O designer gráfico, artista plástico e ilustrador Antônio Marcos Feitosa, o Dovinho, atua como educador artístico no Centro de Atenção Psicossocial Infantil (Caps-i), onde oferece oficinas de arte a crianças e adolescentes. Durante a pandemia, as aulas estão suspensas e Dovinho segue trabalhando no setor administrativo da unidade. Paralelamente, continua também criando e dando continuidade a um trabalho que realiza há cerca de 20 anos.

Produtivo por natureza, o caçula entre oito irmãos conviveu com cultura e arte dentro de casa desde sempre. "Comecei aos nove anos de idade, mas me descobri como artista na fase adulta". Sem dar aulas, segue na ativa na extensão do projeto intitulado "Prioridades do Eu" - que tem como proposta transmitir a mensagem de maneira limpa, enxuta. "Uma das coisas que mais gosto é produzir logomarcas. Com o mínimo de traços possíveis, quero passar a ideia", explica.

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. | Foto: Dovinho/ Divulgação

É preto no branco?

"O ponto de vista constrói o objeto". A frase é de Ferdinand de Saussure (1857-1913), linguista suíço, considerado o fundador da linguística como ciência moderna. O olhar sobre o cotidiano, como a situação da pandemia que atinge o mundo todo, dúvidas, críticas e reflexões são combustíveis para Dovinho produzir imagens tão subjetivas quanto impactantes. O significante e o significado lá estão. Todos em preto e branco. Mas a interpretação é livre. Cada um, com suas vivências, pode enxergar de um ponto de vista. E Dovinho reflete: "Criei um grupo de transmissão e meus amigos recebem, curtem e querem que eu explique ou coloque uma legenda", conta. "Não é para ter legenda, não tem que tentar adivinhar. A imagem é o que ela representa para você. Algumas são mais diretas, outras não, admite. Com seu universo pessoal, cada um faz sua leitura e quer compartilhá-la com o criativo.

Uma imagem, mil palavras

Dovinho conta que está investindo muito nessa fase de trabalho. "Não parei de trabalhar um dia. Minha rotina mudou muito, é verdade, e minha crítica específica nesse momento de pandemia é sobre o capitalismo em cima do vírus em todo o mundo". A exploração sobre Covid-19 é gritante para Dovinho e com sua arte, ele instiga cada leitor. Coloca no concreto, por meio das imagens, como encara e sente a sua fé, por exemplo.

O designer considera que colocar uma legenda é um fator limitador. "Eu não quero direcionar o olhar, poluir a interpretação e uma das ideias é valorizar a subjetividade", afirma. Os signos que chegam como histórias em preto e branco buscam a simplicidade. Entre suas referências de Dovinho, cita Piet Mondrian. "Pelo grau de abstração que chegou e pela sua trajetória. E nesse trabalho, os desenhos, as imagens pictóricas têm que ser o mais objetivas possível. Mas eu posso construir com a subjetividade", acrescenta.

Um exemplo é uma imagem de passarinhos fora da gaiola. "Veja a situação que estamos passando hoje. Quem gosta de ficar preso?", questiona. Essa pode ser uma forma de compreender a ilustração. Mas não para por aí. "Então, essas ideias e sentimentos transformo em uma linguagem enxuta.

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. | Foto: Dovinho/ Divulgação

Corel Draw, Photoshop e Ilustrador são os programas que o designer utiliza e faz de seu background, sensibilidade e vivência pessoal, verdadeira arte para refletir. "Estou planejando uma exposição, mas por enquanto está tudo lá no instagram pimenta_violeta. Não estou aqui para causar polêmica, pois defino a arte como pura expressão da alma. Tudo tem que fazer sentido", pensa.

Diante do mapa do Brasil carregado de ícones - produtos de maior exportação brasileira: celulose, café, milho, soja, carne de frango, carne de boi, petróleo, por exemplo, nossas verdadeiras riquezas tomam todo o mapa. Que mensagem o autor quis transmitir? Quais críticas estão por detrás de uma imagem? Ao centro, ratos e a figura toda conduz o pensamento.


Observador, sensível e crítico, Dovinho não dá respostas, mas faz pensar. "As interpretações são inúmeras e chegam a mim como feedbacks preciosos e isso eu não quero perder. Cada ser traz em si um universo. Como expectado, nesses cerca de 20 anos, estou lendo o livro da vida e mostrando o meu ponto de vista. Os subsídios estão a minha volta, o tempo todo. Sigo de coração aberto para vida e penso que com humildade e respeito, se entra em qualquer lugar", diz. O olhar profundo do artista plástico é sobre o todo, é sobre a parte. "A arte não é elitista, a arte é uma janela para o mundo e podemos, por meio da arte, educar o povo e ensinar a ler o que está cada dia mais escancarado e desmascarado. É só observar.

Serviço:

Veja mais no instagram do artista: pimenta_violeta.