Um Shakespeare lisonjeado contemplaria as suas palavras - somos feitos da mesma matéria que compõe os sonhos - despertarem quem está só começando a sonhar, como os alunos do Colégio Estadual Jardim San Rafael, em Ibiporã.
Textos adaptados do dramaturgo estão ajudando os 23 alunos do grupo de teatro Verso e Reverso, criado há três anos a partir de um projeto desenvolvido na escola, a compreenderem que é possível sonhar em todos os lugares e todas as épocas.
''Ano que vem devo prestar vestibular e estou pensando em fazer Artes Cênicas. Além de encenar, o grupo de teatro da escola é importante para o convívio com os colegas'', afirma a estudante do segundo ano do ensino médio, Ana Paula de Almeida, 17 anos, que participa desde o começo do projeto.
O elenco é formado por estudantes de 12 a 17 anos. Três peças já foram encenadas para um público de mais de 2 mil pessoas.
Além de Shakespeare, peças de Maria Clara Machado foram apresentadas pelos estudantes com adaptação e direção da professora de Português Andréa Cristina Yrioda, com colaboração do professor de Artes Rafael Garcia.
''A gente procura mexer o mínimo possível nos textos. O mais importante da atividade é perceber a mudança nos alunos. Alguns se tornam mais responsáveis e passam a ter maior interesse pela leitura. Outros tinham notas baixas e melhoraram bastante por causa do teatro'' avalia Andréa.
No palco, a estudante Mônica Daiane Ramos Rosa, 16 anos, aluna do segundo ano do ensino médio, se transforma em Gata Borralheira, mas nos bastidores quem é princesa ou príncipe também é responsável pelos figurinos e confecção dos cenários.
''Nunca fiz teatro antes. O contato com a arte me ajudou a conhecer outras culturas. No começo ninguém acreditava na gente, mas isso começou a mudar'', afirma Mônica.
A diretora do colégio, Rosangela Ber, destaca que o teatro ajudou a resolver problemas de indisciplina, mudanças de comportamento comemoradas também pelos pais.
''A nossa escola é localizada no San Rafael, bairro a 8 quilômetros de distância do centro de Ibiporã. A maioria dos estudantes não tem acesso às artes. Percebemos que a atividade ajudou a reduzir a evasão escolar'', afirma Rosangela.
O estudante Alan Mendes, 16 anos, aluno da sétima série, conta que é um dos que preferiam trocar as aulas por qualquer outra coisa e que o teatro o ajudou a ter mais compromisso com a escola. Para ele, a arte teatral é mais do que uma atividade, revelando também a possibilidade de um futuro melhor.