Tonho Costa: “Nunca fui um frequentador de danças, mas fico vendo o povo dançar e fico admirado, acho tudo muito lindo, foi assim que surgiu o título do projeto"
Tonho Costa: “Nunca fui um frequentador de danças, mas fico vendo o povo dançar e fico admirado, acho tudo muito lindo, foi assim que surgiu o título do projeto" | Foto: Fernando Augusto Mariano/ Divulgação

Um disco pode preencher espaços, vidas, fazer dançar, cantar e pensar? Pode e é isso que “Se eu Soubesse Dançar”, novo disco do cantor, compositor e instrumentista Tonho Costa quer fazer ao longo de seis faixas inéditas, todas escritas pelo artista londrinense. Com o patrocínio do PROMIC - Programa Municipal de Incentivo à Cultura de Londrina, o disco traz uma pesquisa importante para o reconhecimento do baião como um autêntico gênero da música negra, para além dos outros adjetivos mais comuns relacionados a ele.

No norte do Paraná nasce um disco de música negra nordestina, inspirado pela busca do dono da obra pela sua própria negritude, num processo de reconhecimento enquanto artista e homem negro, sem que isso possa ser dissociado a partir desse ponto da longa carreira.

Os tempos também pareciam pedir um álbum leve, que pudesse transportar o ouvinte para uma atmosfera de romance e alegria. Foi no forró que o artista encontrou a trilha sonora perfeita, no encontro da dança, da música... “Nunca fui um frequentador de danças, mas fico vendo o povo dançar e fico admirado, acho tudo muito lindo. Os casais dançando, girando, acho muito lindo e foi assim que surgiu o título do projeto”, revela.

REENCONTRO COM O BAIÃO

Buscando nas memórias, ou nas gavetas, Tonho Costa reencontrou o baião em uma das suas primeiras composições que falava do sofrimento de uma pessoa que sai de sua terra de origem e vai tentar a vida na cidade grande. Depois, em Universo Quintal, disco de 2011, ‘O Banho’, um baião suave, malandro, que fala de um menino descobrindo coisas lindas da vida. “Em outras gavetas, encontrei outras composições que me levavam pro forró”, conta.

Tudo acontecendo enquanto Costa ia tomando consciência da própria negritude, em um processo de aprendizado que deixa as feridas expostas e faz sangrar o que parecia cicatrizado. Durante as pesquisas na internet, não encontrou nada sobre o baião como música negra. “Encontramos o coco, o maxixe, outras estruturas rítmicas que foram fundamentais para a formação da música brasileira, inclusive do samba e que aparecem na lista da música negra brasileira. O mesmo não acontece com os ritmos do forró, entre eles o baião, o xote, o xaxado. Como explicar?”, questiona e isso mesmo com Luiz Gonzaga, um homem negro como símbolo do forró.

“Um consagrado representante do povo nordestino. Mas realmente não encontrei algo de imediato, na superficialidade da pesquisa rápida que o tratasse como um representante da música negra”, diz. “É uma constatação e não uma reclamação. Isso me deixou muito à vontade de manifestar mais negritude no meu projeto e honro isso citando Jackson do Pandeiro em “Pode Sincopar”, outra faixa do disco”, completa. “É como se faltasse um lugar comum para o baião, o mesmo que encontramos numa pesquisa de música negra que imediatamente nos joga para os verbetes do samba, funk, hip hop, maracatu ou outras manifestações folclóricas, mas não no forró”, explica.

O processo todo levou à escolha cuidadosa dos músicos que acompanham Tonho Costa ao longo desse caminho. Escolher uma banda de pessoas negras foi marcante e de muito significado, essa formada por André Coudeiro na percussão, Miguel Santos no acordeon e Noel Carvalho na flauta. “Entendo isso como um movimento de muito amor. Minha negritude sempre foi convidada a ficar afastada de minhas ações. Fazer um movimento de escolha pelo talento, mas também pela representatividade me trouxe bastante alegria. Nos bastidores, a conversa sobre a negritude atinge um ponto de acolhimento, de força e beleza. O resultado final é um disco que se transborda não só no ritmo, mas também, nas emoções que vivi ao longo de todo o processo”, comenta Costa.

Tonho Costa: “Nunca fui um frequentador de danças, mas fico vendo o povo dançar e fico admirado, acho tudo muito lindo, foi assim que surgiu o título do projeto"
Tonho Costa: “Nunca fui um frequentador de danças, mas fico vendo o povo dançar e fico admirado, acho tudo muito lindo, foi assim que surgiu o título do projeto" | Foto: Fernando Augusto Mariano/ Divulgação

FAIXA A FAIXA

“Se eu Soubesse Dançar”, que dá nome ao disco, a dança é como um movimento que evoca liberdade em todos os sentidos. “Aqui, faço uma breve citação a grandes nomes da dança brasileira, ícones negros da dança como Vera Passos, Ingrid Silva, Augusto Omolu e Mercedes Baptista”, comenta Tonho Costa.

Em “Tu Me Ensina”, citações ao clássico do cancioneiro popular brasileiro “Mulher Rendeira” e mais a algumas palavras-chave da cultura, da sabedoria, da figura da mulher negra com toda a sua capacidade de ensinar, tecer, do contato com a natureza, a arte, o ritual do patuá e do Jogo de Búzios.

Na faixa “Dança na Chuva”, destaque para a presença da tumbadora, instrumento percussivo que não aparece no forró com tanta frequência e que traz uma sonoridade capaz de transformar a própria música.

Em “Pode Sincopar”, uma grande homenagem a Jackson do Pandeiro. A sincopa ou síncope existe enquanto uma questão cardíaca e também na música, quando uma célula musical tem o tempo mais fraco se estendo ao tempo mais forte de outra célula. Com muito humor, Tonho Costa brinca com o significado dessa informação e da palavra.

O mesmo humor encontramos em “Tapué Vazia”, que fala desse hábito tão nosso de levar um potinho para casa com espaço para receitas típicas da culinária de origem africana. “Assim Sem Nexo” transpira romance e vontade de estar junto de quem se gosta. “Não existe nada especificamente ligado à cultura africana. Ah, tem sim: o compositor! Ele é negro”, brinca Tonho Costa.

* Com assessoria de imprensa.

SERVIÇO

Lançamento: Quinta-feira (3)

Onde: plataformas digitais

https://tonhocosta.com.br/

FICHA TÉCNICA

Composições, voz, violão, contrabaixo e produção – Tonho Costa

Acordeon – Miguel Santos

Percussão – André Coudeiro

Flauta em Tapué Vazia – Noel Carvalho

Mixagem e Masterização – Edu Jardim - Estudio Bless

Arte – Sofia Costa e Laura Costa

Fotografia – Fernando Augusto Mariano

Patrocínio - PROMIC