenagem ao pai. O disco reuniu nomes como Ron Carter, Herbie Hancock, Roy Hargrove, Arturo Sandoval, Wayne Shorter e Clark Terry, entre outros, e foi lançado em 1997 pela N2K. O CD só agora chega ao Brasil pela Abril Music. Antes tarde do que nunca. T.S. Monk comanda uma verdadeira big band, realçando com bons arranjos as melodias do pai. O disco abre com ‘‘Little Rootie Tootie’’, com solo de Danilo Perez ao piano, que tenta lembrar o estilo – e consegue – de Monk. Na cozinha, Ron Carter no baixo e T.S. na bateria seguram qualquer parada. No repertório está a bela ‘‘Crepuscule with Nellie’’, talvez a faixa mais conhecida da seleção, com solos de saxes tenor e soprano de Wayne Shorter. Na homenagem, T.S. Monk optou por caminhos menos óbvios, procurando um repertório pessoal e excluindo clássicos como ‘‘Well, You Needn’t’’, ‘‘Off Minor’’, ‘‘Epistrophy’’ e ‘‘Round Midnight’’. A ausência das mais conhecidas não diminui o álbum. O repertório privilegia composições em que Monk homenageava a família, como em ‘‘Crepuscule with Nellie’’ (Nellie era sua esposa). ‘‘Boo Boo’s Birthday’’ foi um presente de aniversário para a filha Barbara. ‘‘Little Rootie Tootie’’ é uma brincadeira à energia de T.S. Monk na infância. A balada ‘‘Dear Ruby’’ (letra de Sally Swisher) foi dedicada a uma ex-namorada, enquanto ‘‘Suddenly’’ (letra de Jon Hendricks) foi composta para o amigo Bud Powell – a versão traz scats de Dianne Reeves e Nnenna Freelon em um verdadeiro confronto. O piano incisivo de Herbie Hancock aparece em ‘‘Two Timer’’, uma das melhores faixas, inédita. Outro destaque é o encontro do saxofonista Jimmy Heath com o trompetista Arturo Sandoval em ‘‘Bright Mississipi’’. Thelonius Monk começou a se destacar como pianista no final da década de 30, e participou da concepção do bebop ao lado de Kenny Clarke, Dizzy Gillespie e Charlie Parker. Antes de trilhar caminhos pessoais, acompanhou o saxofonista Coleman Hawkins. Posteriormente, Monk – que morreu em 1982 – tocaria com Sonny Rollins, Milt Jackson, Art Blakey e John Coltrane. ‘‘Monk on Monk’’ é um tributo de familiares, amigos e admiradores. Não há uma busca forçada ao hermetismo interpretativo do compositor, também não há tentativas de popularizá-lo com arranjos superficiais. O que se encontra são versões extrovertidas de uma personalidade fechada. A exposição dinâmica da música de Thelonius Monk obedece à espontaneidade dos instrumentistas. Outra vantagem é que os intérpretes evitaram imitá-lo, optando por citações em alguns solos – o contrário seria desastroso. ‘‘Monk on Monk’’ é um caso raro de tributo que deu certo.