O “Top Gun – Ases Indomáveis” (1986) de Tony Scott, o falecido irmão de Ridley e a quem o filme de agora é dedicado, foi um blockbuster que, naquele momento, obteve críticas pouco entusiastas. Mas as primeiras aventuras do jovem piloto Maverick acabaram sendo revertidas favoravelmente, se transformando em imenso êxito, um verdadeiro e inoxidável ícone popular. Ao que parece, deu resultado a legião de apoiadores do então arrogante Tom Cruise, assediando (na época se dizia “cantando” ) a inesquecível heroína mais velha Kelly McGillis e trocando pesadas farpas com o Iceman vivido por Val Kilmer.

Imagem ilustrativa da imagem “Top Gun: Maverick”: Tom Cruise é um super-herói sem metaverso
| Foto: Divulgação/Paramount Pictures

Trinta e seis anos depois, a turma de ases aéreos está reunida novamente, com o profissional quase anônimo Joseph Kosinski (“Oblivion”, “Homens de Coragem”) na direção e uma atraente e madura Jennifer Connelly como interesse amoroso, substituindo McGillis, agora com 65.

A aparente ausência de idade de Cruise (está com 59) aparece na sequência no futebol de praia e em cenas em que Maverick exibe habilidades e resistência para envergonhar pilotos muito mais jovens, embora o roteiro também mostre superiores implicantes e garotos inexperientes brincando com ele por ser mais velho.

Cruise não está nem aí, tendo entrado em uma fase de sua carreira de estrela quando as ambições de atuação (vindas de um quase Oscar pelo anti-Maverick de “Nascido em Quatro de Julho”) são atualmente substituídas por um regime de condicionamento físico. Nos filmes da série “Missão Impossível” (o sétimo, julho de 2023), Cruise fazendo suas próprias acrobacias é literalmente uma piada, já que a estrela se mostra tão indomável e sempre renovável quanto um avatar de videogame.

Em “Maverick”, fotos IMAX de seu rosto com capacete mostrando tensão são intercaladas com imagens de tirar o fôlego de aviões reais fazendo coisas realmente perigosas. Ele (re) surge aqui bem mais convincente. Como convém a uma espécie de último grande herói, alguém fazendo enorme sucesso sem estar ligado exclusivamente a uma franquia.

Um conflito inicial, não desenvolvido pelo roteiro, entre Maverick e um contra-almirante conhecido como “Drone Ranger”, reconhece mudanças na guerra aérea desde 1986. Mas a missão que deve ser realizada é planejada de modo que apenas um voo de bombardeiro estilo Dam Busters possa atuar.

Voando alto com minha imaginação: isso pode ser uma alegoria da maneira como o filme privilegia o trabalho de dublês e o hardware sobre as modernas imagens produzidas por computador, com seus técnicos de computação executando filmes de grande sucesso e missões de combate...a partir de suas mesas.

Também é um frisson que o tal contra-almirante seja interpretado por Ed Harris, veterano ator de “Os Eleitos” (1983) – o filme sobre pilotos de testes que os críticos gostaram muito mais do que “Top Gun”, porque interroga fundo as fantasias que o filme de sucesso estabeleceu de forma tão atraente e fugidia.

Também não é por acaso que o “Inimigo” agora é um estado vilão/desonesto anônimo, e a nova missão Top Gun é praticamente um análogo de “Guerra nas Estrelas” de George Lucas, já que Mav e seus amigos precisam lançar um ataque contra uma Estrela da Morte terrestre.

Acredito que a celebração – justa, pois o filme tem mais qualidades do que eventuais implicâncias nostálgicas – de filmes como “Top Gun: Maverick” acontece porque são vistos e apresentados como uma alternativa aos vários multiversos Marvel/Disney/ou-seja-lá-o-que-for; é um filme com cenas de ação que se fazem sentir no corpo, com um tipo de técnica que, na verdade, parece que os atores estão pilotando um avião em vez de estar na frente de uma tela verde; e com desafios em escala humana, por mais complicados que possam ser para a maioria de nós.

A diferença é mais ou menos esta: os dois top guns estabelecem um diálogo compreensível, afetuoso e inteligente enquanto cinema– e a quem não viu, o primeiro não fará falta. Já “Dr. Estranho 2” parece mais uma (má) refilmagem de “Ghostbusters”. Pior: sem o bom humor. E muito pior: sem Sigourney Weaver...

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