Tio Virso: a história da arte nunca foi tão divertida

Na frente das câmeras ou em cima dos tablados, o mundo se desenha da forma que o Tio Virso quer: engraçado, dinâmico e com piadas e trocadilhos na ponta da língua. Um showman da arte e dos memes. Mas nos bastidores, a timidez é uma característica marcante. Vilson André Moreira Gonçalves - para os mais íntimos, o Tio Virso - é uma figura daquelas.

Aos 37 anos, nasceu e viveu a maior parte da vida em Ponta Grossa. Desde pequeno, aproveitava os momentos de solidão. “Eu sou muito introspectivo”. A TV e os gibis eram seus fiéis escudeiros. “Sempre tive um interesse por tudo que envolve criatividade”. Dos gibis aos filmes e séries, já questionava o motivo de uma obra de arte ser tão especial e única. Naquela época, as respostas ainda eram um emaranhado de ideias confusas.

Já no ensino médio, fez um curso para ser desenhista de gibi. Ele não quis seguir na área, mas foi a motivação que faltava para entrar na primeira turma do curso de Artes Visuais da Universidade Estadual de Ponta Grossa. Depois, mestrado e doutorado. “A partir daí, comecei a minha carreira como professor”. Da criança ao jovem, o desejo era fazer com que os olhos dos espectadores brilhassem com a magia da arte. “A arte é uma janela que permite que a gente se transporte por outros lugares, fornecendo uma visão das coisas que não poderia ser de outra forma”.

Como professor no Paraná, viveu o descaso da Educação: cortes e mais cortes. A situação financeira apertou, Tio Virso chegou a trabalhar em sete lugares diferentes. “Três períodos por dia e todos os dias da semana”. Mas o currículo que seguia nas aulas era o arroz com feijão de sempre.

Em 2019, enquanto preparava a mudança para Cuiabá, no Mato Grosso, já que a esposa tinha sido aprovada em um concurso público, a ideia de criar um canal de comunicação com as pessoas foi se desenvolvendo. É como uma aquarela que vai se espalhando por uma folha em branco. O "História da Arte com Tio Virso" tomou forma e espaço nas redes sociais. Hoje, são mais de 57 mil seguidores só no Instagram - @tiovirso

Ele conta que no começo não tinha muitas ambições com o projeto. “Eu queria falar de maneira mais dinâmica e simples. Instigar e trazer coisas diferentes, mas sem assustar ou afastar ninguém”. A união da educação com o entretenimento.

Com postagens simples, a página foi dando os primeiros passos. “Eu fui percebendo uma certa aversão das pessoas pelo textão e o gosto pelo meme”. Com isso, ele foi adotando uma linguagem mais memetizada, com frases curtas, humor e arte.

ARTE VIRA POST

Para decidir o que vai virar ou não um post, Tio Virso leva em conta três tópicos. O primeiro é dos interesses pessoais, que usa para falar de manifestações artísticas indianas, chinesas, peruanas… e de tudo e um pouco. “São meus gostos e que, ocasionalmente, consigo encantar as pessoas também”. Já nos assuntos de emergência, ele aborda temas atuais, desde Maurizio Cattelan e a banana colada na parede até as NFTs e as ativistas que jogaram sopa de tomate nos girassóis de Van Gogh. E ele também recebe sugestões dos apoiadores, que na maioria das vezes são dúvidas mais pessoais, como a dicotomia entre a arte e o artesanato.

Tio Virso leva de oito horas a um mês para preparar um post, dependendo do tipo de publicação. “Eu tenho preguiça dos temas que sei que todo mundo vai falar, então prefiro aqueles assuntos que sei que se eu não falar, ninguém vai”. Além da vontade de levar a arte do Oiapoque ao Chuí, as mensagens que recebe de pessoas dizendo que aprenderam a gostar de arte por causa da página dão o recado: o caminho é certo.

O Tio veio da forma com que a criançada chamava ele durante as aulas e o Virso é uma brincadeira com o nome Vilson. Que paranaense não gosta de enfiar um R em qualquer palavra? “Vilson não é um nome comum, mas é comum o suficiente para que alguém conheça algum por aí”. Seja um parente, um amigo ou o próprio Tio Virso.

Junto com a página, ministra aulas no curso de Publicidade em uma faculdade de Cuiabá. Hoje, sabe o motivo das obras serem tão especiais e únicas, já que contam a história de uma ou de várias pessoas de diversas formas e jeitos. Talvez a arte não siga padrões do que é bonito ou feio, do que é brega ou grotesco. A arte é a arte das milhões de interpretações.

Do futuro, ele aguarda dias cada vez melhores, com o ‘História da Arte com Tio Virso’ crescendo e tomando novos rumos. Mas garante que é preciso se inovar, porque tudo que envolve arte é um exercício de criatividade.