Desde que foi lançada em 1968 por Wilson Simonal, a música “Sá Marina” já ganhou mais de 300 regravações, incluindo uma versão em inglês intitulada “Pretty World” interpretada por ninguém menos que Stevie Wonder. A canção que se tornou um dos maiores hits de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar (1943-2017) integra o repertório de um tributo à dupla de compositores que a cantora Leila Pinheiro acaba de lançar em CD e também nas plataformas digitais.

Álbum traz um tributo em 15 faixas
Álbum traz um tributo em 15 faixas | Foto: Divulgação

Editado pela gravadora Deck, o álbum “Vamos Partir pro Mundo – A Música de Antonio Adolfo e Tibério Gaspar” reúne 15 faixas. O disco conta com direção musical e arranjos assinados pelo pianista e melodista Antonio Adolfo. Leila e Adolfo optaram por selecionar um repertório com músicas que mantém um clima de contemporaneidade na obra dos compositores que é centrada basicamente na década de 1970, considerada a era de ouro dos festivais de música. Naquele período, a dupla de autores emplacou vários outros sucessos, como BR3, que o V Festival Internacional da Canção na voz de Tony Tornado e “Teletema”, representante do Brasil na “Olimpíada da Canção de Atenas”, na Grécia, e que ficou em 2º lugar na competição.

“Para mim eram músicas novas, uma vez que não havia gravações recentes. Foi um presente mergulhar nessa obra maravilhosa”, comenta Leila. A faixa de abertura “Dono do Mundo” foi originalmente criada para o disco “Brazil And Brazuka”, que Antonio Adolfo lançou em 1970. Joe Davis, dono da inglesa FarOut Records, encomendou-lhe o álbum quando a MPB estourava para o mundo e o pianista carioca já com o prestígio de sua banda A Brazuca. “Resolvi convidar o Tibério (para compor comigo) e deu muito certo: estávamos mais amadurecidos, com mais técnica para a composição”, explicou.

Outro resultado da época de A Brazuca, “Gloria, Glorinha” foi escrita logo após um show d’A Brazuca no Espírito Santo. Os músicos se encantaram com garotas mineiras que passavam férias na cidade de Guarapari e Glória, presente naquela noite, acabou homenageada com a canção. Originalmente gravada em clima de festa pelo conjunto, a faixa ainda foi interpretada posteriormente por Claudette Soares e Doris Monteiro.

Composta originalmente para o filme “Ascensão e Queda de Um Paquera” (1970), de Victor di Mello, “Cláudia” carrega todo o clima de uma garota de Copacabana anos 1960. “Sá Marina”, que dispensa apresentações, apresentou um curioso desafio: justamente por ter sido extensamente regravada, era difícil para Antonio criar uma releitura original. Mas isso não foi impeditivo: “No 40º arranjo cheguei a uma harmonia bem diferente da original e tudo saiu tranquilo com a interpretação grandiosa de Leila”. A presença do percussionista Dadá Costa, tocando congas, traz influências da música caribenha.

“Vamos Partir pro Mundo”, que foi escolhida canção-título do disco, foi a última canção composta pela dupla no final de 1970. “Isso ocorreu logo após o Festival Internacional da Canção daquele ano, quando a dupla venceu com a clássica “BR-3″, interpretada por Tony Tornado e o Trio Ternura. Resolvi me exilar, mas não sem antes deixar Vamos Partir pro Mundo para o Tibério letrar. Na época ela foi gravada por Doris Monteiro, e agora magistralmente pela Leila”, comenta Adolfo.

“Teletema”, que fez parte da trilha sonora da novela “Véu de Noiva” (1969) foi inspirada num final triste de um relacionamento de Tibério com uma namorada. “Domingo Azul” ganhou arranjo em ritmo de ijexá. “Alegria de Carnaval”, uma marchinha com pitadas de frevo, combina harmonias à la bossa sessentista. “Caminhada”, foi primeira composição da dupla. “No nosso novo disco misturei baião com ijexá e outras bossas, com harmonia e uma melodia, agora aprimorada, que somente uma grande cantora como Leila Pinheiro é capaz de interpretar com tanta tranquilidade”, explicou o compositor.

O set lista conta ainda com regravações de “Giro”, música anteriormente gravada por Elis Regina, além de “A Cidade e Eu”, “Ao Redor”, “Pela Cidade”, “Tema Triste”, originalmente gravada por Maysa; e “Correnteza”, lançada por Simonal em 1968.